EUA fecham escolas e dão às minorias o direito de virar bandido
Uma modificação sistêmica das prioridades de educação nos Estados Unidos reforça uma estrutura oficial e permanente discrimina a população pobre, compreendida em grande parte por pessoas negras. O aumento de escolas autônomas corporativas e de prisões privatizadas não pode ser entendido separado das cifras do fechamento de escolas públicas em todo o país, como denuncia a pesquisadora Adwoa Masozi, do Instituto de Estados Políticos.
Publicado 13/12/2012 18:13
Em outras palavras, nos Estados Unidos está em marcha uma política governamental e corporativa de extinção da educação pública para todos e a conversão dos negros, mestiços e latinos pobres em carne de presídio. A educação será para poucos privilegiados, enquanto grandes corporações como o Bank of América e o Wal-Mart ingressam no negócio da educação básica, enquanto mantêm prisões privadas, onde funcionam indústrias que pagam até dois dólares por dia de 8 horas de trabalho pela mão de obra escravizada dos detentos.
Mais que o título de uma notícia, “Destruição da Educação Pública Alimenta o Complexo Industrial de Prisões” o estudo de Masozi é um chamado à reflexão. O trabalho foi publicado somente pela Inter Press Service, em 27 de fevereiro de 2012, e resgatada pelo Projeto Censurado como a 20ª notícia mais censurada no anuário Censored 2013. O texto que segue é a tradução literal do trabalho de Masozi [o original em inglês foi traduzido pelo CubaDebate; a Redação do Vermelho traduz do espanhol para o português].
Estamos diante de uma reformulação sistêmica das prioridades da educação que deu estrutura oficial e permanência para uma classe inferior preexistente composta em grande parte por gente criminalizada, negros e mestiços. Por meio de seus estados, os Estados Unidos estão extirpando bilhões de dólares do recurso para a educação como se 22% da população não fosse de analfabetos funcionais.
Escolas públicas
De acordo com o NAAL, padrão do Centro Nacional para Estatísticas em Educação, 68 milhões de pessoas estão lendo abaixo dos níveis básicos. O Centro de Orçamento e Prioridades Políticas revelou que “quase todos os estados estão gastando menos dinheiro (em educação) que em 2008 (depois da inflação), apesar de o custo da prestação de serviços ser maior”. Além de reduzir quatro bilhões de dólares de seu orçamento, o Texas também eliminou os fundos estatais para programas de pré-escola que servem em torno de 100 mil crianças, em sua maioria em situação de risco. A Carolina do Norte cortou cerca de meio bilhão de dólares da educação do ensino fundamental e médio, resultando em 80% dos fundos para livros didáticos e um corte de 5% para ocupações de apoio, como conselheiros e trabalhadores sociais, entre numerosos outros cortes. Decisões como estas deixam poucas razões para se perguntar por que esses dois estados enfrentam 27% de taxas de abandono?
Fechar as escolas públicas se converteu em um furor, que inclusive levou o estado da Califórnia a fazer um guia de boas práticas sobre a maneira de fechá-las e deixá-las prontas para outra. Por que ao invés disso não promover um “guia de boas práticas para manter a escola em boas condições”? Por que fazer essas decisões quando se sabe que a falta de educação reduz o acesso à qualidade e oportunidade de emprego, aumenta a probabilidade de encontros com o sistema criminal de (in)justiça, repercute negativamente nos resultados de saúde e, em geral, limita a capacidade para determinar seu próprio futuro.
O que estamos presenciando é uma refundação sistêmica das propriedades da educação que dá estrutura oficial e permanece para uma preexistente classe inferior composta em grande parte por pobres criminalizados, negros e mestiços. Certamente, ter uma extensa classe baixa não é algo novo nos Estados Unidos, já que há um vasto histórico de negações a encher espaços vazios das pessoas e seus direitos. No entanto, os resultados materiais desta mudança são devastadores comunitária e economicamente, como os resultados dos Códigos Negros dos anos 1800 e as subsequentes leis de Jim Crow, que persistiram de modo totalmente legais até 1965, com a variação de sua aplicação de estado a estado e que até hoje mantém seus impactos nas comunidades.
