Após visita, Inácio analisa situação do Haiti e de Cuba
Uma comitiva da Comissão de Relações Exteriores e Defesa do Senado voltou ao Brasil nesta quinta (17), após viagem a Cuba e ao Haiti. Em entrevista ao Vermelho, o senador Inácio Arruda (PCdoB) – que integrou o grupo –, comparou a situação nos dois países. Se, no Haiti, constatou a completa ausência do Estado; em Cuba, ao contrário, viu que o governo toma para si a responsabilidade pelo desenvolvimento da ilha e pelo bem-estar dos cidadãos.
Publicado 17/01/2013 15:57
O grupo de parlamentares chegou ao Haiti na quarta-feira (16), com o objetivo de verificar o cenário no país e acompanhar a atuação das tropas brasileiras, que integram a missão de paz das Nações Unidas (Minustah), desde 2004 no local. A ideia era ver se a presença do Brasil tem levado resultados positivos para o país caribenho.
A comitiva reuniu-se com o representante da ONU no país, o comandante das tropas brasileiras e com o próprio presidente haitiano, Michel Martelly. Além disso, visitou o Parlamento e os abrigos em que ainda vivem as famílias que ficaram desalojadas após o terremoto de 2010.
"Tropas e dinheiro externo não resolvem problemas do Haiti"
De acordo com Inácio Arruda, o debate girou em torno da necessidade de ter não apenas tropas no Haiti, mas uma cooperação que ajude a resolver problemas básicos da população, a atrair investimentos e ativar a agricultura familiar e o empreendedorismo no país. O senador aponta, contudo, que a instabilidade interna e a falta de estrutura do Estado dificultam esse trabalho.
“O Haiti tem um potencial de produção que precisa ser ativado, porque só tropas e dinheiro externo não vão resolver os problemas. É preciso ter a ajuda externa, mas, no Haiti, as instituições são muito precárias. A estrutura do Estado é mínima. Tem também o conflito interno, muita disputa política e uma pequena elite tem impedido alguns avanços”, destaca.
Segundo Arruda, essa instabilidade tem sido um entrave à chegada de empresas e investimentos. Ele lamenta que todos os serviços tenham sido privatizados, e o resultado disso é um Estado fraco, que não teve condições de socorrer sua população diante do terremoto.
“O neoliberalismo destruiu a capacidade do Estado de responder às demandas da população. O Haiti é hoje um país em ruínas, que precisa se erguer com a força do seu povo”, disse. O senador conta que o Brasil é muito admirado pelos moradores e tem dado uma grande contribuição, mas “é preciso que os haitianos se ergam com suas próprias pernas”.
Classificando a situação haitiana como “trágica”, ele defende que o governo local possa reerguer suas estruturas para garantir, ao menos, o mínimo, como água tratada, energia, saneamento e saúde. “A ação neoliberal redundou em crise social e política, que foi agravada pelos desastres naturais.”
“A missão do Senado observa a atuação brasileira no Haiti, porque cada destinação de recursos e a decisão de manter ou não as tropas passam pelo Congresso. E acreditamos que é preciso encontrar uma maneira de contribuir de outras formas, atraindo investimentos, levando energia, saneamento”, diz.
De acordo com ele, há uma previsão de que até 2016 todas as tropas devem se retirar do país. Atualmente, está em discussão uma proposta, defendida pelo presidente, de reativar as Forças Armadas haitianas, que foram desarticuladas na gestão do ex-mandatário Jean Bertrand Aristide.
Inácio reporta que a medida é polêmica. A própria ONU avalia que seria necessário investir US$100 mil para recompor o Exército local e, na lista das Nações Unidas, a prioridade seria viabilizar o acesso do povo aos serviços básicos.
Ele lembra que o presidente tem pela frente uma árdua tarefa, já que não conta com maioria parlamentar. “Ele foi eleito após uma recontagem de votos promovida pela OEA, tem um parlamento adverso. Então são muitos problemas. É um povo muito castigado, há violência diária, não tem Estado para nada. A responsabilidade do presidente, uma figura muito carismática, um artista popular, é exatamente reconstruir essa capacidade do Estado de garantir as coisas mais básicas.”
Cuba e o enfraquecimento do bloqueio
No mesmo dia, a comitiva brasileira seguiu para Cuba, de onde retornou nesta quinta (17). Lá, os parlamentares se depararam com um cenário completamente oposto. “Não falta Estado. Há também muitas dificuldades, mas percebemos um florescimento, uma espécie de retomada em Cuba. A ilha está em um momento de dar uma passada mais larga. O país preparou, formou o seu povo, acabou com o analfabetismo, criou uma estrutura de educação, saúde, esporte e lazer. Então é um povo culto, que agora quer aumentar sua renda, melhorar seu trabalho, se desenvolver. O povo está preparado para isso”, analisa Inácio.
Para ele, o Brasil está percebendo isso, tem uma afinidade grande com a ilha e pretende participar desse momento. Um dos compromissos da comitiva no país foi justamente visitar as obras do Porto de Mariel, um investimento de US$ 800 milhões, com 85% de recursos do BNDES. Além disso, 50% das obras são tocadas pela brasileira Odebrecht.
“É o porto, a rodovia e a ferrovia, que vão permitir o escoamento da produção e a chegada de produtos à ilha. Cuba considera esse o maior empreendimento da ilha nos últimos cem anos. Vemos uma tentativa do governo de abrir caminhos para a geração de emprego e renda”, explica o senador.
De acordo com ele, O Brasil também investe na atividade agrícola de Cuba, de maneira a garantir a segurança alimentar, e há colaborações nas áreas de energia, medicina e biotecnologia, por exemplo. Segundo Inácio, uma das parcerias que deve acontecer é busca de uma vacina contra a dengue. Os dois países estão trabalhando nisso e há a intenção de casar as pesquisas.
Inácio revela que, embora pouco se divulgue, Cuba possui cinco prêmios Nobel nas áreas de biotecnologia e bioquímica, e o Brasil, por sua vez, tem grande conhecimento na produção de equipamentos médicos. O plano então é trocar experiências. “Falamos também de tratados para que os médicos formados em Cuba possam atuar no Brasil e convênios entre universidades.”
O parlamentar, que esteve na ilha há dois anos, diz que desta vez sentiu o impacto positivo das mudanças que o governo vem promovendo, de forma a atualizar seu modelo econômico. “Há muita esperança, uma grande aposta na criatividade popular, uma busca pelo espírito empreendedor das pessoas. E nisso nós temos muita experiência e oferecemos nossa contribuição”, relata.
Segundo o senador, em Cuba se discute política, compromissos para o mundo e também investimentos. “Cuba é importante do ponto de vista político e é estratégica, porque está no entroncamento da região e é uma rota de interesse. O que faltam são recursos. O salto cubano está sendo criar as condições para que o investimento chegue lá. E assim o bloqueio (imposto pelos Estados Unidos) vai perdendo força, já que outros países vão chegando lá.”
A delegação brasileira, liderada pelo vice-presidente do Senado, Aníbal Diniz (PT), foi recebida em Cuba pelo presidente da Assembleia Nacional do Poder Popular, Ricardo Alarcón. O cubano agradeceu o apoio dos parlamentares brasileiros a causas defendidas pela ilha, como o próprio fim do bloqueio e a reivindicação pela liberdade dos cinco antiterroristas condenados nos Estados Unidos. Além de Aníbal Diniz e Inácio Arruda, também participou do encontro Henrique Luis Silveira (PMDB).
Da Redação,
Joana Rozowykwiat