Crônica brasileira: 100 anos de Rubem Braga
A crônica brasileira está em festa neste fim de semana, mas justamente o mais folião dos aniversariantes foi excluído das comemorações. Rubem Braga faria 100 anos neste sábado (12). Sérgio Porto, conhecido pelo pseudônimo Stanislaw Ponte Preta, teria completado 90 na última sexta-feira (11).
Publicado 12/01/2013 09:51
São dois dos maiores nomes da crônica nacional, mas suas efemérides ganham tratamentos bem diferentes.
Braga, homem ensimesmado e quieto, é tema de exposição e inúmeros livros. Enquanto para o extrovertido e falante Porto, até o fechamento desta edição, nada havia sido preparado ou anunciado para celebrar a data de ontem.
A trajetória dos dois cronistas tem muitos pontos em comum. Apresentados pelo jornalista Lúcio Rangel (1914-1979), tio de Porto e amigo de Braga, a dupla desenvolveu uma amizade a partir de algumas semelhanças: homens de imprensa, gostavam da boemia, dos bares e da companhia de mulheres bonitas.
Foi o carioca Porto quem deu ao capixaba, mas também carioca por afeição, o apelido de "sabiá da crônica", do qual ele não gostava. "Prefiro ser um urubu, ave maior e mais triste", dizia Braga. Foi ele quem teve participação direta na disseminação do pseudônimo do amigo: Stanislaw Ponte Preta.
As editoras dirigidas por Braga (e por Fernando Sabino), a Sabiá e a Editora do Autor, publicaram as coletâneas de crônicas de Ponte Preta, como os três volumes do célebre "Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País)". Reconhecido por trabalhar exaustivamente em jornais, rádio, TV, cinema e teatro, Sérgio Porto morreu de infarto em 1968, aos 45 anos.
Deixou uma obra literária bem menos vasta e influente do que a de Braga, morto em 1990, aos 77 anos, após 62 anos de jornalismo e mais de 15 mil crônicas escritas.
Homenagem
Angela, uma das três filhas de Porto, diz que a família vai renegociar neste ano a publicação de seus textos, cuja edição mais recente foi pela Agir. "Tem coisas que a gente tinha previsto e que não aconteceram, como a versão fac-similar de 'A Carapuça', que é um jornal que ele fez e que teve nove edições", diz.
As homenagens a Braga começam em seu Estado natal. Vitória (Espírito Santo) inaugura para o público no dia 29 a exposição "Rubem Braga – O Fazendeiro do Ar", que reúne textos, correspondências, fotografias, objetos e publicações.
A mostra é dividida em módulos temáticos que perpassam a trajetória de vida e obra do cronista. "Vai ser muito interativa, muito lúdica. Nosso foco são os estudantes, a formação de leitores", conta o curador e jornalista Joaquim Ferreira dos Santos.
O módulo sobre o jornalismo vai reproduzir as salas de Redações dos anos 1940 e 1950, mas terá iPads acoplados às antigas máquinas de escrever para que o público leia textos de Braga.
No espaço Guerra, dedicado à atuação do cronista como correspondente do "Diário Carioca" na Itália, em 1944, será possível ouvir músicas, jingles e notícias da época do conflito.
Depois de Vitória, a exposição deve seguir para São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Datas e locais ainda não foram definidos.
Pela editora Global, o pesquisador André Seffrin vai lançar "A Poesia É Necessária", que reproduz a coluna semanal homônima que Braga manteve na revista "Manchete" (de 1953 a 1956) e "Revista Nacional" (de 1976 a 1990).
Nessas páginas, ele publicou poetas de diversas épocas e tendências. Seffrin selecionou cerca de 160 deles, como Mário de Andrade, Jorge de Lima e Murilo Mendes.
Vários poemas trazem comentários de Braga. "Ele nunca exerceu a crítica literária. Prepondera sempre a visão do cronista, por vezes lírico e não poucas vezes irônico", diz Seffrin.
Fonte:Jornal Folha de S. Paulo