Derrubada de Allende: Experiência dolorosa para latino-americanos
No dia 11 de setembro de 1973 o Exército do Chile derrubou o presidente democraticamente constituído Salvador Allende. O golpe de Estado levou à morte, aos 65 anos, do líder socialista e deu começo ao genocídio de milhares de chilenos.
Publicado 04/09/2012 18:57
A ação, planejada por generais do Alto Comando das Forças Armadas e de Carabineros (polícia), foi dirigida pelo general de Exército Augusto Pinochet Ugarte e que recebeu intima colaboração da norte-americana Agência Central de Inteligência (CIA), e de vários grupos de poder nacionais e internacionais.
O fim do governo de Allende deu inicio ao Regime Militar, uma cruel ditadura encabeçada por Pinochet e que duraria mais de 17 anos, deixado um saldo de mais de 3 mil desaparecidos.
Allende, eleito por meio de voto popular em 4 de setembro de 1970, se mantém como um dos personagens mais simbólicos da história política do Chile e dos povos progressistas da América Latina.
Apesar de defender a via pacífica para o socialismo, que postulava um socialismo democrático e pluripartidarista, os mil dias do governo Allende concluíram naquele 11 de setembro de 1973.
Sentença de morte
Uma vez que Allende assumiu a presidência começou a história para avançar na construção do socialismo pela via não-armada.
Foram reatadas as relações diplomáticas com todos os paises socialistas. Especial significado teve o restabelecimento das relações com Cuba, o que ajudava a romper o injusto bloqueio imposto à Ilha pelos EEUU.
Aprofundou-se a Reforma Agrária, com a expropriação de terras. O Governo Popular pôs fim ao latifúndio em 1972 e iniciou-se a nacionalização do cobre.
Também foram nacionalizados Bancos privados, acertando um duro golpe na oligarquia financeira.
Este conjunto de medidas estruturais provocou reações brutais e teve inicio um bloqueio econômico internacional por parte dos Estados Unidos, com o congelamento das vendas de cobre ao exterior, enquanto que no Chile a reação implementou a sabotagem interna, o estoque de mercadorias, insumos e peças de reposição.
As campanhas de desprestigio feitas pela mídia, os chamamentos e as pressões da direita e o império das Forças Armadas (FFAA) para que aplicassem um golpe de estado, foram a cada dia de maior intensidade.
O Congresso, com maioria demo-direitista, aprovou um voto que estabeleceu a inconstitucionalidade do Governo Popular; isto deu aos golpistas a legitimidade para o golpe de Estado.
O golpe começou de madrugada
A primeira tentativa de derrubar Allende se materializou em junho de 73, através de um fracassado ‘Tanquetaço’. Em 29 de julho, o auxiliar de campo de Allende, comandante Araya Peters foi assassinado, enquanto continuavam as pressões contra os militares leais ao Governo.
O golpe tinha sido planejado para o dia 15 ou 16 de setembro afim de camuflar a movimentação de tropas com o tradicional desfile militar de 19 de setembro, entretanto foi antecipado para o dia 11.
A operação militar começou de madrugada, com o levante da Marinha. Em seguida se alastrou por todo o território.
Às 6h20 desse dia, o presidente recebeu uma ligação telefônica na sua residência da Rua Tomás Moro informando-o do golpe militar em andamento. Imediatamente põe a sua guarda pessoal em estado de alerta e toma a firme decisão de deslocar-se ao Palácio da Moneda para defender, do seu posto de Presidente da República, ao governo da Unidade Popular.
É escoltado por 23 homens armados com 23 fuzis automáticos, duas metralhadoras calibre 30 e 3 bazucas, tudo levado ao Palácio Presidencial, aonde chegam às 7h30, em quatro automóveis e uma camionete.
Portando o seu fuzil automático, o presidente, acompanhado pela escolta, entrou pela porta principal do Palácio da Moneda. Até aquele momento a proteção habitual de carabineiros mantinha-se no Palácio.
