A força das vozes femininas marca a MPB -II

Algumas novas cantoras brasileiras apresentam seus talentos e não são notadas por essa mídia comprometida com o fugaz e com o estrangeiro, submissa às multinacionais.

Por Marcos Aurélio Ruy*

Lúcia Menezes

Pouco se vê sobre elas em jornais e revistas, mesmo as ditas especializadas em cultura. Isso sem falar em emissoras de rádio e TV.

As dificuldades enfrentadas por artistas que não entram nos esquemas da indústria cultural chegam a ser cruéis. As expressões artísticas são marginalizadas e sufocadas em seus cantos. Somente com muita perseverança e talento pode-se vencer essa indústria calcada em cifras. O mercado brasileiro tem predominância de multinacionais, o que prejudica e muito a difusão de nossa cultura, ainda mais a nossa cultura popular. A mídia nada é mais do que a porta-voz desses esquemas nada ortodoxos de prevalência de “gostos”. É como aquele famoso comercial de um biscoito: “vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”.

Só que arte e comércio mal se coadunam. E para o bom desenvolvimento da arte, os novos talentos precisam de espaço e precisam respirar ares de liberdade de criação. Somente assim, a cultura pode desenvolver-se dentro do espírito de seu tempo e transpor o próprio tempo. Mais vozes femininas como as destacadas aqui precisam e merecem mais espaço.

Lúcia Menezes

Conforme o produtor e jornalista Beto Feitosa a cantora cearense Lúcia Menezes, “canta como quem borda em um delicado tecido. E assim vai fazendo sua estrada pessoal e apaixonada”.

Já em seu quinto CD, Lucinha, ela mostra uma força de interpretação rara, com repertório bem trabalhado que vai de Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira, Ednardo, Tom Zé, Geraldo Pereira e outros grandes artistas. Lúcia Menezes canta sambas, choros, forrós, toadas, maracatu, com a mesma desenvoltura. Destaque para Injuriado, de Chico Buarque.

Injuriado
De Chico Buarque, com Lúcia Menezes

Se eu só lhe fizesse o bem
Talvez fosse um vício a mais
Você me teria desprezo por fim
Porém não fui tão imprudente
E agora não há francamente
Motivo pra você me injuriar assim
Dinheiro não lhe emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você nada está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora falando de mim

(*) Colaborador do Vermelho