Aldeia Kaiowá Guarani organiza acampamento de resistência
Durante o ano de 2012 a situação vivenciada pelo povo Kaiowá Guarani, no Mato Grosso do Sul, ganhou maior repercussão após divulgação de carta na qual os Kaiowá Guarani afirmavam cometer suicídio coletivo caso a ordem de despejo da Aldeia Puelyto Kue fosse concretizada
Publicado 04/01/2013 12:09
O desencontro de informações – gerada em grande medida pela postura oficial assumida pela Funai ao negar resolução aprovada no principal conselho Guarani Kaiowá, o Aty Guasu – deu a tônica nos debates que se seguiram, revelando o desconhecimento da maioria da população em relação a opressão sofrida por este povo na luta pela demarcação de seus territórios tradicionais.
A repercussão do fato ampliou o número de pessoas que passaram a se solidarizar com a causa do povo Kaiowá Guarani, nacional e internacionalmente. Apenas no Brasil, mais de 50 atos foram realizados em diversas cidades do país, o que não significou, propriamente, uma mudança na qualidade de vida deste povo, que segue oprimido pelo agronegócio e pelo próprio Estado. Por este motivo, foi formado o Comitê Internacional de Solidariedade ao Povo Kaiowá Guarani. O Tribunal Popular, que também compõe o Comitê, dentre outras ações, organizou um acampamento de observadores na Aldeia Taquara, localizada no município de Juti, e a segunda “Expedição Marco Veron” – que leva o nome do cacique assassinado em 2003 – que seguirá durante todo o mês de janeiro de 2013, levantando dados referentes à situação em que se encontra o povo Kaiowá Guarani.
O objetivo do acampamento de observadores, iniciado em dezembro, é coibir a violência praticada por milícia chamada Sepriva Segurança, organizada por policiais da DOF (Departamento de Operações de Fronteira) e pela FAMASUL (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul) a mando do fazendeiro Jacinto Honório Silva Filho. Conforme Ernesto Veron, filho do cacique Marco Veron e representante da liderança Guarani Kaiowa na Taquara, “é importante que os observadores estejam aqui para ver com seus próprios olhos as dificuldades e ameaças: A dificuldade da oca (casa ritual), alimentação, saúde e, sobretudo, com a justiça – que não se importa muito com a gente. É importante que levem todas estas dificuldades na memória para que eles possam levar para a justiça e demais autoridades o nosso sofrimento na Aldeia Taquara.”
Neste curto espaço de tempo foi notado tentativas de intimidar o povo Guarani Kaiowa, como a presença constante de carros que passam pela aldeia ameaçando e ofendendo a população, inclusive as crianças.
A opressão se intensificou na região com a expansão das fronteiras agrícolas, no contexto de reconfiguração do agronegócio no final da década de 1970.
As terras da aldeia Taquara já foram reconhecidas, porém a população aguarda há 13 anos pela homologação. O processo de demarcação, iniciado em 2000, foi interrompido em 2010 após decisão do ministro da Justiça, Paulo Barreto, que suspendeu a portaria que declarava a Terra Indígena Taquara como tradicionalmente indígena, o que significa na prática, a posse permanente da área aos Guarani Kaiowá.
A área reconhecida pela Funai apresenta um total de 9.700 ha. Segundo as lideranças locais, destes 9.700 ha, 4300 ha foram invadidos pela monocultura da soja e pelo menos 4.700 ha por pastagens destinadas à produção pecuária. Na conta final, aos Guarani Kaiowá restaram 90 ha.
Neste contexto de violência generalizada e desrespeito aos direitos do povo Guarani Kaiowá, tanto o acampamento quanto a expedição se colocam como mais uma forma de resistência. E neste espaço, divulgaremos boletins direto da aldeia Taquara com as informações observadas.
Fonte: Comitê Internacional de Solidariedade ao Povo Guarani Kaiowá