Reúne-se, já no interior do Palácio, com os homens que o acompanharam e os informa da gravidade da situação e da sua decisão de combater até a morte defendendo o governo constitucional, legitimo e popular do Chile diante do golpe fascista. Analisou as forças disponíveis e ditou as primeiras instruções para a defesa do Palácio.
Sete membros do Corpo de Investigações chegaram para juntar-se aos defensores. Enquanto isto, as sentinelas de carabineiros mantinham-se em seus postos e alguns tomavam medidas para a defesa do prédio. Um pequeno grupo da escolta pessoal toma conta da entrada da sala de despachos presidencial com instruções de deixar passar a nenhum militar armado para evitar qualquer traição.
No intervalo de uma hora o presidente Allende se dirige ao povo, via rádio, para expressar a sua vontade de resistir.
Após as 8h15, pelos alto-falantes do Palácio a junta fascista convoca o presidente à rendição e renúncia do seu cargo, oferecendo-lhe um transporte aéreo para abandonar o país em companhia de sua família e colaboradores. O presidente responde que “como generais traidores que são não conhecem os homens de honra” e rechaça indignado o ultimatum.
No seu despacho o presidente realiza uma breve reunião com vários altos oficiais do Corpo de Carabineiros que tinham acudido ao Palácio e que, naquele momento, recusavam-se covardemente a defender o governo. O presidente os repreende duramente e os manda embora com desprezo.
Às 9h15, aproximadamente, começam as primeiras descargas do exterior contra o Palácio. Tropas fascistas de infantaria, em número superior a duzentos homens, avançam pelas ruas Teatinos e Morandé, que ladeiam a Praça da Constituição, rumo ao Palácio Presidencial, atirando contra a sala de despachos do presidente. As forças que defendiam o Palácio não passavam de quarenta homens.
O presidente ordena abrir fogo contra os atacantes e ele, pessoalmente, também atira contra os fascistas que retrocedem desordenadamente com numerosas baixas.
A violenta luta se prolonga por mais de uma hora sem que os fascistas consigam avançar um centímetro.
Por volta do meio dia começa o ataque aéreo. Os primeiros foguetes lançados pelos aviões caíram no pátio de inverno que fica no centro do Palácio da Moneda, perfurando o telhado e explodindo no interior das edificações.
Uma das explosões quebrou as janelas próximas de onde o presidente se encontrava lançando fragmentos de vidro que o feriram nas costas. Foram as suas primeiras feridas.
Às 2 horas, aproximadamente, os fascistas conseguem ocupar um ângulo do segundo andar do prédio. O presidente se protegia, junto a vários de seus companheiros, num dos cantos do Salão Vermelho.
É neste momento que ocorre a sua morte, da qual existem varias versões. Uma diz que ele morreu combatendo na defesa do Palácio, outra que foi assassinado quando estava ferido e uma terceira diz que preferiu suicidar-se a render-se.
A terceira versão recebe mais créditos depois que, naquele dia, o presidente declarara através da rádio Magallanes: “Pagarei com a minha vida pela lealdade do povo”.
Entretanto, Fidel Castro, lider cubano e amigo de Allende, escreveu num testemunho publicado no livro “Grandes Alamedas: O combate do presidente Allende”, de Jorge Timossi, no qual assegura que o presidente chileno foi assassinado com dois disparos, um no estomago, que não o fez sucumbir e um segundo impacto no peito, que o derrubou “e já moribundo foi metralhado”.
Eis as últimas palavras do companheiro presidente Salvador Allende ao povo do Chile:
“Trabalhadores da minha pátria: tenho fé no Chile e seu destino. Outros homens superarão este momento gris e amargo, onde a traição pretende se impor. Continuem sabendo que, muito mais cedo do que tarde, se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre para construir uma sociedade melhor. Viva o Chile! Viva o povo! Vivam os trabalhadores!!!
Estas são minhas últimas palavras, tendo a certeza de que o sacrifício não será em vão. Tenho a certeza de que, pelo menos, haverá uma sansão moral que castigara a felonía, a covardia e a traição.”
Fonte: Anncol, do original na TeleSUR