Torcedores do Athletic Bilbao solidarizam-se com a Palestina
A Rede Euskal Herria Palestina, a torcida organizada do Athletic Club, Herri Norte Taldea (HNT) de Bilbao, e o grupo BDS no país Basco convocaram uma jornada de solidariedade ao povo palestino em ocasião do jogo entre o clube basco e o Hapoel Kiryat Shmona, israelense, disputado na quarta-feira (21) no estádio de San Mamés em Bilbao e que terminou em empate por 1 gol.
Publicado 21/09/2012 16:34
Convocada por Euskal Herria Palestina Sarea e o grupodo BDS de Bilbao, centenas de militantes internacionalistas realizaram um trabalho intenso de difusão e de denúncia antes e durante o desenrolar da partida de futebol entre os dois clubes, como forma de pressão contra o Estado de Israel ante a ocupação, bloqueio e violação dos direitos humanos que padece o povo palestino.
Nas horas anteriores ao encontro, os membros da associação EH-Palestina Sarea distribuiram panfletos com informação sobre o protesto nas imediações do estádio, recebendo a adesão da maioria dos torcedores que pouco a pouco se aproximavam para ver a partida.
Durante o encontro, já dentro do estádio, a demanda do povo palestino ficou visível em diferentes setores do campo, mediante a exibição de bandeiras palestinas, cartazes convocando o boicote a Israel e uma grande bandeira aberta pelos torcedores atrás de um dos gols do campo com o lema "Free Palestina" (Palestina Livre).
Israel na Europa
Os torcedores da equipe basca entoaram cânticos pro-palestina e realizaram um protesto em ruas da cidade contra a presença da equipe israelense na competiçao e também por um boicote contra o país asiático.
Na convocatória, os grupos convocaram um boicote contra produtos fabricados em Israel e contra a presença de equipes daquele país na UEFA, a associação de futebol da Europa. "Israel se situa na Europa? Pouco a pouco nos acostumamos a ver Israel participar de campeonatos europeus de futebol, basquetebol e outros esportes, muitas vezes sem nos perguntar o que essas associações esportivas israelenses fazem por aqui".
Até os anos 1970, Israel pertencia à União Asiática de Futebol, como seria natural. Após severas disputas com os países vizinhos, Israel foi expulso dessa Associação, entretanto, em 1984, e de forma incompreensível, a UEFA aceitou Israel como membro de pleno direito.
Na quinta-feira (20), a equipe basca do Athletic jogou contra o desconhecido Hapoel Kiryat. Torcedores e ativistas se perguntaram de como é possível tolerar que jogadores do clube israelense pudessem jogar em estádios de futebol da Europa sendo que alguns deles moravam em assentamentos ilegais, em território ocupado palestino.
Outros se perguntaram de como era possível que a Europa, um território que se autointitula "Continente dos Direitos e das Liberdades", tolere a presença de jogadores que, até outro dia, cumpriam serviço militar no exército de ocupação israelense, levando muito sofrimento aos palestinos.
Outra pergunta levantada pelos torcedores e ativistas era de como a Europa podia tolerar uma associação que impedia a prática de futebol de uma outra associação vizinha, no caso filiada à FIFA, como é a Federação Palestina de Futebol, algo que aconteceu nas eliminatórias dos mundiais de 2006 e de 2010, quando Israel proibiu que a Palestina disputasse partidas em seu próprio território;
Durante o ato de repúdio à presença da equipe israelense em Bilbao, no estádio San Mamés, os ativistas e os torcedores convocaram um boicote para provocar a mudança de situação de injustiça e violência institucional para a de justiça e paz.
"Dada a passividade política internacional ante os crimes israelenses e o fracasso contínuo das 'negociações de paz', em 9 de julho de 2005 mais de 160 organizações palestinas lançaram a Convocatória da Sociedade Civil ao Boicote, Desinversão e Sanções (BDS) contra o Estado de Israel, até que este cumpra com o Direito Internacional e respeite os princípios universais dos Direitos Humanos.
A convocatória foi inspirada na luta dos sul-africanos contra o Apartheid e tomou como referência a exitosa campanha internacional que a organização BDS conduziu contra o regime racista.
O clube de Israel, o Hapoel Kiryat Shmona, é sediado em um povoado construído sobre as ruínas da cidade palestina de Al-Khalisah, que tinha uma população de 2.134 habitantes. Em 11 de maio de 1948 a cidade foi atacada pelos grupos terroristas haganá e Irgún e, como a maioria das cidades e povoados palestinos no ano da Nakba (Tragédia), sofreu a aplicação da limpeza étnica e a redução a escombros de seu casario e estruturas civis.
O assentamento Kiryat Shmona foi fundado por sionistas europeus em 1950.
Direção do Athletic tem medo
O caso é que nesses dias ventilou-se em Bilbao que a diretoria do clube, em reuniões oficiais ou contatos com os torcedores organizados, não gostou do uso de símbolos palestinos no prélio entre as duas equipes.
A diretoria do Athletic interpreta que a bandeira palestina é "um símbolo provocativo" para Israel e para a UEFA. Assim, não se pode descartar que ela não tenha uma posição de defesa de Israel e da ocupação da nação palestina.
A diretoria do Athletic não é uma organização internacionalista, revolucionária ou independentista do País Basco, isso é claro. Nenhuma direção de uma equipe esportiva de alta competição teria de ser assim, porque se fosse, entraria em contradição com o negócio que gerencia.
Pretender que a direção do clube mantenha certos princípios dentro dessas diretivas pode parecer ridículo para um esporte que cada vez é mais mercadoria que competição. No entanto, causa repúdio verificar que essa diretoria age de um modo totalmente submisso em relação aos que – como dizem seus torcedores – ocupam o País Basco e utilizam a lei para proibir a divulgação de símbolos bascos de qualquer espécie.
Que o digam as quase duas centenas de presos políticos que a Espanha mantém no País Basco há décadas.
O clube, que se orgulha de não ter nenhum jogador "estrangeiro" atuando em sua linha – todos são nascidos no País Basco ou são descendente diretos de bascos –, tem uma parte da torcida conhecida mundialmente por assumir posições de esquerda e internacionalistas.
Agora fala-se na Europa em punição ao Athletic por causa da atitude de parte de sua torcida.
A diretoria do Athletic manifestou uma falta de solidariedade enorme com um povo que, da mesma forma que o basco, nunca viu seus direitos nacionais serem respeitados e que passa por uma situação de certa forma parecida – mas muito pior também – à que os bascos padeceram nos últimos séculos.
De São Paulo
Humberto Alencar