O conluio entre este governo e os interesses privados não é novo. Não é uma coincidência que, ao mesmo tempo, os bairros com uma alta presença de pessoas negras estejam sendo desestabilizados e deslocados pelos desenvolvedores empoderados, pelos municípios dos estados, que estão desinvestindo na infraestrutura das escolas públicas que servem a eles, ou pela via rápida da acumulação das terras urbanas, ou pela conversão de áreas pobres em ricas. Este é um processo insidioso para torcer o braço das comunidades.
A educação pública é algo mais que um direito, uma liberdade, um privilégio. É uma necessidade básica e tão indiscutível como a terra para caminhar, alimentos para comer, a água que devemos beber e o ar que se deve respirar para viver. Porque absolutamente nada será feito, ou se pode fazer sem ela na sociedade humana. Então quem gostaria de enviar seus filhos para escolas que têm policiais e detectores de metal no lugar de livros? Ou escolas superlotadas com professores na proporção de 1 para 30 estudantes e sem atividades extracurriculares ou serviços de recuperação? Estas são as consequências materiais do desinvestimento nas escolas públicas. Quem quer enviar seus filhos a escolas em bairros que são mini-estados de polícia? Ninguém, se for possível evitar.
Escolas charter
As “escolas charter”, por definição, não são o problema real. Têm sido soluções práticas e criativas para educar as crianças quando as necessidades não são satisfeitas. A formação de centros alternativos de educação são uma forma que se pratica nas comunidades de todo o país desde 1800. Mas o que temos hoje em dia é algo muito diferente. As “charters” agora se estabeleceram como substitutas das escolas públicas, em parte ou em sua totalidade. Empresas como Wells Fargo, Bank of America, JP Morgan y Wal-Mart, os principais investidores em prisões privadas e os autores da reforma corporativa da educação, têm uma extraordinária influência na política educativa em nível estatal e federal.
Os pais, estudantes, professores, e outros atores relevantes, são manipulados para fazer uma eleição falsa, desenhando uma linha na areia onde o grupo equivocado de pessoas está do lado oposto. Seja para as escolas públicas ou charters, ambas as partes querem os mesmos resultados, estudantes criativos e de pensamento crítico que estejam preparados para participar plenamente em sua comunidade e a sociedade em geral. Foram cooptados. Agora adotam um papel antagônico para com as escolas públicas tradicionais, no lugar de as charters seguirem operando como soluções criativas, especialmente para as comunidades em crise, combatendo os recursos os recursos públicos.
Enquanto são travadas essas guerras territoriais, as crianças não frequentam essas escolas de nível fundamental, porque não ganharam essa loteria, ficam atrás e com seus próprios recursos nas escolas mal administradas, com superlotação e recursos insuficientes.
Presídios
46% dos 2,3 milhões de pessoas encarceradas não têm um diploma de escola secundária, nem as habilidades necessárias para competir em um mercado de trabalho cada vez menor. Isso significa que em torno de um milhão de pessoas não conseguirão nunca mais que empregos sem qualificação, baixos salários, benefícios empobrecidos, em trabalhos socialmente integrados e provavelmente em um ambiente mental e espiritualmente sufocante.
Não é necessário conjecturar sobre o que vai acontecer com esses milhões não qualificados e sem educação que resultaram falidos por essas escolas que continuam sendo erodidas. Caminham para as prisões, porque esses jovens são a carne preferida do sistema penal da (in)justiça.
É por isso que pode existir o fechamento recorde de escolas públicas em todo o país e, ao mesmo tempo, somos testemunhas do surgimento de empresas respaldadas por escolas charter e as prisões privadas. A mensagem às pessoas é que os eleitos que serão educados são poucos, e o restante ficará bloqueado na luta contra sua própria condição de réu primário. Por isso temos que seguir nesta luta.
Fonte: CubaDebate
Tradução: Da Redação do Vermelho,
Vanessa Silva