Orlando Silva: Espero que as pessoas venham à Câmara o tempo todo
Com a nomeação de Netinho de Paula como Secretário de Promoção da Igualdade Racial no governo de Fernando Haddad, o ex-ministro dos Esportes, Orlando Silva, primeiro suplente da chapa comunista, assumiu como vereador na Câmara Municipal de São Paulo.
Por Ana Flávia Marx*, para o Portal Vermelho
Publicado 10/01/2013 15:42
Orlando, que obteve mais de 20 mil votos na última eleição, disse em entrevista ao Portal Vermelho que irá se debruçar para encontrar soluções na conciliação do esporte e educação em suas proposições, além de ajudar a Câmara na fiscalização e acompanhamento da aplicação dos recursos da Copa do Mundo de 2014.
Pai de dois filhos, Maria e Pedro, o baiano de 41 anos, afirmou que está com boas expectativas e muita disposição para construir um mandato com participação coletiva. “Espero que as pessoas venham à Câmara o tempo todo, protestem, deixem suas sugestões”, estimula o novo vereador.
Confira a entrevista completa de Orlando Silva
Portal Vermelho: Após dez anos, o campo progressista volta ao poder da maior cidade do país com Fernando Haddad. Qual é a importância dessa vitória?
Orlando Silva: São Paulo vive um momento de muita expectativa, com a possibilidade de um projeto de transformação social levado pelo prefeito Fernando Haddad, pelos vereadores eleitos do campo popular e, principalmente, pelo sentimento da população que sinalizou a favor de um novo modelo de cidade, mais inclusiva, mais coletiva, mais humana. O processo eleitoral deixou muito claro que o projeto do prefeito Haddad, construído com o PCdoB e os demais partidos da base da presidenta Dilma, era o mais sintonizado com os desejos dos paulistanos. A cidade de São Paulo, sendo um universo do Brasil como é, reunindo gente de todos os tipos e lugares, com tanta diversidade e ao mesmo tempo tantos contrastes, desigualdades, tantos desafios, não pode ficar alheia ao processo de transformação iniciado pelo governo Lula e que está alterando os rumos da história nacional nos últimos 10 anos. A vitória do prefeito Haddad é uma demonstração clara de aprovação dessa forma de governo, que inclui todos, mas com atenção especial aos mais pobres, que distribui renda e preocupa-se com o desenvolvimento humano, que contempla as mulheres, os negros, a população LGBT, que prioriza a juventude, que investe em esporte e educação para gerar oportunidades no centro ou nas periferias, que vai agora permitir uma verdadeira metamorfose positiva na maior capital do país.
Novas lideranças políticas foram eleitas e também passaram a ocupar lugar central no cenário brasileiro e outras lideranças, como por exemplo, o senador José Sarney, anuncia a sua aposentadoria. Há uma aceleração quanto à renovação dos políticos brasileiros? Qual é a sua opinião?
Acredito que exista hoje no país uma relação muito mais qualificada da população com a política, há muito mais informação, mais fontes de notícias e acompanhamento das ações do poder público, a própria internet, os blogs, e tudo isso reflete-se no processo eleitoral. O eleitor está mais exigente e em busca de novas lideranças políticas que saibam justificar seus mandatos, ser coerentes com as suas idéias e projetos. Dessa forma, é possível estarmos vivendo uma alteração no perfil dos cargos eletivos. No entanto, acho muito difícil ainda falar em renovação do quadro político. Isso porque a renovação que nós queremos para a política brasileira é a própria renovação da sociedade e das suas estruturas seculares de desigualdade e exclusão. Quantas mulheres tivemos eleitas a mais em 2012? Quantos negros e negras participaram a mais dos pleitos e foram escolhidos em 2012? Infelizmente o resultado eleitoral ainda está muitíssimo longe de refletir a real configuração da nossa sociedade, o poder ainda está concentrado, principalmente, entre aqueles poucos que sempre o tiveram. É isso que precisa ser renovado. Ainda temos muito pela frente, mas vamos chegar porque sabemos que escolhemos o caminho certo.
Como foi realizar uma campanha em meio a tantos ataques da mídia e de outros setores?
Na verdade o foco da nossa campanha nunca foi considerar ou preocupar-se com qualquer tipo de ataque, porque desenvolvemos um projeto muito amplo para a cidade, gastamos todas as nossas energias conversando com a população, visitando cada bairro, cada favela, em reuniões com trabalhadores, estudantes, donas de casa, ouvindo seus problemas e apresentando as nossas propostas. Não me lembro de nenhum tipo de ofensa ou ataque ter atrapalhado um centímetro da nossa campanha. Até porque os questionamentos que foram feitos a mim publicamente no ano de 2011, a partir das declarações de um bandido condenado pela justiça, foram respondidas pela Comissão de Ética da Presidência da República com a absolvição total e arquivamento do caso por falta de provas. Isso aconteceu no último mês de junho, antes ainda do processo eleitoral. Portanto, as únicas lembranças que tenho da campanha foram de muito trabalho, da construção de um programa de esporte e educação para a juventude paulistana, dos encontros com associações de moradores, com a área da cultura, foi uma campanha de muito diálogo e com muitos apoios, porque escolhemos o caminho da coletividade, e não da individualidade.
Tem alguém (ou setores) que quer vê-lo fora da política? Por quê?
