Cepal: Temos muito o que aprender com Cuba na Celac
A secretária executiva da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal) assegurou, nesta quarta-feira (23), que Cuba tem muito o que ensinar aos países da região para combater as desigualdades e romper os círculos viciosos da pobreza.
Publicado 23/01/2013 18:50
Em entrevista exclusiva para a Prensa Latina, a secretária das Nações Unidas qualificou como muito positivo o fato de que a ilha assuma, no dia 28 de janeiro, a presidência da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), até o momento presidida pelo Chile, na primeira reunião do fórum regional, fundado em dezembro de 2011 em Caracas.
Anunciou que em fevereiro visitará o país caribenho, a fim de pôr à disposição do governo cubano em sua presidência da Celac toda a capacidade da Cepal.
"Queremos que Cuba, como presidência rotativa em 2013 e possivelmente início de 2014, saiba que conta com a Cepal para tudo o que precise, de estudos, de trabalho, de respaldo em todo sentido, para dar toda nossa experiência a este processo de integração", afirmou.
Na opinião de Bárcena, com a Celac se está conseguindo uma aspiração longamente demandada pela própria Cepal, e considera que hoje em dia, esse é um sonho que está se tornando realidade, daí que lhe interessa acompanhar a liderança da ilha.
A especialista das Nações Unidas recordou que durante o ano em que o Chile presidiu a Celac foi dado ênfase no tema dos investimentos econômicos, financeiros, importantes para o desenvolvimento.
E com "Cuba, vai permitir-nos abordar os temas do investimento social, de ver a importância da educação como a grande ponte para combater desigualdades e romper os círculos viciosos de pobreza", enfatizou, convencida de que a educação será um tema que vai ser abordado com muita força.
E relacionado a isso, estimou que outra temática à qual a ilha dará especial atenção na próxima etapa serão as experiências da América Latina e do Caribe para tentar tirar da pobreza mais de 57 milhões de pessoas e zelar pelo futuro destas.
"Ao sair da pobreza, como as sustentamos fora da pobreza? Isso só vai ser conseguido se formos capazes de transformar a estrutura produtiva", reflexionou.
A mexicana Alicia Bárcena recordou que Cuba é um dos países que está fazendo uma mudança estrutural profunda e, portanto, tem muito o que dizer sobre o que significa propiciar uma mudança estrutural do tamanho e da magnitude da que está levando adiante.
"Acho que o resto da região sabe pouco dos avanços de Cuba e dos problemas e desafios que enfrenta para fazer a mudança estrutural da produtividade, (…) de conseguir que os trabalhadores do Estado vão a áreas rentáveis, mas sem perder de vista que o horizonte segue sendo a igualdade e que isso não é negocial", destacou.
Segundo a máxima diretora da Cepal, a América Latina tem feito da igualdade um de seus principais paradigmas, portanto há muito que aprender de Cuba.
"Inclusive devo citar uma frase que me impactou muito, do presidente Raúl Castro, quando disse que em Cuba não estava sendo propiciado o igualitarismo, mas sim a igualdade. E isso me encanta, porque se trata de promover o mérito, mas sempre com base em uma cidadania que tem direitos, os quais são irrenunciáveis, que há um princípio último, ético, e esse é o princípio da igualdade", comentou.
Nesse sentido assinalou que ter a igualdade como horizonte, a mudança estrutural como caminho e a política como instrumento é algo que prepara a região para entrar nesse desafio.
"Cada país tem modelos diferentes e, portanto, há uma grande diversidade de estratégias de desenvolvimento, mas eu acho que há um intercâmbio muito positivo que deve ser acontecer para atingir níveis de igualdade como existem em Cuba, em educação, em saúde", acrescentou.
E por outro lado, sugeriu que quiçá a ilha também requer de experiências da região para melhorar seus índices de produtividade no campo, na cidade, na indústria. "Acho que estamos diante de um prospecto importantíssimo de relacionamento entre nós", disse.
