O sangrento fracasso dos EUA na Síria
A experiência já mostrou que intervenção e a “exigência” de que Assad deixe o poder não conseguiram conter a violência ainda crescente e precipitaram a Síria em caos ainda mais profundo. Aparentemente, Washington ainda insiste na velha ideia intervencionista, que mais de uma vez levou os EUA a beco sem saída. Em nenhum caso o ocidente deveria apoiar um dos lados, na luta para varrer do mundo a oposição, porque esse tipo de ação sempre implica consequências incontroláveis.
Publicado 03/11/2012 08:36
“Já dissemos bem claramente que o Conselho Nacional Sírio não pode continuar a ser visto como líder visível da oposição”, disse a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton em visita à Croácia, na 4ª-feira, “exigindo” modificações na liderança da oposição síria.
A recente “grande virada”, que visa a descartar o Conselho Nacional Sírio que tem base em Istambul, Turquia – o mesmo CNS que os EUA até agora haviam apoiado sem restrições – mostra a confusão reinante nas “táticas” do ocidente para a Síria que, hoje, se veem ante o grande problema de encontrar outros representantes locais aos quais apoiar.
Os EUA, que em nenhum momento se ocuparam em buscar alguma verdade factual em campo e temerariamente acolheram como aliado e “representante local” o Conselho Nacional Sírio, acabam de constatar que o aliado é absolutamente imprestável; e retiram-lhe todo o apoio. Os EUA estão esmurrando, de fato, a própria cara.
Agora, os EUA partem à procura de outras forças de oposição as quais apoiar. Mas o mais provável é que a nova tentativa falhe outra vez, dado que, outra vez, os EUA deixam sem considerar as causas que continuam ativas na raiz daquela crise crônica e, outra vez, rejeitam qualquer solução política para a Síria.
Desde o início do conflito, há 20 meses, o ocidente nada faz além de, obcecadamente, trabalhar para derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad, sem em momento algum considerar objetivamente a potência variável das diferente facções que disputam o governo da Síria.
Forças leais a Assad continuam a combater cabeça à cabeça contra rebeldes, e absolutamente não se vê no horizonte qualquer possibilidade de processo de paz. Até agora, aqueles confrontos já fizeram mais de 32 mil mortos.
Sem conseguir conter os confrontos, a trégua de quatro dias, para a Festa do Sacrifício em outubro de 2012, iniciada pelo enviado da ONU, Lakhdar Brahimi e prevista para marcar o começo de um processo de paz, também já deu em nada.
A experiência já mostrou que a intervenção e a “exigência” de que Assad deixe o poder não conseguiram conter a violência ainda crescente e precipitaram a Síria em caos ainda mais profundo.
Aparentemente, Washington ainda insiste na velha ideia intervencionista, que mais de uma vez levou os EUA a beco sem saída. Em nenhum caso o ocidente deveria apoiar um dos lados, na luta para varrer do mundo a oposição, porque esse tipo de ação sempre implica consequências incontroláveis.
Nem Clinton dá sinais de saber o que faz em relação à Síria e insiste em esperar que rebeldes consigam derrotar o governo de Assad. Na 4ª-feira, a secretária Clinton disse que não é segredo que muitos na Síria, especialmente grupos minoritários, temem que o governo de Assad seja substituído por governo da oposição sunita. “Não que amem o regime Assad” – disse ela. – “Mas estão, com muita razão, preocupados com o futuro”.
É mais que hora de o ocidente entender que a única abordagem razoável é apoiar genuinamente uma solução política e diplomática para a crise.
A China, com a Rússia e outros países, tem buscado incansavelmente apoiar os esforços do enviado internacional e tem insistido na direção de que todas as partes envolvidas busquem desempenhar papel mais construtivo.
Na 4ª-feira, o Ministro de Relações Exteriores da China, Yang Jiechi apresentou proposta chinesa, de quatro pontos, para encaminhar solução estável para o conflito sírio. Os chineses entendem que é absolutamente necessário que os lados em conflito respeitem o cessar-fogo acordado e deem início, imediatamente, a uma transição política negociada.
Os EUA ainda precisam aprender que soluções políticas demandam paciência e tempo.
Fonte: RedeCastor