PUC-SP poderá ter nova eleição para reitoria, avalia Apropuc
A Associação dos Professores da PUC-SP (Aprapuc) vislumbra a possibilidade da realização de uma nova eleição para a reitoria da instituição. De acordo com a entidade, o regimento da Pontifícia Universidade Católica de S. Paulo (PUC-SP) permite um novo pleito. Mesmo sem ter acesso ao auditório, os docentes realizaram assembleia na quarta-feira (12) no corredor do prédio, quando foi decidido o encerramento da greve.
Publicado 14/12/2012 21:40 | Editado 04/09/2020 17:34
Professores fazem assembleia no corredor do 3º andar / foto: Aprapuc
“Existe a possibilidade de ser convocada uma nova assembleia.de acordo com o regimento da instituição. As conversas tem sido nesse sentido. Faremos reuniões durante o período de férias para manter o movimento articulado, juntamente com funcionários e estudantes, que deverão fazer uma calourada bastante informativa sobre todo a eleição e o movimento da greve”, explicou João Batista Teixeira da Silva, do curso de Letras, do Departamento de Inglês da PUC-SP e dirigente da Apropuc, que reforçou que agora a categoria está em estado de greve.
A paralisação na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), que já durava um mês, foi deflagrada depois da divulgação da nomeação da nova reitora, a professora Anna Cintra, que é do programa de Pós-Graduação em Língua Portuguesa e ficou em terceiro lugar na eleição para a reitoria da universidade. A escolha é feita pelo cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, a partir de uma lista tríplice escolhida por professores, funcionários e estudantes. Em primeiro lugar ficou o atual reitor, Dirceu de Mello.
A Apropucae a Afapuc (Associação dos Funcionários) emitiram nota repudiando o fato e lembrando que, há pelo menos 30 anos, sempre foi respeitada a decisão da maioria dos votantes na consulta. A divulgação da nomeação de Anna Cintra foi publicada no portal da universidade diretamente pelo departamento de informática, sem ao menos passar pela comunicação da instituição. A comunidade acadêmica também estranhou a demora da divulgação do resultado da consulta, que aconteceu em agosto deste ano.
Na ocasião o secretário de Comunicação da Arquidiocese, Rafael Alberto, lembrou ao Vermelho que a escolha pelo terceiro colocado é prevista pelo regimento interno.
Autonomia
No mesmo dia da assembleia dos docentes, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) julgou, em audiência, que a greve não era abusiva e determinou o retorno das aulas. Além disso, não poderão ocorrer demissões motivadas por ações discriminatórias.
Na terça (11), a Justiça concedeu uma liminar que reconhece a legalidade da resolução 65/2012, que suspendeu a homologação da lista tríplice enviada a D. Odilo, destituindo temporariamente Anna Cintra do cargo até que o Conselho Universitário (Consun) decida sobre o caso. Até lá, permanece como reitor interino, Marcos Masetto, decano do conselho.
“Já estava decidido o encaminhamento para o fim da greve e a nossa assembleia estava marcada para o mesmo dia, coincidentemente. Já começamos a repor as aulas e isso ocorrerá até o final da próxima semana. Nenhum aluno será prejudicado”, assegurou o professor João Batista Teixeira da Silva, que avalia como positivo o movimento grevista, fortalecendo a autonomia universitária.
A professora Madalena Guasco, da Faculdade de Educação, concorda e reconhece a importância do movimento.
“O movimento é legitimo, buscou a autonomia universitária. Pelo estatuto, a comunidade universitária tem o direito de escolher seu reitor. Nunca havia sido desrespeitada a vontade da maioria. Além disso, a professora Anna Cintra faltou com a ética ao voltar atrás com sua palavra. Como os demais candidatos, ela havia se comprometido em não assumir o cargo, caso não fosse a mais votada”, lembrou Madalena Guasco, que é coordenadora-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee).
Em sua avaliação, a greve teve um papel importante para fomentar o debate sobre o caráter católico da universidade: “A universidade pode ter uma direção católica, mas precisa ser pluralista e manter sua liberdade científica. Independente de quem votou em quem, existe uma tradição democrática na PUC que deve ser respeitada.”
Recentemente, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, em 7 de dezembro, Dom Odilo se posicionou sobre o empenho da igreja em fortalecer o que ele chamou de identidade católica. Diante da crise gerada pela eleição para a reitoria da universidade, houve até suspeitas de que a mantenedora da PUC-SP, a Fundação São Paulo, estaria fazendo uma manobra para futuramente entregá-la à iniciativa privada, o que é negado pelo arcebispo.
“Há quem considere que a PUC-SP cumpriria melhor o seu papel sendo uma universidade laica, desvinculada da Igreja. Isso, porém, não seria coerente com a natureza de nossa universidade católica que, além de tudo, também é “pontifícia”, escreveu D. Odilo Scherer, referindo-se à vinculação com o Vaticano. Segundo dom Odilo, “não cabem equívocos, nesse sentido, e não dissimulo meu empenho para evidenciar e fortalecer na PUC-SP a sua identidade católica”.
Em entrevista ao Vermelho, na ocasião da decretação da greve, o secretário de Comunicação da Arquidiocese, Rafael Alberto, e assessor do cardeal, já havia rebatido a afirmação e declarado a intensão de reforçar o caráter religioso.
“Queremos que a universidade tenha mais identidade católica em seus cursos, sem cerceamento da liberdade acadêmica e da pesquisa. Afinal, somos uma universidade confessional, ligada ao catolicismo, ao Vaticano, por isso existem em nos cursos uma disciplina que fala sobre os fundamentos do catolicismo”, declarou Rafael Alberto, referindo-se à matéria Introdução à Pesquisa Teológica (IPT), presente em todos os cursos da graduação.
Estudantes
O temporal que caiu na tarde de quinta-feira (13) fez com que fosse adiada a assembleia dos estudantes, marcada para essa data, às 19h. A assembleia foi remarcada para segunda-feira (17), às 19h, na quadra do campus Monte Alegre da instituição. A expectativa é que os estudantes também suspendam a paralisação ou permaneçam em estado de greve. Caso chova será transferida para o corredor do 1º andar do Prédio Novo.
Na terça-feira (11), os estudantes em greve impediram a sessão extraordinária do Conselho Universitário, que seria a primeira convocada pela gestão de Anna Cintra. Eles sentaram no chão à frente da sala 119 fechando a passagem, ação semelhante a ocorrida em 30 de novembro, quando a professora foi impedida de entrar na reitoria.
Deborah Moreira
Da redação do Vermelho