Valter Pomar: revolução bolivariana não se resume a uma pessoa
Em entrevista concedida ao Portal Terra, o dirigente nacional do PT e secretário executivo do Foro de São Paulo, Valter Pomar, avalia o atual cenário na Venezuela e é veemente ao afirmar que as relações do país com o Brasil não devem mudar e que o esperado é que Chávez se restabeleça, assuma e cumpra o mandato para o qual foi eleito, mas pontua: “a chamada revolução bolivariana é um processo político-social muito consistente, que não depende nem se resume a uma pessoa”, sintetiza.
Publicado 08/01/2013 17:14
Acompanhe a íntegra da entrevista concedida por e-mail ao site:
Portal Terra: Como o PT está acompanhando a doença do presidente venezuelano, Hugo Chavez?
Valter Pomar: O presidente Hugo Chávez é um aliado do Brasil, do governo Dilma e do PT. Além disso, é amigo pessoal de várias pessoas da esquerda brasileira. Acho que isto responde a tua pergunta.
Portal Terra: As lideranças do partido recebem, de alguma maneira, notícias periódicas sobre a saúde de Chávez? Se sim, quais lideranças estão mais próximas do assunto e de onde chegam essas notícias?
Valter Pomar: Acompanhamos através de vários canais: grande imprensa, blogosfera, embaixadas, governos, contatos partidários e pessoais. As fontes e os contatos são múltiplos, aqui e lá.
Portal Terra: Há algum tipo de temor por parte do partido ou do governo brasileiro quanto à quebra institucional na Venezuela? Esse temor viria de uma divisão entre os chavistas ou de uma tentativa de golpe da oposição?
Valter Pomar: Não há temor algum. O governo venezuelano, o Polo Patriótico e o PSUV estão unidos, em torno das orientações recebidas de Chávez antes de ir para Cuba. E a oposição está dividida, com um setor importante consciente de que a chamada revolução bolivariana é um processo político-social muito consistente, que não depende nem se resume a uma pessoa, por mais importante que seja. Motivo pelo qual acho difícil que eles embarquem numa aventura. Claro que sempre haverá uma minoria tresloucada e provocadora, mas isto está precificado.
Portal Terra: Qual é a melhor solução para a Venezuela num momento em que o dia da posse se aproxima e o presidente eleito parece não ter condições de saúde para assumir o cargo?
Valter Pomar: A melhor solução está prevista na Constituição e será adotada pela Assembleia Nacional venezuelana.
Portal Terra: Qual seria o impacto, na visão do PT e em relação ao Brasil, de uma Venezuela sem Hugo Chávez?
Valter Pomar: No curto prazo, esperamos que Chávez se reestabeleça e esta situação não ocorra pelos próximos 20 ou 30 anos, pelo menos. No médio e longo prazo, isto obviamente vai ocorrer. E em nossa opinião, o que deve ser considerado é a solidez econômica, social, institucional e cultural das mudanças que vêm sendo implementadas desde 1998. Em nossa opinião, são mudanças sólidas o suficiente para prever que as relações estratégicas entre Brasil e Venezuela continuarão muito intensas, no mesmo rumo atual.
Portal Terra: O PT avalia que haverá algum problema durante a transição de governo caso Chávez não se recupere para presidir o país? Se sim, que tipo de problema? Se não, por que será uma transição tranquila?
Valter Pomar: Como disse, nosso desejo, torcida e esperança é que Chávez se reestabeleça e cumpra seu mandato. Caso isto não ocorra, não esperamos nenhum tipo de problema. As instituições e a democracia são fortes na Venezuela, o PSUV e seus aliados são hegemônicos, os setores aventureiros e provocadores da oposição parecem minoritários.
Portal Terra: O vice-presidente, Nicolás Maduro, tem mantido contato com o governo dos Estados Unidos. É possível que haja maior aproximação entre Venezuela e EUA num futuro pós-Chávez?
Valter Pomar: Não tenho informação sobre contatos recentes entre os governos da Venezuela e dos Estados Unidos. O que lembro é que Hugo Chávez disse, na campanha eleitoral presidencial, que se fosse eleitor nos EUA votaria em Obama. Portanto, é óbvio que da parte da Venezuela há disposição para uma aproximação. Quem não parece querer manter uma relação normal é o governo dos EUA. Os gringos é que precisam decidir se vão normalizar ou não as relações com a Venezuela.
Portal Terra: O Mercosul, que incorporou oficialmente a Venezuela em 2012, pode ser afetado de alguma forma com uma mudança na presidência venezuelana?
Valter Pomar: A integração da Venezuela ao Mercosul é uma decisão de Estado, não de governo. Logo, independe de quem governe o país.
Da Redação do Vermelho