Apenas 15% dos professores no ensino superior pago são doutores
O número de professores com doutorado nas instituições de ensino superior privado no País aumentou apenas 3,3 pontos porcentuais em uma década, de 2001 a 2010. Do total de docentes nas entidades particulares, 15% têm grau acadêmico de doutor – cerca de 33 mil pesquisadores. Nas instituições públicas, o porcentual de doutores saltou de 36% para 50% no mesmo período.
Publicado 15/09/2012 19:01
Os dados sobre a evolução na titulação dos professores fazem parte do relatório do Censo da Educação Superior de 2010, consolidado em agosto deste ano pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).
No documento, o Inep afirma que o porcentual atual das funções docentes de doutorado nas particulares é "bastante reduzido". Já a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) – entidade que representa 400 instituições privadas – alega que a maioria das unidades particulares não tem o título de universidade.
Segundo o consultor educacional da Abmes, Celso Frauches, como a maioria das instituições privadas é formada por centros universitários ou faculdades, não haveria obrigação de realizar uma pesquisa com professores de maior titulação nem de oferecer cursos de doutorado, por exemplo. "Essas instituições não são destino do professor-doutor", afirma Frauches.
Mas, segundo o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Alavarse, as faculdades devem sim "problematizar" algum tipo de pesquisa. Segundo Alavarse, o professor com doutorado teria uma preparação mais sólida. "O título de doutor não significa um título de nobreza, significa que alguém passou pelo menos sete anos como pesquisador."
Relevância. O MEC também destaca a importância dos doutores no conjunto das instituições privadas. "Obrigatório ou não, é sempre bom um professor titulado. A formação de pós-graduação é importante também nas faculdades", afirma o secretário de Educação Superior da pasta, Amaro Lins.
Para José Roberto Covac, presidente do Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino de São Paulo (Semesp), o MEC deveria oferecer mais vagas e bolsas de estudo nos programas de pós-graduação. Ele alerta que a contratação de professores com maior titulação e em regime de dedicação exclusiva para desenvolvimento de pesquisa teria um impacto "evidente" na folha de pagamento das instituições privadas. "O que pode gerar um risco de eventual elitização do ensino", fala.
Segundo Ana Maria Ramos, do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) em São Paulo, as instituições privadas deveriam oferecer plano de carreira para o seu corpo docente.
O analista da Hoper Educação Alexandre Nonato destaca um outro ponto. De acordo com ele, no interior do País e em alguns Estados não haveria doutores em número suficiente para atender à demanda das instituições particulares. "O MEC precisa encontra uma solução para ajudar as privadas", afirma.
Essa questão pode ser confirmada ao se analisar os dados de formação de doutores no País. Segundo o MEC, enquanto São Paulo formou quase 5 mil dos 12 mil doutores em 2011, os Estados da Região Norte formaram apenas 214.
Domínio. O quadro de titulação nas privadas deixou de ser dominado pela especialização. Em 2001, os docentes com nível de até especialistas eram 52%. No final da década, o porcentual ficou em 41%. Essa mudança fez com que o número de mestres assumisse o topo, representando 43%do quadro geral.
Fonte: Estadão