Nobel da Paz defende que Blair e Bush sejam julgados
O arcebispo sul-africano Desmond Tutu, prêmio Nobel da Paz e um dos heróis da luta contra o apartheid em seu país, fez duras críticas ao ex-presidente dos EUA George W. Bush e o ex-premiê britânico Tony Blair. Em um artigo ao jornal semanal britânico The Observer publicado neste domingo (2), Tutu diz que os dois deveriam ser julgados na corte internacional de Haia, na Holanda, “pela devastação física e moral causada pela [segunda] guerra do Iraque (2003)”.
Publicado 03/09/2012 11:49
No artigo, intitulado “Porque eu devo desprezar Tony Blair”, o líder religioso explica porque se recusou a se sentar ao lado de Blair na última semana durante uma conferência internacional realizada em Johanesburgo sobre "liderança".
Tutu diz que os argumentos usados por EUA e Reino Unido para liderar uma coalizão internacional e atacar o país árabe foram baseados em mentiras. O objetivo seria, segundo Tutu, unicamente derrubar o regime de Saddam Hussein. “Não posso sentar ao lado de alguém que justifica a invasão ao Iraque com uma mentira”.
“A imoralidade da decisão dos Estados Unidos e do Reino Unido em invadir o Iraque em 2003, sob a premissa mentirosa de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, desestabilizou e polarizou o mundo com uma extensão jamais vista em outro conflito na história”, escreveu o líder religioso.
Em 2003, Bush, com apoio incondicional do governo britânico, invadiu o Iraque sob a justificativa de que Saddam estaria guardando armas de destruição em massa, o que se comprovou, anos depois, que não era verdade. A invasão, no entanto, não foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU e rechaçada por grande parte da população mundial. Uma das grandes dificuldades dos norte-americanos foi enfrentar uma forte oposição da França e da Alemanha, tradicionais aliados.
Tutu lembra também as consequências do conflito na sociedade iraquiana de hoje. “6,5 pessoas morrem por dia em ataques suicidas provocados por explosões de automóveis, de acordo com o projeto Iraqi Body Count; mais de 110 mil iraquianos morreram nesse conflito depois de 2003, e milhões ficaram desabrigados. Até o fim do último ano, cerca de 4500 soldados norte-americanos morreram e mais de 32 mil ficaram feridos”, acrescenta.
Por essa razão, ele afirma que os responsáveis por esses números e perdas de vidas humanas “deveriam seguir o mesmo caminho que alguns de seus pares africanos e asiáticos, que tiveram de responder por seus atos diante da corte internacional de Justiça em Haia (Holanda)”, defende.
Resposta
O premiê britânico, no entanto, parece irredutível em suas convicções. A resposta veio em seu site na internet, na qual Blair afirma que tem “um profundo respeito pela luta do Arcebispo contra o apartheir – onde estivemos do mesmo lado da luta”. “Mas repetir a velha história de que nós mentimos sobre [as conclusões dos serviços de ] inteligência é completamente errado, como todas investigações independentes já demonstraram”.
Ele também disse considerar bizarro o fato de Tutu ter dito que era “irrelevante” se Saddam “era bom ou mau”, pois isso não justificaria a “moralidade” da coalizão para invadir o Iraque, citando diversos massacres atribuídos ao ex-ditador.
Outra justificativa usada por Blair foi que a economia iraquiana, segundo ele, cresceu três vezes mais do que na época do regime de Saddam, “e os investimentos cresceram enormemente em regiões como Basra”.
Fonte: Opera Mundi