30% dos idosos continuam trabalhando
Para evitar a depressão, completar a renda ou sustentar a casa, os idosos já não se limitam mais ao crochê e ao jogo de dominó.
Publicado 01/10/2012 08:55 | Editado 04/03/2020 16:40
Seu Cícero que o diga. Aos 80 anos, o trabalhador rural cuida do gado e continua vendendo verduras e frutas em sua chácara, em Planaltina, e não pensa em diminuir o ritmo. Ele faz parte de 29,44% da população idosa do Distrito Federal que permanece ativa e ocupada. Dado divulgado no levantamento feito pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).
Apesar de não escutar direito, Cícero Alves garante que tem a saúde de ferro. “Só adoeço quando deixo de pegar no batente. Laço e castro bezerros como antigamente e não fico devendo nada ao pessoal mais novo”, garante. Ele assegura que tem 31 filhos e diz que agora é a hora de ajudar a criar os netos. “Dinheiro sempre é bem-vindo”, conta Seu Cícero, que também faz capoeira nas horas de lazer.
Para Paula Ribeiro, defensora pública do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, a população com mais de 60 anos é ativa e não quer abrir mão de sua independência. “Eles continuam trabalhando para não caírem na tristeza. Muitas vezes, também, se mantêm economicamente ativos para continuarem sustentando a família”, explica Paula. A pesquisa da Codeplan indica que 15,56% dos domicílios do DF são chefiados por idosos. Mostra também que a responsabilidade é maior nas faixas de 70 anos ou mais.
INCANSÁVEIS
A simpática Aurabella Barreto, 75, é líder comunitária e trabalha com idosos há 18 anos. Incansável, ela faz os afazeres domésticos em casa, cuida do filho deficiente, cria dois netos e ainda coordena projetos voltados para idosos em Samambaia, onde mora. “Não penso em parar e nem imagino como seria se tivesse que ficar em casa, sentada em frente à televisão”, conta. Ela dança forró, viaja com as amigas e está sempre bolando um projeto diferente para entreter o grupo de idosos que assiste. “Todas essas atividades são vitais para manter a minha saúde em dia. Acabo não tendo tempo nem para ficar doente”, brinca.
Para sustentar a casa e complementar a pensão por viuvez que recebe do governo, a costureira Francisca Franco levanta todos os dias às 6h e só consegue descansar quando já está quase na hora de dormir. “Faço comida, limpo a casa e depois parto para a costura. É uma rotina cansativa, mas necessária”, afirma a moradora do Varjão. “Adoeci quando, além de costurar e cuidar da casa, precisei também cuidar do marido doente”, conclui Francisca.
Com uma Secretaria Especial criada só para eles, os idosos sabem reinvidicar seus direitos. “Eles cobram melhorias nos centros de convivência, reclamam dos valores de remédios, pedem mais lazer”, exemplifica a defensora Paula Ribeiro.
Mas existe também o outro lado. A falta de educação financeira é motivo de preocupação nessa faixa etária. “Eles já não sabem mais como lidar com dinheiro, adquirem dívidas e empregam mal o que ganham. Isso quando não são explorados pelos filhos e netos”, revela o economista da Universidade de Brasília, Newton Marques.