A outra tese do mensalão e o julgamento de exceção
Desde 2006, a grande mídia conservadora tem disparado que nunca antes na história desse país observamos um esquema como o do chamado “mensalão” (Ação Penal 470), considerado por esta mesma mídia como o “maior escândalo político da história da República”.
Por Joanne Mota*
Publicado 29/12/2012 23:45
Em ‘A Outra Tese do Mensalão’, de autoria de Antônio Carlos Queiroz, Lia Imanishi Rodrigues e Raimundo Rodrigues Pereira, apresenta aos leitores uma revisão do chamado escândalo do mensalão. Ao longo de suas 159 páginas, divididas em quatro artigos, os autores apontam, com fortes depoimentos, como o chamado mensalão foi construído pela mídia e está sendo sacramentado no Supremo Tribunal Federal (STF), no que é chamado de julgamento de exceção.
Com entrevistas realizadas com os principais personagens do caso, o livro esmiúça os pormenores da Ação Penal 470 e demonstra com o então presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson – criador da marca mensalão – articulou suas duas espetaculares entrevistas, em 2005, denotaram todo o esquema. O livro também mostra como, inicialmente, Jefferson tentou incriminar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas subitamente muda de ideia e transfere toda a sua fúria para José Dirceu.
Em um dos artigos publicados na obra também observamos como o contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos (Carlinhos Cachoeira) – preso, no início deste ano, durante a Operação Monte Carlo da Polícia Federal – está ligado ao escândalo seja pela gravação dos vídeos que deram origem às investigações, seja pelo envolvimento do contraventor no esquema de publicações que mantinha com o editor da sucursal da revista “Veja” em Brasília.
O ponto-chave do livro é mostrar como a grande mídia conservadora se impõe no debate e pressiona o Supremo Tribunal Federal a deixar de lado o que consta nos autos e ir além dos delitos cometidos. Como os autores bem colocam, “procura-se impor a tese de que foi a compra de votos o que ocorreu e não o delito de caixa dois, mais do que comprovado e confessado pelos réus”. Ao longo do texto, fica claro que os personagens que compõe esse enredo esquecem que “a verdade mora num poço e não é fácil de achá-la”, e neste caso as verdades são construídas a partir de uma corrente única, com partido, ideologia e projeto de nação.
Até a última página do livro, os autores expressam que o sentido do espetáculo, que custou a publicização de 53 sessões do julgamento da Ação Penal 470, é claramente político. Nesse sentido, mais do que nunca é preciso garantir os princípios do Estado Democrático de Direito, e fazer valer um julgamento justo baseado em provas, e não um julgamento de exceção. Por fim, em tempos de discussão pela reforma política e por transparência, nunca foi tão atual pensar e lutar por financiamento público de campanha.
*Joanne Mota é jornalista e pós-graduanda em Globalização e Cultura pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP).
Fonte: Revista Pincípios