O desafio de reduzir vulnerabilidade ambiental com justiça social
O furacão Sandy, que passou sobre o Haiti na semana passada, 24 e 25 de outubro de 2012, deixou um triste balanço: 51 mortos, 15 pessoas desaparecidas e cerca de 20 feridos, segundo as últimas cifras que as autoridades comunicaram no domingo (28).
Por Wooldy Edson Louidor*, na Adital
Publicado 31/10/2012 11:28
Os estados situados ao oeste e ao sul do país foram os mais atingidos pelas rajadas violentas de vento, acompanhadas por chuvas torrenciais. Somente no Departamento do Oeste, cuja capital é Porto Príncipe, foram registrados mais de 20 mortos. Enquanto que no Departamento do Sul, foram registrados 18 mortos.
As perdas materiais também foram significativas. Várias estradas foram bloqueadas; muitas pontes caíram e inúmeros desastres na agricultura. Ainda não foi publicado nenhum relatório oficial sobre a avaliação de ditas perdas materiais.
O governo haitiano anunciou o desbloqueio de fundos equivalentes a mais de 8.3 milhões de dólares para realizar trabalhos de emergência e reconstrução. As autoridades haitianas já começaram a distribuir alimentos e outros produtos a pessoas e famílias danificadas em alguns bairros pobres da capital haitiana.
Porém, quantas famílias danificadas terão acesso à ajuda humanitária? Por quanto tempo? Haverá transparência no manejo de ditos fundos? Até quando será solucionado de maneira definitiva o problema da habitação no país? Os desalojados estão condenados a viver de maneira permanente nos acampamentos?
Como era de se esperar, dadas as extremas condições de vulnerabilidade, aproximadamente 400 mil desalojados haitianos, que continuam vivendo em acampamentos, foram duramente golpeados pelo furacão. Suas tendas foram deterioradas pela chuva e pelos ventos; a falta de saneamento, de água potável e canalização nos acampamentos e a exclusão da qual são vítimas desde o 12 de janeiros de 2010, contribuem para aumentar sua vulnerabilidade ante os fenômenos naturais. A epidemia de cólera representa uma grande ameaça para eles.
Em um relatório sobre os impactos do furacão Sandy, os Jesuítas do Haiti nos apresentam um panorama da situação das pessoas desalojadas que vivem em uma situação muito difícil nos acampamentos:
"Nas visitas que fizemos aos acampamentos, observamos que somente no campo de Automeca, o mais atingido pelo furacão, continuam vivendo 1.307 famílias. Em geral, todas as tendas estão em más condições; já não aguentam resistir a nada. Nota-se que várias tendas foram completamente destruídas pelos ventos e muitas outras têm tantos buracos, que deixam passar muita água da chuva. Em ditas tendas, as pessoas têm que ficar de pé, sem poder deitar-se para descansar ou dormir, pois suas camas e outros objetos estão todos molhados e há muita umidade dentro das tendas. Os casos mais graves que registramos são o das mulheres grávidas, das crianças e das pessoas idosas; por exemplo, o Serviço Jesuíta aos Refugiados e o comitê do campo de Automeca fizemos um censo ao redor de 21 casos graves de tendas que necessitam de uma imediata substituição”.
Os desastres sociais provocados de maneira cada vez mais exponencial pelos fenômenos naturais no Haiti, tais como o furacão Sandy, apontam para a necessidade urgente do Estado haitiano e da chamada comunidade internacional incluírem na agenda da reconstrução o tema da prevenção dos riscos e desastres mediante estratégias eficazes de comunicação e de educação e, sobretudo, através de políticas públicas orientadas à promoção da justiça social e da redução das desigualdades.
Somente assim, pode-se reduzir de maneira significativa a vulnerabilidade dos mais excluídos, por exemplo, das pessoas desalojadas e dos pobres, em um país exposto a todo tipo de eventos naturais: terremotos, fenômenos hidrometeorológicos etc.
Até onde os desastres sociais por razões meio ambientais são mais produto das históricas catástrofes sociais, tais como a exclusão, a desigualdade, a injustiça, a corrupção, a irresponsabilidade dos governantes e sérias falhas no modelo de cooperação internacional do que dos fenômenos naturais em si mesmos?
Wooldy Edson Louidor é Coordenador Regional Incidência e Comunicação para o Haiti – Seviço Jesuíta a Refugiados para América Latina e Caribe (SLR LAC)