Crise na Europa: recessão e mais dívida
O Instituto de Macroeconomia e Estudos Conjunturais, próximo dos sindicatos alemães, apresentou, na última segunda-feira (7), estudo em que defende uma alteração de políticas para enfrentar a crise.
Publicado 12/01/2013 13:51
A política de austeridade a todo o custo, imposta pela Alemanha aos países europeus, fracassou. A prova é que “os governos europeus estão há dois anos a tentar sair da crise através da poupança, mas isso não tem funcionado. Pelo contrário, cada vez mais países caem na recessão, o que leva a um aumento da dívida”.
Esta constatação simples da realidade foi feita por Gustav Horn, diretor do Instituto de Macroeconomia e Estudos Conjunturais, para quem o “fracasso” da estratégia de austeridade se deve a que muitos economistas e praticamente todos os especialistas da União Europeia subestimaram o efeito negativo dos cortes no orçamento sobre a economia.
Horn lembrou que na Europa a posição oficial partia do pressuposto de que por cada euro cortado, o Produto Interno Bruto (PIB) baixava 50 centavos.
Porém, os números reais apurados em recentes estudos do próprio FMI mostram que o corte de um euro tem um reflexo idêntico ou superior sobre o PIB, e no caso de economias já em recessão o efeito pode ser mesmo de um para dois.
Logicamente que estes cortes provocam um agravamento da situação econômica, arrastando uma queda no recolhimento de impostos, o que por sua vez faz com que a dívida pública, ao contrário de baixar, aumente.
De acordo com o estudo, os cortes no orçamento só poderão traduzir-se numa redução da dívida se o seu efeito não superar, em caso algum, a relação de um para 0,9 euro, sendo que nos países em crise o limite deveria ser mais baixo.
Deste modo, como assinalou Horn, “neste momento, é provável que a dívida pública continue a aumentar em consequência das medidas de consolidação”. “O fato de os duros cortes nos países em crise não terem tido êxito, não significa que a consolidação não tenha sido suficientemente rigorosa. Tal é a consequência da austeridade que vai contra os seus próprios objetivos.”
Por isso o estudo recomenda a moderação dos cortes, uma flexibilização do calendário para alcançar as metas de consolidação, um menor recurso a cortes orçamentários e uma maior subida de impostos no escalão superior de rendimentos e patrimônio.
Horn recomendou que os países com mais possibilidades, nomeadamente a Alemanha, criem estímulos fiscais ao crescimento, manifestando-se favorável à criação de um Fundo de Amortização da Dívida, garantido por todos os estados da zona euro.
Erros ou interesses?
Entretanto, questionado sobre se as mudanças na política econômica preconizadas pelo Instituto de Macroeconomia e Estudos Conjunturais não implicavam igualmente uma mudança de governo, já que é improvável que a Alemanha de Merkel mude de posição no que toca à austeridade, Horn admitiu-o tacitamente: “A nossa tarefa não é sugerir uma mudança de governo mas sim propor uma política econômica sensata”.
A pergunta e a resposta sugerem claramente que as atuais políticas nefastas para a maioria da população não resultam de um mero erro de cálculo nem de falta de sensatez, mas antes correspondem aos interesses econômicos politicamente dominantes na União Europeia.
Assim se explica a insistência nas atuais receitas, apesar de os seus próprios criadores reconhecerem que se enganaram.
É o caso do Fundo Monetário Internacional que, na semana passada, também veio dar a mão à palmatória, admitindo que as suas previsões estavam erradas.
Desta vez foi o próprio economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard, a assinar um estudo no qual se conclui que os multiplicadores orçamentários usados nas previsões sobre o impacto das medidas de austeridade não estavam corretos.
“Foram subestimados significativamente o aumento do desemprego e a queda do consumo privado e do investimento decorrentes da consolidação orçamentária”.
Num comentário à agência EFE, Blanchard admitiu a necessidade de fazer alterações na forma como se avalia a necessidade da austeridade nas economias desenvolvidas como as europeias, onde as medidas de consolidação (cortes orçamentários e subida de impostos) não deram os resultados esperados.
Fonte: Avante!