Soldados de Israel invadem ONGs palestinas na Cisjordânia
Soldados israelenses invadiram nesta terça-feira (11) os escritórios de três organizações civis que defendem os direitos humanos do povo palestino, localizados no centro de Ramalah, a capital oficial da Cisjordânia, na área A (sob total controle da administração palestina, segundo os Acordos de Oslo). O primeiro ministro Netanyahu insiste, por sua vez, que os assentamentos ilegais não inviabilizam solução de dois estados e chanceler acusa Europa de política hostil aos judeus.
Por Marina Mattar
Publicado 11/12/2012 18:22
Antes do amanhecer, os soldados arrombaram as portas da União dos Comitês das Mulheres Palestinas, da Rede de ONGs Palestinas e da Addameer e confiscaram diversos itens. Mesas e armários foram destruídos, centenas de páginas de arquivos foram espalhadas ao redor do escritório e quatro computadores, um disco rígido e uma câmera de vídeo foram apreendidos na sede da Addameer. A organização, que trabalha com o direito dos presos políticos palestinos, divulgou fotos do estado do escritório pela manhã e afirmou que terá mais detalhes sobre o nível do estrago nos próximos dias.
“Isso vem no contexto da decisão das Nações Unidas [que aprovou o reconhecimento da Palestina como estado observador]”, disse Allam Jarrar da Rede de ONGs Palestinas. “Essa é uma mensagem de Israel para os palestinos, afirmando que quando eles tomam decisões ou formam organizações políticas em busca de sua liberdade, a ocupação vai usar a agressão para tentar impedi-los”, acrescentou, em meio a panfletos com a insígnia da campanha de BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) que foram jogados nas ruas vizinhas ao escritório.
De acordo com a direção da Addameer, esta é a primeira invasão das Forças de Defesa de Israel em organizações na capital da Cisjordânia desde 2002. “Nós entendemos isso como uma tentativa de paralizar a solidariedade com os presos políticos palestinos”, afirmou a organização em comunicado divulgado nesta terça-feira (11). A União dos Comitês das Mulheres Palestinas ainda não divulgou nenhuma informação sobre a invasão de seu escritório em seu site e página do Facebook oficial.
Repressão à vista?
Muitas organizações civis palestinas que lutam pela promoção dos direitos humanos já haviam expressado preocupação com recentes atitudes repressivas de Israel na Cisjordânia durante o encontro do Fórum Social Mundial Palestina Livre em Porto Alegre no final de novembro.
Sahar Francis, advogada e diretora da Addameer, contou que os oficiais israelenses estão tentando impedir a continuidade do grupo. No dia 15 de outubro deste ano, um dos pesquisadores da organização foi preso depois de soldados entrarem em sua casa sem nenhuma denúncia prévia. Ayman Nasser foi acusado de encorajar e apoiar a solidariedade aos presos palestinos e de participar de manifestações e atividades em apoio a greve de fome dos prisioneiros.
O ativista, que está submetido às leis militares de Israel no território palestino ocupado, permanece detido mesmo sem julgamento. Segundo a Addameer, oficiais israelenses torturaram e abusaram de Nasser durante interrogatórios. “As acusações infundadas contra ele evidenciam a tentativa da IOF (Força de Ocupação de Israel) de ameaçar o trabalho de defensores dos direitos humanos”, afirma o grupo em comunicado.
Desde à investida militar israelense contra a Faixa de Gaza em novembro deste ano, dezenas de palestinos foram presos na CIsjordânia por estarem vinculados a qualquer organização política. Os oficiais também reprimiram duramente manifestações contra a operação Pilar Defensivo e o apartheid israelense, deixando dois mortos e dezenas de feridos.
Netanyahu: "Assentamentos não inviabilizam estado palestino"
A situação se tornou ainda mais tensa com o reconhecimento da Palestina como estado observador da ONU no dia 29 de novembro. Como retaliação, o governo sionista de Tel Aviv decidiu prosseguir com a construção de assentamentos ilegais nos territórios palestinos, o que enfureceu autoridades europeias por comprometer o funcionamento de um futuro estado palestino.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, acusou nesta terça-feira (11) a Europa de aplicar política hostil aos judeus como “no fim dos anos 30”.
O premiê israelense, o direitista Benjamin Netanyahu, por sua vez, respondeu às críticas internacionais nesta segunda-feira (10) afirmando que “simplesmente não é verdade” que os assentamentos sejam obstáculo a solução de dois estados. “Eu não entendo como isso pode prevenir territorialmente”, disse, ao se referir a construção de colônias na zona E1 de Jerusalém Oriental.
Fonte: Opera Mundi