Bruno Peron: Conhecer, Integrar e Desenvolver
Os conceitos comumente aceitos de desenvolvimento vinculam o aspecto humano de qualidade de vida ao utilitarismo do crescimento da economia, da empregabilidade e do aumento de renda. No entanto, a maior dificuldade desta perspectiva sobre o desenvolvimento é a de provar que os ajustes estatísticos, que informam aumento do Produto Interno Bruto ou do salário mínimo, levam mais conforto à vida das pessoas em situações diversas de sobrevivência.
Por Bruno Peron
Publicado 24/12/2012 09:32
Isto se deve a que o crescimento econômico por si não gera necessariamente desenvolvimento porque os benefícios quase sempre se concentram em empreendimentos de êxito e em regiões do país que possuem grande atração de investimentos. Recursos governamentais destinam-se, por um lado, a áreas onde a riqueza gera oportunidades e, por outro, a outras onde a pobreza se reduz pela inserção de famílias em classes de maior capacidade de consumo de bens materiais. O desenvolvimento do país exige a integração equânime das partes envolvidas.
O Brasil mantém o crescimento econômico num nível satisfatório e mundialmente prestigioso, embora os proventos concentrem-se nalguns estados e sua distribuição seja ineficiente nas regiões mais carentes de recursos e de atenção governamental. O desenvolvimento é para estes uma promessa do governo federal e um dom que seus recursos naturais e humanos lhes reservam na culinária, no turismo, na agricultura e nalguns setores industriais quando existem.
O déficit de desenvolvimento nas regiões Norte e Nordeste em relação a Sudeste e Sul não se resolve com a imitação do modelo de industrialização e urbanização destas duas últimas. Este cenário seria humanamente catastrófico e ambientalmente insustentável. É preciso transformar as capacidades produtivas das regiões menos desenvolvidas em fontes de renda, trabalho e satisfação de suas comunidades, famílias e populações urbanas.
A integração do país passa pelo reconhecimento da funcionalidade de cada região e pela complementaridade de suas atividades econômicas. A adesão definitiva da Venezuela ao Mercado Comum do Sul, deste modo, gera novas necessidades de adaptação do Brasil setentrional a um bloco promissor de auxílio mútuo sul-americano frente a um mundo em que a integração resiste à dureza da competição entre economias nacionais.
Integrar para o desenvolvimento significa ter maior consciência da função que cada região do Brasil ocupa nos laços débeis que atam estados remotos da Federação aos eixos industriais da modernidade brasileira. Não me convenço de que o caminho ao desenvolvimento é um só porque há fatores de qualidade de vida compartilhados por comunidades tradicionais das que os indivíduos urbanos pouco sabem enquanto submersos na modernidade.
O desenvolvimento que melhora a qualidade de vida e não só os dados econômicos que aumentam a aprovação do gestor público frente a seu eleitorado supõe a valorização do próprio e da criatividade de quem agrega valor àquilo que sua região de origem produz. Sendo assim, escassez e pobreza são dois mitos centrados numa visão ingênua das capacidades do outro de melhorar sua qualidade de vida devido ao desconhecimento de quem enxerga de fora.
A integração implica um olhar sobre as territorialidades desiguais do Estado-nacional brasileiro, que continua sinalizando sua importância diante da ação de atores transnacionais egoístas e do campo diverso de atuação das mesmas instituições do governo federal que formulam políticas para todos os estados e regiões do país. A necessidade de retidão na definição de projetos públicos supera as avaliações precipitadas das igualdades que não existem.
O Brasil está para ser pensado em relação à sua enorme extensão territorial, que convida os gestores públicos a enfrentar desafios para integrar seu povo à nação e aprender com a diversidade, e também quanto ao modelo de relação com a economia globalizada e com a movimentação nacional e internacional de informações, investimentos, pessoas e estereótipos.
Falta conhecer o que significa qualidade de vida em cada contexto de acordo com a história e a necessidade de seus moradores nas regiões diversas do país. Conhecer é o primeiro passo para integrar; em seguida, vem o desenvolvimento que satisfaz a coletividade.