Israel realiza eleições marcadas por avanço da direita

Os israelenses comparecem às urnas nesta terça (22) para decidir quais serão os seus representantes legislativos por um período de até quatro anos. Da nova formação do 19º Knesset – o Parlamento israelense -, sairá o novo premiê do país e sua coalizão de apoio, que precisará obter mais da metade dos 120 assentos parlamentares. As pesquisas indicam o fortalecimento da direita e um cenário ainda mais difícil para as negociações de paz com palestinos.

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Mais de 5,5 milhões de israelenses foram convocados para depositarem seus votos no pleito geral. As últimas enquetes apontam como favorita a formação encabeçada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o Likud-Beiteinu.

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Apesar da liderança nas pesquisas, o partido de Netanyahu perdeu apoio durante a campanha para outros grupos direitistas e deve vencer com uma margem apertada. Um desempenho relativamente fraco nas urnas para Netanyahu o tornaria mais suscetível às demandas de seus parceiros de coalizão, pequenos partidos de extrema-direita e religiosos, nos quais seu governo já reacionário teria de se apoiar para sobreviver.

Os desafios que o país enfrenta hoje são muito diferentes dos abordados há quatro anos, quando Benjamin Netanyahu foi apontado como primeiro-ministro com o apoio dos partidos Yisrael Beitenu, Shas e Trabalhista.

Os temas principais da agenda de 2013 na política externa são as consequências da Primavera Árabe; a crescente insatisfação palestina diante da expansão de assentamentos e da impossibilidade de dialogar com Tel Aviv, além do apoio internacional que a causa palestina vem ganhando; e o acirramento das ameaças ao Irã. Já em relação a questões internas, o papel dos judeus ortodoxos na sociedade israelense e a crise econômica, que atingiu duramente o país, são os debates mais proeminentes.

"O mundo inteiro vai olhar para apenas uma coisa depois da eleição, se o partido do governo encolheu ou cresceu. Se crescermos, isso nos dará a força para enfrentar as pressões", disse Netanyahu ao jornal “Maariv” na sexta-feira (18), segundo a France Presse.

Ainda que as pesquisas tenham aumentado o número de entrevistados e diminuído a margem de erro, o resultado eleitoral permanece incerto. A taxa de 2% para qualquer partido adquirir assento no Knesset faz com que pequenas variações transformem o quadro previsto.

A legislação eleitoral israelense proíbe a publicação de pesquisas eleitorais nas vésperas do dia da votação. A última projeção foi divulgada na quinta-feira da semana passada (17/01) pelo jornal Haaretz e confirmou as tendências de outros levantamentos, com favoritismo de Netanyahu.

Alianças

Analistas israelenses indicam dois possíveis cenários de alianças depois das eleições, ambos com a permanência de Netanyahu na liderança e no cargo de primeiro-ministro. O Likud-Beiteinu pode escolher negociar a coalizão com o bloco de partidos da extrema-direita ou com os grupos de direita e centro-esquerda, como o Kadima, o Yesh Atid e até mesmo o Trabalhista.

De acordo com a média das pesquisas, compiladas pelo site israelense 972mag, os partidos ortodoxos e de direita devem obter 66 assentos. Uma aliança com este bloco já garantiria o cargo de primeiro-ministro a Netanyahu. Tal coalizão também implicaria em um governo marcado por políticas favoráveis à expansão dos assentamentos israelenses em territórios palestinos, na continuidade dos direitos exclusivos de judeus ortodoxos e na aplicação de políticas de austeridade para conter a crise econômica.

O crescimento de partidos identificados com a colonização dos territórios palestinos aumenta o pessimismo sobre as chances de que haja um acordo de paz a curto ou médio prazo. Pesquisas apontam que partido religioso nacionalista Habait Hayehudi (O Lar Judaico), que representa os colonos israelenses que vivem em assentamentos no território palestino da Cisjordânia, deve obter de 14 a 18 cadeiras.

O Lar Judaico defende a anexação de 60% dos territórios palestinos ocupados por Israel e se opõe à possibilidade de criação de um Estado Palestino.

Um governo amparado nessas forças de extrema-direita pode trazer muitas dificuldades ao premiê tanto em relação à comunidade internacional quanto à sociedade israelense. A política seguida por Netanyahu nos últimos anos, de continuar e intensificar a expansão de assentamentos, foi alvo de críticas de muitos governos, incluindo antigos aliados de Israel. Os Estados Unidos alertaram o premiê que ele está conduzindo o país ao isolamento internacional e pediram mais comprometimento com a paz.

Por outro lado, as medidas de austeridade levaram milhares de pessoas às ruas para protestar desde 2011. Muitos israelenses também se queixam dos privilégios dados aos judeus ortodoxos, que ganham fartos subsídios e não são obrigados a se alistar no serviço militar.

Na outra ponta, muitos apontam que Netanyahu pode buscar uma coalizão com partidos direitistas e do centro para fugir da impopularidade. Segundo análise de Noam Sheizaf, jornalista e editor do 972mag, o premiê deve buscar o apoio do Shas e do Habayit Hayehudi, totalizando cerca de 58 assentos, e em seguida, o dos centristas Kadima e Yesh Atid.

Com essa coalizão, Netanyahu conseguiria garantir cerca de 70 assentos do parlamento e um governo de posições políticas de centro-direita sem necessitar ceder às pressões dos grupos de extrema-direita.

O pleito

As urnas permanecerão abertas nos 10.235 centros de votação até as 22h locais (18h de Brasília), principalmente nas grandes cidades. Nas localidades com menos de 350 eleitores o horário será reduzido.

A Lei Fundamental israelense estabelece que o pleito legislativo é geral, direto, igualitário, secreto e territorial, sendo todo o país uma única circunscrição eleitoral.

Todo cidadão tem direito a voto a partir dos 18 anos, e um deputado pode ser eleito a partir dos 21. O dia da eleição é feriado no país, permitindo que todos que queiram depositem seus votos. O transporte público também não é cobrado no dia da eleição.

Dos 5.659.560 israelenses convocados, cerca de 800 mil são árabes (palestinos que ficaram em Israel após a criação do Estado, em 1948).

Trinta e quatro partidos concorrem ao pleito, mas só obterão representação na Knesset os que obtiverem pelo menos 2% dos votos válidos emitidos.

Após a apuração, o presidente do Estado, Shimon Peres, deverá manter consultas com os diferentes partidos e alocar a formação do Governo ao candidato em melhor posição para consolidar uma maioria de 61 deputados, missão que contará com prazo de 28 dias e possibilidade de ampliação de duas semanas.

A divulgação do resultado oficial das eleições será feita em 30 de janeiro, e o partido que conseguir formar uma coalizão poderá apresentar à Câmara o seu candidato ao cargo de primeiro-ministro em 14 de fevereiro.

Com agências