Síria: O caminho da paz tem opositores
A longa lista de violações do cessar-fogo durante a festividade de Eid al-Adha (Festa do Sacrifício), na Síria, evidencia a recusa de alguns atores em participar da mesa de diálogo.
Publicado 30/10/2012 11:40
A iniciativa, lançada pelo enviado especial da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi, encontrou mais apoio do que o esperado no exterior, inclusive no seio do Conselho de Segurança, no qual algumas forças mantêm posições contrárias abertamente contra o governo do presidente Bashar al Assad.
De acordo com o diplomata argelino, as explosões perpetradas por alguns grupos nos bairros residenciais desta capital, durante a frágil trégua, são atos terroristas com cujos autores disse, não temos contatado.
O jornal Al-Watan, de Omã, deu uma descrição precisa da situação quando ele disse que a oposição armada presenteou os sírios com explosões e ataques em cidades diferentes, em vez de dar-lhes a paz e calma durante as festividades.
Hoje, alguns comentários indicam que a paz na Síria não está ao virar da esquina, mas torna-se cada vez mais claro o reconhecimento de quem está por trás da violência, e até onde vão as suas aspirações.
O líder da organização Al-Qaeda, Aiman Zawahiri, em um discurso televisionado na última quinta-feira, pediu a seus seguidores e ativistas na Síria a escalada das ações terroristas, assim como exigiu que seus seguidores no mundo islâmico se dirigissem a este país para a Jihad (guerra santa), segundo denunciou na véspera a chancelaria local.
O chanceler russo Sergei Lavrov sublinhou nesta segunda em Moscou a importância de que a comunidade internacional respalde o diálogo entre o governo sírio e a oposição para garantir o sucesso na busca de uma solução.
Agora, é evidente que essas gangues armadas, com inclinações ou vínculos com a Al-Qaeda, não são uma alternativa para os sírios que rejeitam suas atividades terroristas e negam qualquer apoio.
Lavrov disse que seu país pediu a restauração da missão de observadores internacionais na Síria e determinará seu número e também considerou necessário enviar uma delegação de investigação da ONU a esta nação, observando que isto só seria possível no caso de se chegar a um cessar-fogo.
Lavrov reiterou que a questão mais importante neste período é forçar todas as partes em conflito a respeitar o cessar-fogo sírio e sentar-se à mesa de negociação. Ele manifestou que isso era parte de suas conversas com Brahimi.
O enviado da ONU, por sua vez, alertou que a situação neste país vai de mal a pior, observando que a comunidade internacional deve trabalhar em conjunto para ajudar os sírios a chegarem a uma solução para a crise.
Enquanto isso, em Seul, o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que não se pode resolver o problema com mais armas e sangue.
Nesta conjuntura, se inscreve uma análise da situação publicada pelo jornalista francês Thierry Meyssan, que denuncia ações das autoridades de Paris para alterar o regime sírio.
O artigo, publicado pela Rede Voltaire, agrega que, em uma mesa redonda realizada em Ancara, o almirante James Winnefeld, vice-presidente do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, confirmou que, após as eleições presidenciais de 6 de novembro de Washington revelará seus planos.
O almirante deixou entender claramente a seus interlocutores turcos que já negociou com Moscou um plano de paz, que Bashar Al-Assad vai permanecer no poder e que o Conselho de Segurança da ONU não vai autorizar a criação de zonas de exclusão, acrescenta o comentário.
Por sua parte, o secretário-geral adjunto da ONU, encarregado das operações de paz, Hervé Ladsous, confirmou que estuda o possível envio de forças de paz da ONU na Síria.
Todos os agentes da região, diz Meyssan, portanto, estão se preparando para um cessar-fogo imposto por uma força da ONU composta por tropas da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (Arménia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tadjiquistão ).
Isso significa concretamente que os EUA continuam a sua retirada da região, que começou pelo Iraque, e que Washington aceita compartilhar com Moscou a sua influência no Oriente Médio, disse o analista francês.
Ele salienta ainda que esta nova distribuição das cartas do jogo ocorre em detrimento da Arábia Saudita, França, Israel, Qatar e Turquia, países que apostaram fundo na mudança de regime em Damasco.
O tempo dirá a última palavra sobre aproximações que, como este, apontam para uma solução pacífica da crise da Síria.
Fonte: Prensa Latina