José Reinaldo: governo não deve ceder às pressões do rentismo
O anúncio do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), na noite desta quarta-feira (16), de manter a taxa de juros em 7,25% já era esperado, mas gera reações de sentidos opostos em diferentes setores do país.
Por José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho
Publicado 17/01/2013 11:22
O capital financeiro rentista tem aumentado nos últimos meses as pressões no sentido de adotar um caminho ortodoxo e conservador, segundo o figurino neoliberal, no combate à inflação.
Os rentistas consideram que não há mais espaço para a redução da taxa básica de juros, enquanto a inflação permanecer acima de 4,5% e o cenário internacional continuar incerto.
Partem do pressuposto de que há uma tendência inflacionária no país. Nada mais falso, já que a inflação em 2012 ficou dentro da meta do governo e até abaixo do índice de 2011.
Já os setores produtivos seguem apostando numa queda acentuada dos juros a fim de abrir caminho para o crescimento da economia.
Os trabalhadores e as forças políticas que têm por centro de sua orientação o crescimento da economia, a geração de empregos, o aumento da produção industrial, o desenvolvimento nacional deveriam num momento como este somar forças e aumentar a pressão para que o governo retome o caminho iniciado no segundo semestre de 2011 de redução da taxa de juros. Frear esse processo agora pode comprometer o desenvolvimento nacional com nefastas consequências sociais.
É necessário ter presente que em 2012 foi pífio o crescimento da economia. Esta tendência só se alterará se o governo der continuidade à diretriz de reduzir velozmente a taxa de juros. Este é o ponto de partida para reduzir a dívida pública, estimular o crescimento da indústria, aumentar o consumo e gerar empregos.
As pressões dos neoliberais para aumentar a taxa de juros são acompanhadas de críticas ao aumento da despesa pública. Os setores rentistas pregam uma política que já fracassou aqui no passado e agora fracassa em todo o mundo, de cortar o investimento e o gasto público, o que não é outra coisa senão retirar recursos que financiam o desenvolvimento e o atendimento das demandas sociais para alimentar o apetite voraz do capital financeiro.
Apesar de ao longo do ano de 2012, as taxas de juros terem caído, chegando aos mais baixos patamares desde o Plano Real, ainda estão entre as mais altas do mundo e continuam sendo uma expressão concentrada do poder real do capital financeiro e do rentismo, predominantes em larga escala na vida econômica nacional.
Tendo completado dois anos do seu mandato, o maior desafio imediato do governo da presidenta Dilma continua sendo fomentar o crescimento econômico do país depois de um crescimento baixo em 2011 (2,7%) e um resultado praticamente estagnado em 2012, quando o crescimento da economia ficou em torno de apenas 1%.
Se o governo ceder às pressões do rentismo e não encarar frontalmente a tarefa de derrubar os juros, não será possível fomentar o crescimento econômico, pois os juros estão ligados diretamente à capacidade de consumo da população.
A superação da estagnação econômica requer que o governo tome medidas audaciosas. Além de cobrar a continuidade da diminuição dos juros básicos e do chamado spread bancário (mantido em patamares estratosféricos), é necessário mudar a política fiscal, com uma expressiva redução do superávit primário de forma a liberar espaço para a ampliação dos gastos e investimentos públicos.
É preciso sempre reiterar: aumentar ou diminuir as taxas de juros e abandonar a política de superávit primário passaram a simbolizar um importante aspecto da luta de classes no país no atual momento.
Mas os problemas não se encerram aí. Os trabalhadores têm uma agenda de lutas por seus direitos que precisa ser ouvida pelo governo. E não se trata de uma agenda à margem de um Projeto nacional de Desenvolvimento nem contrário a este. O nosso argumento parte do pressuposto de que não haverá verdadeiro desenvolvimento nacional se os interesses dos trabalhadores não forem levados em consideração.
Queda acentuada dos juros, aumento dos investimentos, retomada do crescimento, oferta de empregos e atendimento das demandas dos trabalhadores são elementos importantes da agenda da luta social em 2013.
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