Literatura afro-brasileira em debate

A literatura afro-brasileira contemporânea esteve em pauta em Brasília, nesta segunda-feira (10), quando ocorreu a I Jornada de Literatura Afro-Brasileira Contemporânea, iniciativa do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB) com apoio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O objetivo foi debater os problemas de autoria, perspectiva, linguagem e recepção das publicações. Nas últimas décadas houve um aumento da visibilidade da representação negra na sociedade – na mídia, nas artes, música, literatura, ou no campo acadêmico –, havendo forte questionamento de seu caráter “marginal” diante das formas de expressões dominantes.

A técnica do Ipea Tatiana Dias Silva constata que as populações negras brasileiras têm buscado formas de falar de si e do mundo e um dos pontos fundamentais diz respeito à maneira como estas questões são tratadas pela literatura e suas implicações para o desenvolvimento de políticas de promoção da igualdade racial.

Nesse sentido, a 1ª Jornada de Literatura Afro-Brasileira Contemporânea discutiu temáticas da população negra em diversas instâncias da literatura brasileira e estrangeira.

A abertura do evento coube a Tatiana Dias Silva, a Regina Dalcastagné, coordenadora do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, e a Maria Isabel Edon, chefe do Departamento de Teoria Literária e Literaturas do Instituto de Letras da UnB.

A primeira mesa da jornada teve a participação de Nelson Olokafá Inocêncio, professor da UnB, que destacou a representação negra na cultura brasileira afirmando que, quando se discute a representação social, é preciso considerar que o imaginário é construído por diversas linguagens, e o preconceito está presente em todas elas. “As imagens são formadoras da nossa consciência, da nossa postura, da nossa ética”.

Ele ressaltou que “ideia antiga não significa ideia morta. O conservadorismo tradicional ainda é atuante e tem diversas estratégias para permanecer assim. O racismo no Brasil não é velado, mas é cínico. Em outros lugares, o embate se dá de forma mais clara, mas no Brasil esse embate se dá de forma velada e ocorre por diversos meios”. Lembrou também que estereótipos são “sempre uma camisa de força, penda para um lado ou para outro, sejam eles negativos ou positivos”.

Intelectuais

Fernanda Felisberto, doutora pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), tratou das Narrativas literárias e a emergência de intelectuais negras. Em sua tese, ela pesquisou a afetividade de mulheres negras na literatura, mais especificamente a afetividade dentro do espaço da casa, não no espaço da rua, lugar mais comum para a ambientação literária de personagens negras.


Fernanda Felisberto: apenas seis romancistas negras no Brasil


Segundo Fernanda, a primeira romancista negra brasileira foi Maria Firmina dos Reis, cujo primeiro romance – Úrsula – foi publicado em 1859. “Desde aquele ano até 2012, temos apenas seis mulheres negras romancistas em nosso país”, informou ela.

Uma das temáticas presentes nos romances estudados por Fernanda é a questão do nome – do ato de nomear, de pensar e questionar o nome. Ela lembra que, na diáspora da população negra africana, a primeira coisa que as pessoas perderam foi o nome.

Confira, abaixo, as etapas da manhã e da tarde da 1ª Jornada de Literatura Afro-Brasileira Contemporânea:

Manhã
  

Tarde

Fonte: IPEA