Ao respeito, fez questão de não esquecer que a América Latina e o Caribe é uma região rica em matéria-prima, em pessoas, em conhecimento e, portanto, está certa em olhar para fora, mas é bom olhar também para dentro e ver que muito pode ser conseguido, para um pouco construir a própria resiliência social, econômica, financeira, de maneira regional.
Mais de 50 anos de bloqueio estadunidense contra Cuba
A secretária executiva da Cepal recordou que o organismo que dirige é um dos que envia relatórios à Assembleia Geral das Nações Unidas para que se entenda qual tem sido o impacto econômico e social do bloqueio contra Cuba e seu povo.
"Acreditamos que há necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro. E já são 20 anos de votos consecutivos da Assembleia Geral e esperamos que isto seja escutado plenamente, porque isso vai permitir a Cuba uma inserção total na economia mundial", exclamou.
Bárcena afirmou que essa política hostil ignora as noções de igualdade soberana dos Estados e de não intervenção e não ingerência.
"De por si, Cuba tem feito grandes avanços neste período, talvez e até em certa medida, incentivada pelo próprio bloqueio, o qual é injusto, porque é o povo quem tem pago pelas consequências", considerou.
O dano econômico ocasionado ao povo cubano pela aplicação do bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba até dezembro de 2011, considerando a depreciação do dólar frente ao valor do ouro no mercado internacional, ascende a 1,66 trilhão de dólares.
Objetivos da visita a Cuba
Além de pôr à disposição das autoridades cubanas a capacidade da Cepal na nova presidência pró témpore da Celac, em sua visita à ilha, Bárcena participará da celebração dos 50 anos de planejamento em Cuba, que coincidem com os 50 anos da criação do Instituto Latino-americano de Planejamento Econômico e Social (Ilpes).
"Em Cuba vamos lançar um processo importantíssimo agora em fevereiro, de consultas a todos os países e que vai culminar no Brasil em novembro de 2013", já que o gigante sul-americano ocupa a presidência do órgão regional do Conselho de Planejamento Regional (CPR).
Bárcena disse que em novembro de 2012 se reuniu com a ministra de Planejamento e Orçamento do Brasil, Miriam Belchior, e que foi acordado um processo que coincide com o que será lançado a partir de Cuba.
"Porque acreditamos que o planejamento está de volta, planificar é governar. Quem não planifica não governa. E, portanto, não é somente celebrar os 50 anos de Planejamento em Cuba, mas sim que recobremos o Planejamento na América Latina e no Caribe", expressou.
A campanha que se iniciará em Cuba continuará na Guatemala, Equador, México e outros países, até culminar no Brasil em novembro de 2013, com um relançamento do Ilpes, como um órgão de coesão, de acordo regional.
O projeto implica trocar experiências, lições e ver no futuro como se comporta o processo do planejamento, do ordenamento orçamental, do território.
"Hoje em dia, demonstrou-se que planificar tem muito a ver com ter uma visão estratégica de médio e longo prazo", manifestou Bárcena. A visita da secretária a Cuba também está dirigida a preparar a agenda bilateral com o organismo que dirige.
"A mim interessa acompanhar o processo de mudança de Cuba, nos parece que a Cepal é um organismo que tem a responsabilidade histórica de acompanhar Cuba neste processo tão importante de mudança, e precisamente estamos aí, a serviço de Cuba, para poder apoiar essa mudança estrutural tão complicada e tão importante que o país está vivendo", explicou.
É de seu interesse aproximar os vínculos com o Escritório Nacional de Estatísticas, com o qual a Cepal tem uma grande relação. "Para mim, repensar nossa relação bilateral Cepal-Cuba sempre é importantíssima e estamos aí para apoio a qualquer coisa que seja importante para Cuba neste ano", reiterou.
Além disso, expressou que seria importante fomentar a decisão da Cepal de propiciar a participação de especialistas cubanos nos seminários que habitualmente acontecem na sede deste organismo das Nações Unidas, em Santiago do Chile.
"Parece-nos sumamente importante que sempre tenhamos uma representação de Cuba em tudo o que a Cepal faz na região", concluiu.
Fonte: Prensa Latina