Pedreiro sergipano funda maior biblioteca comunitária do país
A vida em função da construção do conhecimento. Esse é o lema do pedreiro sergipano Evando dos Santos, que dedicou e continua dedicando seus dias à manutenção de um sonho, a maior biblioteca comunitária do país, localizada na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro.
Publicado 13/11/2012 16:11
Os pilares foram fincados na própria casa, onde ele calcula ter reunido mais de 40 mil livros. Atualmente, a biblioteca funciona em um prédio próprio, desenhado pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, no mesmo bairro.
É na edificação de três andares que funciona a Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Meneses. Criada em 17 d e julho de 1998, recebeu o nome do autor preferido do pedreiro, que é seu conterrâneo.
Nessa biblioteca, as regras para o empréstimo são simples: o leitor preenche um cadastro e pode ficar com o volume pelo tempo que achar necessário. “Se a pessoa não devolve o livro é porque precisa”, diz Evando dos Santos.
Cheio de orgulho, Evando diz que esse era seu sonho: uma biblioteca sem “burrocracia”, funcionando de domingo à domingo. Segundo ele, com livros que não se encontram na Biblioteca Nacional. Exemplo disso é uma gramática da língua bunda que era a falada pelos escravos.
Oscar Niemeyer
Com a casa abarrotada de livros empilhados por todos os cômodos, Evando percebeu que precisava de um espaço definitivo para abrigar os livros. E a ajuda veio de maneira inesperada. Com a ousadia que o caracteriza, Evando ligou para um programa de TV que entrevistava ao vivo o arquiteto Oscar Niemeyer. “A minha ligação entrou no ar e ele prometeu me ajudar. Foi uma pessoa divina. Fui a casa dele que me ouviu por uma hora. Um mês depois ele me entr egou o projeto da biblioteca”, lembrou.
Eram idos de 2002. O ministério da Cultura autorizou a captação de recursos e a prefeitura concedeu à biblioteca o título de utilidade pública. Mas Evando amargou mais quatro anos tentando conseguir que o projeto saísse do papel. Finalmente em 2006, o BNDES investiu no projeto e as obras começaram. Em 12 de dezembro de 2008, o novo prédio da biblioteca foi inaugurado.
Calçada da Fama
Com a cabeça cheia de ideias, Evando não limita seus projetos às atividades na biblioteca. Promove “arrastões literários” em vários bairros do Rio, distribuindo livros da zona norte à zona sul. Ajudou a fundar bibliotecas comunitárias em várias cidades do País e até no exterior. Evando doou 15 mil livros para o processo de reconstrução de Angola, devastada pela guerra civil.
Evando pintou na principal praça da Vila da Penha, a praça do largo do Bicão, uma calçada da fama, estrelas com os nomes de personalidades ligadas à história do bairro e/ou da biblioteca especificamente. O projeto foi incorpor ado na última reforma da praça, a pintura deu lugar à placas de metal cravadas no concreto. Para o bairro que ama, escreveu um livro, contando a história do lugar através dos moradores mais antigos.
Reconhecimento
A Academia Brasileira de Letras homenageou o pedreiro em 2007. Evando foi condecorado com a medalha comemorativa dos 110 anos da entidade. A Câmara de Vereadores e a Assembleia de Legislativa do Rio de Janeiro concederam a medalha Pedro Ernesto e Tiradentes respectivamente.
A cineasta Anna Azevedo produziu e dirigiu o documentário Homem-Livro contando a história de Evando durante a mudança da biblioteca da casa de Evando para o prédio projetado por Niemeyer. O curta ganhou o prêmio de melhor filme do Júri Popular e de melhor direção do júri oficial do Festival de Brasília em 2006.
“O que me impressionou naquela casa foi que os livros eram os grandes reis daquele espaço. Uma casa labiríntica E um personagem que tem um a compulsão pelos livros e em dividir o saber, o conhecimento”, explicou a cineasta.
Fonte: UOL