Luís Carapinha: Revolução bolivariana

De repente a Venezuela desapareceu da grelha mediática dominante. Outra seria a história se Capriles tivesse vencido o sufrágio de 7 de outubro. Mas não. Chávez foi reeleito com mais de oito milhões de votos e 11 pontos de avanço em eleições em que votaram oito em cada 10 venezuelanos recenseados. Nas hostes do candidato da direita ainda se enxugam as lágrimas.

Por Luís Carapinha, em Avante!

Se a vitória bolivariana se afigurava mais do que previsível para qualquer observador minimamente avisado, a verdade é que a campanha dirigida desde os centros da conspiração ultrapassou todas as marcas para fazer passar a ideia do “empate técnico”. A falsa perspectiva ajudou o auto-engano dentro e fora da Venezuela. Mas a limpidez do triunfo popular cortou as vazas aos planos que visavam deslegitimar os resultados e desestabilizar o país. A torrente de infâmia voltará por certo dentro de momentos.

Ao fim de 14 anos de intensa luta de classes, o processo venezuelano continua a dar lições de exemplar participação democrática e unidade popular que ninguém pode ignorar. Pacífica mas não desarmada, a revolução bolivariana prossegue o ritmo da marcha emancipadora sem se esgotar no quadro de “democracia representativa” que continua a observar, o que dói particularmente à burguesia e ao imperialismo.

A renovação do mandato constitucional do presidente Chávez até 2019 representa uma janela aberta para continuar a acumular forças no caminho transformador alicerçado na independência nacional e prosseguir o trabalho de consolidação da mudança reclamada pelas grandes massas. Uma vitória transcendental para o movimento libertador na América Latina, os povos do Sul e as forças revolucionárias e progressistas no mundo neste tempo conturbado, pleno de ameaças, de crise estrutural do capitalismo.

Ao mesmo tempo há consciência de que a revolução, com fragilidades e contradições próprias, está longe de ser um dado irreversível. Os 6,5 milhões de votos somados por Capriles, mesmo descontando o saldo demagógico de uma campanha em que se apresentou como campeão da “esquerda democrática”, mostram que a direita conserva uma significativa base eleitoral de extrato popular. A profunda capacidade de análise autocrítica e de identificação e correção de erros e falhas são elementos essenciais num processo revolucionário. Na certeza de que, como afirma o secretário-geral do PCV, Oscar Figuera, os avanços do processo venezuelano «são inquestionáveis e superam quaisquer desacertos» (Correo del Orinoco, 14.10.12).

No plano eleitoral a batalha prossegue para já com as eleições de Dezembro para governadores e conselhos regionais dos 23 estados venezuelanos. No plano estratégico, os olhos estão postos na aprovação, em Janeiro, do II plano de gestão socialista para 2013-19 que se assume como programa da transição socialista e aprofundamento da democracia participativa. No seu preâmbulo pode ler-se: “a formação socio-econômica que todavia prevalece na Venezuela é de caráter capitalista e rentista. Certamente o socialismo apenas começou a implantar o seu próprio dinamismo interno (…) Este é um programa para precisamente assegurá-lo e aprofundá-lo, direcionado para uma radical supressão da lógica do capital que deve ir sendo cumprida passo a passo, mas sem diminuir o ritmo do avanço para o socialismo”.

São enormes os desafios teóricos e práticos colocados à revolução venezuelana. A progressão da consciência popular é fator alentador neste processo de dimensão histórica. O PCV insiste na necessidade básica de construção dos instrumentos de unidade e fortalecimento dos espaços de direção coletiva para a salvaguarda da revolução. A ameaça imperialista não pode ser subestimada no preciso momento em que a diretora do FMI afirma em Tóquio que o patamar médio da dívida pública das economias [capitalistas] mais desenvolvidas de 110% do PIB está próximo dos níveis de tempos de guerra…

A solidariedade com a Venezuela bolivariana é um imperativo mais actual do que nunca.