Farc conclamam governo a cessar hostilidades
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (Farc-EP) convocaram nesta terça-feira (20) o governo colombiano a promover o cessar-fogo, anunciado pela força insurgente de maneira unilateral durante a abertura do diálogo de paz em Havana, Cuba.
Publicado 20/11/2012 21:56
Por meio de um comunicado, a guerrilha assegurou que com a decisão unilateral de cessar as hostilidades, aspira a fortalecer o clima de entendimento entre as partes beligerantes.
Além disso, busca que se abra sem obstáculos nem demora o cenário de participação e decisão popular no processo.
As Farc-EP reiteram que seu principal objetivo é a paz e tomam como divisa "a verdade pura e limpa, convocando a contraparte a tomar o mesmo caminho, no qual sem dúvida é o povo o constituinte primário, o legítimo e único soberano, o abandeirado desta causa sagrada que cativa o espírito dos verdadeiros patriotas".
Na segunda-feira (19), no início das conversações com o governo colombiano, a insurgência fez um chamamento ao cessar-fogo e à suspensão das hostilidades do governo, ao tempo em que defendeu a participação popular neste processo.
Em nome da guerrilha, o chefe da delegação, comandante Ivan Marques, leu um comunicado do Secretariado sob o título "Abrindo caminhos para a paz", no qual ordenou às Farc-EP que cessem as operações militares ofensivas desde a madrugada desta terça-feira até 20 de janeiro de 2013.
"Sabemos que o sossego e a concórdia são requisitos essenciais para a existência dos povos, chegamos a este primeiro momento de diálogo, com a firme determinação de dar todo o nosso empenho em buscar os caminhos do entendimento que permitam conquistar a obra inestimável da paz com justiça social", assinala o texto.
A organização insurgente realça que a todos os gestos unilaterais que tem feito se somou o anúncio de cessar as ações militares ofensivas contra a força pública e a suspensão de atos de sabotagem contra a infraestrutura oficial ou privada.
Dessa forma faz uma homenagem "a nossos irmãos da Colômbia que sofrem as consequências da sangrenta guerra imposta pelo regime”.
Também expressam sua gratidão a Cuba e à Noruega, países garantidores, e ao Chile e à Venezuela, acompanhantes deste empreendimento, por sua ajuda constante e eficiente.
As Farc-EP asseguram que sem o apoio dessas nações teria sido muito difícil "chegar até o ponto em que estamos para iniciar a abordagem dos temas de discussão consignados como preâmbulo e agenda no transcendental Acordo Especial de Havana".
De igual forma, agradecem ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha por seu apoio e confiança.
A guerrilha assegura que a mesa de diálogo, instalada no Palácio das Convenções de Havana, não será teatro de operações para tentar vitórias que não foram alcançadas no campo de batalha.
As Farc-EP consideram que buscam pontos de acordo, contribuir com ideias para a reconciliação da família colombiana, e não aceitar imposições nem fazer acordos sobre o destino do país pelas costas das maiorias nacionais.
Na opinião das Farc-EP, é hora de escutar a vontade do povo e traçar os fundamentos de um novo contrato social que seja o cimento da paz e da felicidade cidadã.
"É talvez uma tarefa muito difícil devido às armadilhas belicistas que se opõem, ou pela possibilidade que existe sempre que interesses políticos mesquinhos a liguem a propósitos particulares", advertem.
Contudo, consideram que "ao mesmo tempo é uma necessidade tão vital para as maiorias que por nenhum motivo deveremos claudicar em seu curso".
Por isso as Farc-EP reclamam do governo determinação para a paz, pois se não há sinceridade e disposição nas ações, dificilmente os objetivos poderão ser concretizados.
"Estamos obrigados, por esse tremendo desejo de paz que tem o povo, a atuar com pulso infinitamente firme, com tato infinitamente delicado”, enfatizam, ao referir-se às conversações entre ambas as partes.
Os insurgentes adiantam que desde a instalação da mesa de diálogo até o presente, expressaram seus pontos de vista, opinião política e disposição de paz, de maneira franca e transparente.
Reafirmam que se regem pelo acordo alcançado pelas duas partes para chegar a esta mesa, e negam a existência de agendas paralelas, pelo que "desde o seio do que foi pactuado reclamamos o pleno protagonismo popular na tomada de decisões concernentes à paz da Colômbia".
Sobre essa base, também instam o governo a cessar o desperdício militar que retira possibilidades de investimento social.
A força guerrilheira precisa que quase a metade do orçamento nacional de 2013 foi destinada a financiar a guerra e ao pagamento da dívida externa.
"O Estado não deveria persistir no caminho do militarismo e da submissão à banca internacional", sublinham.
As Farc-EP responsabilizam o Estado pela existência da guerra e o sangramento nacional que já dura mais de meio século.
"Todos estes anos caracterizados pelo extermínio político, o incremento das desigualdades, a permanência da guerra suja, a implementação de medidas econômicas e políticas para o saque e a degradação do direito à vida contra os colombianos, são mostra irrefutável da inexistência da democracia, responsabilidade direta do Estado", asseguram.
"A guerrilha das Farc, como povo em armas, está pronta para empreender o caminho do diálogo que torne possível um entendimento e, nesse sentido, valoriza os esforços que no mesmo propósito estão fazendo os porta-vozes do governo colombiano", enfatizam.
O comunicado assinado pelo Secretariado do Estado Maior Central das Farc-EP, desde as montanhas da Colômbia, em 19 de novembro de 2012, conclui que "sob qualquer circunstância deverá sustentar-se no cenário das discussões civilizadas como única porta de entrada a uma era de justiça social e paz".
O texto envia uma saudação a Humberto de La Calle, chefe da delegação governamental nesta mesa, aos porta-vozes do governo da Colômbia, aos representantes dos países garantidores – Cuba e Noruega – e aos acompanhantes – Venezuela e Chile.
Redação do Vermelho com Prensa Latina