Implantação da Lei Maria da Penha é desafio, diz ministra

Até o final do governo da presidenta da República Dilma Rousseff, a Secretaria de Políticas para as Mulheres espera implantar com sucesso a Lei Maria da Penha em todo o país. Isso é o que disse na noite desta segunda-feira (14) a ministra Eleonora Menicucci, após participar de evento promovido pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo.

“Seria uma irresponsabilidade dar uma data, mas quero que, no término da gestão da presidenta Dilma, a Lei Maria da Penha esteja implantada em todos os municípios desse país. E, para isso, não estamos medindo esforços: estamos fazendo as repactuações dos pactos de enfrentamento que agora têm diretrizes nacionais e com cobranças, ou seja, se não implementou, não recebe o recurso”, disse a ministra.

Segundo ela, a implantação da Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência contra as mulheres e aumentou o rigor das punições das agressões contra a mulher quando ocorridas no âmbito doméstico ou familiar, é um grande desafio para o atual governo. “A implantação da Lei Maria da Penha implica na criação de uma rede forte de atendimento às mulheres. [Hoje] são apenas cinco casas-abrigo [para mulheres] na cidade de São Paulo. No mínimo [deveria] ter uma para cada subdistrito de prefeitura”, disse a ministra.

As dificuldades na implantação da lei, de acordo com a ministra, também envolvem melhor qualificação dos profissionais que vão atender às ocorrências de violência contra a mulher e uma mudança de mentalidade da sociedade que, segundo ela, já vem ocorrendo no país.

“Precisamos, no enfrentamento à violência, do treinamento de todos os profissionais da área de saúde e da segurança pública para atender às mulheres. Hoje não acho que se fale que a mulher provoque a violência. Houve uma mudança de mentalidade, tanto é que quando propusemos uma punição maior para agressores e estupradores, a sociedade aceitou”, disse. Outro desafio que o governo federal pretende enfrentar, disse a ministra, é fazer com que os equipamentos de saúde voltados para as mulheres estejam abertos todos os dias, durante 24 horas.

Sobre a violência contra as mulheres, a ministra disse é uma questão que ocorre em todo o mundo e citou dois casos recentes de estupro, o primeiro ocorrido dentro de um ônibus, na Índia. “Não é o fato de que é na Índia. Se pegarmos São Paulo, outro dia me deparei com a notícia de uma menina de 12 anos, confinada em uma casa no Morumbi para ser explorada sexualmente e ela fugiu. E ela estava toda machucada. Qual a diferença disso para [o que ocorreu na] a Índia?”, questionou a ministra.

Segundo Eleonora, o governo brasileiro tem manifestado sua solidariedade às famílias e às vítimas das violências ocorridas na Índia, mas não de maneira formal. “Não existe formalidade. A formalidade só existiria em um termo em torno de um sistema uno. E o sistema uno não se posicionou ainda, embora na fala do secretário-geral Ban Ki-moon [da Organização das Nações Unidas], ele tem prestado toda a solidariedade. Eu mesma e o governo federal temos prestado solidariedade às mulheres indianas e à família das vítimas."

São Paulo

Na tarde desta segunda (14), em São Paulo, a ministra participou de um evento promovido pela Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo e que propôs um primeiro diálogo da nova gestão com os movimentos sociais. A pasta, liderada por Denise Motta Dau, iniciou suas atividades apresentando sua estrutura e seus objetivos a mais de 150 pessoas que atuam com as questões de gênero, na sede da Prefeitura, na região central.

Lideranças femininas que participaram do evento propuseram algumas sugestões e ideias que devem ser trabalhadas no âmbito municipal com relação aos direitos e políticas públicas voltadas para as mulheres.

“Eu fui mais do que entusiasta. Fui a promotora da criação dessa secretaria. Não tenho a menor vergonha de dizer isso. Antes só tinha coordenadoria. E qual a diferença? Coordenadoria não tem recursos próprios, nem humanos, nem financeiros. E a secretaria tem recursos próprios e cargos. E discute de igual para igual com todos os secretários”, disse a ministra.

O prefeito de SP, Fernando Haddad, disse que as políticas públicas para o setor deverão ser realizadas por meio da articulação entre as diversas secretarias da administração municipal. “Há toda uma gama de políticas públicas que a nova secretaria vai acompanhar. O importante é mobilizar as secretarias que cuidam de direitos universais para este novo olhar.”

Durante o evento, Haddad reafirmou o objetivo de promover na cidade um ambiente de paz e de tolerância. “Nós não estamos aqui tratando só da violência contra a mulher. Esta questão normalmente preside os debates porque é intolerável. Mas há muitas coisas intoleráveis na nossa cidade que precisam mudar, como a ocupação dos espaços públicos. Teremos a preocupação de organizar o espaço público no sentido de atender a todos e a todas”, afirmou Haddad.

As políticas públicas para as mulheres passam por ações de segurança pública, como o reforço na iluminação das ruas, pelo aumento no número de vagas em creches, por investimentos na promoção da saúde da mulher e pela gestão de programas habitacionais, entre outras iniciativas. “A superação das desigualdades e a promoção da justiça social a partir da perspectiva de gênero será impulsionada a partir desta secretaria, que formulará, coordenará e executará políticas para as mulheres, em diálogo com as demais secretarias”, afirmou Denise Motta Dau, secretária municipal de Políticas para Mulheres.

Segundo a secretária, atualmente sua equipe trabalha na organização da nova pasta e no diagnóstico e aprimoramento dos equipamentos públicos ligados a ela. O trabalho será estruturado em três eixos: o enfrentamento de todas as formas de violência contra a mulher, a promoção da autonomia econômica e social das mulheres, com geração de renda e emprego, e a transversalidade, por meio da articulação de projetos com outras secretarias. Denise Dau apresentou também sua equipe, liderada pela secretária-adjunta, Juliana Borges, e pela chefa de gabinete, Claudia Lima.

A nova secretaria também pretende retomar a posição de pioneirismo da cidade na instituição de políticas de gênero, inspirando outras administrações municipais. “Temos o objetivo de estabelecer este espaço institucional para a mulher na maior Prefeitura do país. A criação desta secretaria marca a história da mulher em São Paulo”, afirmou a vice-prefeita Nádia Campeão.

Fonte: Agência Brasil e Prefeitura de São Paulo