Jean Wyllys: O baiano de Dimenstein
Hoje Dimenstein respondeu aos meus questionamentos à sua coluna, acusando-me de não tê-la lido e/ou de ter mal interpretado a mesma. É uma saída fácil de Dimenstein para não assumir que seu texto contraditório flertava, sim, com o sentimento de xenofobia mal disfarçado. Ainda que eu e outros tivéssemos lido apenas o título – o que não aconteceu – este, por si, já justificava todos os questionamentos.
Por Jean Wyllys*, em su página
Publicado 24/12/2012 11:36
A palavra “baiano” não foi parar no título por acaso. A língua não é neutra (o jornalismo menos); e eu acredito que Dimenstein sabe disso. Não tendo problemas em sua educação básica, creio que a escolha dele para o título e linha argumentativa não foi por acaso. Ele sabe o quanto a palavra “baiano”, em São Paulo (e para elite paulistana), está carregada de sentido negativo.
Dimenstein não ignora que a palavra “baiano”, para os setores racistas da elite paulistana, é sinônimo de “cafona”, “brega”, “pobre”, e também não ignora que a palavra “baianada” é, para os setores racistas da elite paulistana, sinônimo de “cagada”, “burrada”. Logo, o texto, apesar das contradições internas, flertava, sim, com a xenofobia mal disfarçada de setores da elite paulistana!
A questão, Dimenstein, foi que eu e outros não ficamos nas linhas de seu textos: fomos às entrelinhas – e isso é interpretar, meu caro! Para ser mais sofisticado, diria que lemos, em seu texto, as traições de seu inconsciente estruturado como linguagem. Assim, o mais digno para você não seria tentar me atacar, mas reconhecer essa no mínimo traição do inconsciente (ou foi consciente?).
Não lhe ataquei em momento algum. Ataquei seu texto. Sua opinião é pública e, por isso, exige questionamentos públicos. No mais, quero dizer que sempre te respeitei (e até admirei). E continuo respeitando. Mas você não está acima da crítica.
Bom dia, querido Dimenstein. Até o tempo da delicadeza!
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O jornalista Gilberto Dimenstein rebateu às críticas que recebeu após escrever o artigo “Haddad precisa importar um baiano?”, publicado na Folha de S. Paulo, sobre a nomeação de Juca Ferreira como secretário municipal de Cultura, em São Paulo. Ele chegou a ser chamado de xenófobo.
Segundo Dimenstein, a postura de alguns internautas trata-se de dificuldade de interpretação e, ou, leitura apressada. “As pessoas não leem tudo. Isso já acontece no impresso, imagina no online. Olham apenas o título e leem o que querem, e não o que está escrito”. O colunista diz que criticou “o incômodo que brotou em parte do meio cultural paulistano pelo fato de Fernando Haddad convidar alguém de fora”.
“Comentei que ser de fora pode ser até bom para a cidade. E, no caso de Juca, ainda coloquei que, por ser baiano, ele traz uma visão cultural que, talvez, possa ajudar São Paulo. E por vir de outra cidade talvez não fique refém das panelinhas culturais locais”, defende-se.
Jean Wyllys já havia feito texto questionando Dimenstein que, por sua vez rebateu que “se fosse uma prova de interpretação, certamente o deputado não passaria”. “Ele é uma pessoa com caráter e creio que não fez de má fé. Mas acredito que ele não leu a coluna até o final”, diz o colunista.
* Jean Wyllys é deputado federal pelo PSOL-RJ. O artigo foi escrito em 11 de dezembro de 2012.
Fontes: Página do Jean Wyllys