Seria muito arrogante de minha parte afirmar que a minha pessoa seria, por si, causadora de incômodos a alguns setores. O que posso afirmar é que o projeto político que orgulhosamente ajudei a construir com o presidente Lula enquanto ministro do Esporte, um projeto de inclusão e transformação social que mexeu nas bases de configuração da sociedade, que devolveu o otimismo à população, especialmente a mais pobre, que promoveu o Brasil internacionalmente com a conquista da Copa e das Olimpíadas para o nosso país, desagradou e continua desagradando a alguns setores isolados. Será assim também agora na cidade de São Paulo. Alguns poucos estarão incomodados porque a nossa prefeitura, com o prefeito Haddad e a vice-prefeita Nádia Campeão, irá fazer a opção pelos pobres, pela população negra e das periferias, pela juventude, a opção pelo futuro. Porém, ao que tudo indica, o coro dos descontentes com as mudanças do Brasil está cada vez menos audível.
Que características terá o seu mandato? Em quais áreas pretende atuar?
Nosso compromisso é com um mandato participativo, com consultas recorrentes às nossas bases, às populações que nos apoiaram. Nosso eixo principal será vincular as áreas do esporte e da educação na cidade com um objetivo comum de desenvolvimento humano dos mais jovens e com menos oportunidades. Enquanto fui ministro do Esporte e o prefeito Haddad ministro da Educação, tivemos a chance de promover essa cooperação nacionalmente no programa Segundo Tempo. Meu mandato perseguirá iniciativas nesse sentido de acordo com a realidade das escolas e do esporte em São Paulo. Na área da educação, precisamos ainda valorizar a educação infantil, ter mais creches, unificar a CEI com a EMEI (creche e pré-escola), alcançar o ensino integral com conteúdo diversificado, cultura, lazer e cidadania para os jovens no ambiente escolar. Na área da diversidade, vamos agir para que a Câmara Municipal atue em proteção à mulher, no combate ao racismo e à homofobia, na defesa da liberdade religiosa, seja nas igrejas ou nos terreiros. Quero dar atenção especial também à área da cultura, ao desenvolvimento das manifestações populares como o samba, o hip-hop, o teatro de rua, os cineclubes e o cinema independente. São Paulo precisa de muito mais do que uma Virada, precisa de política cultural durante o ano todo. Também estaremos sintonizados com o prefeito Haddad nas propostas de melhoria dos problemas urgentes da cidade como a mobilidade urbana, a saúde, a moradia e o meio ambiente.
Como você tem experiência na área esportiva acumulada no Ministério do Esporte e São Paulo é uma das cidades sedes da Copa de 2014, como pretende contribuir nessa área?
Primeiramente é importante ressaltar que, quando nós vislumbramos a realização da Copa do Mundo no Brasil, nosso maior interesse foi o legado social que poderia resultar dos jogos e a geração de emprego , principalmente em uma metrópole tão necessitada como São Paulo. São Paulo será a cidade da abertura da copa, o que significa dizer que ela vai ocupar o lugar de maior destaque, todos os olhos e toda a atenção estará voltada para nós. É papel da Câmara Municipal fiscalizar e acompanhar a aplicação dos recursos da Copa na cidade e eu espero me dedicar fortemente a isso durante o mandato. Porém, para além da agenda que envolve a Copa da Mundo, o impacto desse evento e o esporte de alto rendimento, nós pensamos o esporte na cidade de São Paulo em uma perspectiva muito maior. Meu objetivo é a criação de um fundo municipal específico para investimento esportivo, construção e reforma de quadras, campos de futebol comunitários, garantir a diversidade de modalidades para incentivar as práticas esportivas entre a população, valorizar os profissionais da Educação Física, criar projetos para a terceira idade, pensar o esporte também como instrumento de cidadania e de qualidade de vida na nossa cidade.
A Câmara Municipal de São Paulo sofreu muitos ataques durante o último processo eleitoral, como a crítica ao alto número de projetos de lei para mudar nomes de ruas. Em sua opinião, qual é o papel que a Câmara deve jogar nesse novo momento político da cidade?
Não há nada de errado se a Câmara Municipal, eventualmente, discutir questões como o nome das ruas. Até porque no Brasil, infelizmente, às vezes os torturadores do regime militar são mais representados em nomes de ruas do que heróis como Zumbi dos Palmares. No entanto, acho que a insatisfação da população não é com o que a Câmara está fazendo e sim com o que deixa de fazer. O papel da Câmara deve ser o debate sobre as grandes questões da cidade. São Paulo é maior do que muitos países do mundo e deve ter um corpo de vereadores pronto para dar conta dessa responsabilidade. Nesse momento político que se inicia, esperamos que as transformações da cidade, principalmente na área social, passem pela Câmara Municipal e que ela esteja totalmente ocupada pela população. Eu espero que as pessoas venham à Câmara o tempo todo, protestem, deixem suas sugestões, pressionem o legislativo e reconheçam o seu trabalho quando for bem feito. Enquanto vereador, defenderei sempre a Câmara aberta, um instrumento verdadeiramente público da cidade de São Paulo.
Você já tem alguma ideia de qual será o seu primeiro projeto de lei proposto?
Essa não é uma decisão somente minha pois, na perspectiva de construção coletiva do projeto político do prefeito Fernando Haddad, posso contribuir também apresentando diversos projetos que não sejam somente meus e que sejam do interesse da cidade. Porém, a partir da minha experiência de campanha, dos debates e conclusões que chegamos, penso que um primeiro projeto importante seria a aprovação de um PL que autorize a criação de um fundo municipal de esporte para a cidade de São Paulo.
Em que comissões você pretende atuar?
Mais uma vez, quero estar à disposição do meu partido, do prefeito Haddad e da vice-prefeita Nádia Campeão para dar a minha contribuição em qualquer comissão em que eu for necessário. Tenho, no entanto, uma simpatia natural em participar da Comissão de Educação, Cultura e Esportes e da Comissão Extraordinária Permanente de Direitos Humanos, Cidadania, Segurança Pública e Relações Internacionais.
*Ana Flávia Marx é jornalista, membro da direção municipal do PCdoB e mestranda da Universidade de São Paulo