"O Irã não pretende produzir armas nucleares", diz embaixador
O Embaixador do Irã no Brasil, Mohammad Ali Ghanezadeg, recebeu nesta quarta-feira (28), na sede da missão em Brasília, uma comitiva de jornalistas e blogueiros independentes e progressistas. Durante duas horas e meia, transcorreu uma conversação franca, em que o diplomata expôs a posição de seu país sobre temas candentes. O editor do Portal Vermelho, José Reinaldo Carvalho, esteve presente. Acompanhe a opinião do embaixador da República Islâmica sobre os principais tópicos da conversa.
Publicado 29/11/2012 08:51
Sanções As sanções econômicas, comerciais e financeiras impostas pelos Estados Unidos e países da União Europeia são um instrumento ilegal contra um país e um povo. No Iraque, as sanções contra o governo de Saddam Hussein provocaram a morte de crianças. No Irã, as sanções são muito abrangentes, envolvendo desde medicamentos até equipamentos de aviação, mas não afetaram o programa nuclear. De uma ou outra maneira, o Irã aprendeu a lidar com as sanções e contorná-las. Muitos países, cada qual com suas políticas específicas, até aumentam o comércio com o Irã. Com a Turquia, o país tem um comércio bilateral da ordem de US$ 21 bilhões; com o Iraque, de US$ 10 bilhões; com a Índia, de US$ 15 bilhões; com a Rússia, de US$ 7 bilhões e com o Brasil, de US$ 2,4 bilhões. O Irã é a 17ª economia do mundo, com um PIB de US$ 1 trilhão e um comércio exterior de US$ 250 bilhões.
Países Não Alinhados Houve uma tentativa das grandes potências de boicotar a 16ª Reunião do Movimento dos Países Não Alinhados, inclusive o Canadá fez uma pressão sobre o secretário-geral da ONU para que não participasse. Os Estados Unidos fizeram intensa propaganda difundindo a falsa tese de que se trata de um movimento ultrapassado, da época da guerra fria e a reunião teria caráter meramente protocolar. Mas a reunião foi realizada com grande sucesso em Teerã, capital do Irã, em agosto último, com numerosa presença de chefes de Estado, chefes de governo e chanceleres. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, participou e fez uso da palavra. O Movimento dos Países Não Alinhados segue atuante e reforçando a ideia do multilateralismo nas relações internacionais. É a maior organização internacional depois da própria ONU. Conta com 120 países membros e 17 países observadores e se relaciona diretamente com seis organizações internacionais. Os objetivos da reunião realizada em agosto em Teerã foram plenamente atingidos. Foi criado um Comitê de acompanhamento dos principais temas da conjuntura internacional, destacadamente a questão da Palestina. A reunião aprovou uma moção de apoio ao programa nuclear iraniano para fins pacíficos. Até a próxima reunião, dentro de três anos, na Venezuela, o Irã assume a presidência do Movimento dos Países Não Alinhados, com a proposta de elevar a voz desses países no cenário internacional.
Mídia A Europa e os Estados Unidos abusam dos meios de comunicação e os colocam a seu favor. A mídia internacional encontra-se sob domínio monopolista dos sionistas. Aqueles que monopolizam esses meios, defendem a “liberdade de imprensa”, mas não aceitam que sejam ouvidas as vozes independentes e alternativas, não querem que a voz dos países sofridos chegue a todos os povos. O Irã luta contra isso e considera que é responsabilidade dos jornalistas e blogueiros independentes lutar para modificar esta realidade.
Oriente Médio São quatro as principais características da situação regional. Em primeiro lugar, os acontecimentos designados como “primavera árabe” revelam o despertar islâmico e não a prevalência das ideias liberais. A segunda característica é a oposição dos povos às políticas dos Estados Unidos. Os povos estão exaustos das políticas pró-estadunidenses de alguns governos. A terceira característica é a oposição ao sionismo e a quarta é a oposição à corrupção dos governos ditatoriais. É crescente o papel do Irã na região. Temos políticas corretas e lutamos contra a intervenção externa como meio de impor a “democracia”. Apoiamos e apoiaremos os movimentos dos povos.
Questão nuclear Reiteramos que o Irã não deseja fabricar armas nucleares e que o caráter do nosso programa nuclear é pacífico. No Irã é proibido produzir, adquirir e armazenar armas nucleares. Defendemos o princípio de que nenhum país deve possuir armas nucleares e todos os países devem ter acesso à tecnologia nuclear para fins pacíficos. No Oriente Médio, o país que possui armas nucleares é Israel, com mais de 200 ogivas nucleares. O Irã está negociando com o grupo 5 + 1 (Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã-Bretanha, além da Alemanha). Na última rodada de conversações com o grupo, em Moscou, demonstramos detalhadamente a nossa posição. O problema reside em que os Estados Unidos politizaram a questão nuclear e ao invés do diálogo se atêm a uma política de pressões e sanções.
Relações com o Brasil São relações de quase um século, baseadas em considerações realistas sobre as realidades dos dois países. A base das relações do Irã com o Brasil é a cooperação econômica, em prol dos interesses das duas partes. Atualmente, o Brasil e o Irã têm pontos de vista políticos comuns sobre vários temas importantes, como a reforma estrutural da ONU, a crítica às injustiças da ordem internacional e quanto à questão nuclear. Igualmente, Brasil e Irã apoiam o multilateralismo. A afirmação de que sob o governo da presidenta Dilma houve um retrocesso nas relações bilaterais, que tinham atingido um ponto culminante durante o governo Lula, é uma mentira da mídia.
Fonte: Blog da Resistência www.zereinaldo.blog.br