Resolução anti-Síria: Dia da infâmia na Assembleia-Geral da ONU
No dia 3 de Agosto a Assembleia-Geral da ONU ignorou a regra da lei. Os estados membro juraram defendê-la, ao invés de se dobrarem às ameaças e intimidações dos EUA.
Por Stephen Lendman [*]
Publicado 06/08/2012 15:52
Ela aprovou a resolução não obrigatória 133-12 sobre a Síria. Trinta e um países abstiveram-se. A covardia define o seu fracasso em fazer a coisa certa.
A Arábia Saudita redigiu a medida. Ela a trabalhou em parceria com o Catar e talvez também o Barein.
A Rússia classificou a medida de "enviesada e desequilibrada". Era isso e muito mais. Ignorou a realidade no terreno. Deu cobertura à guerra de Washington por procuração.
A resolução endossou a carnificina e a destruição diária. Ignorou a responsabilidade do Ocidente / Liga Árabe / Israel pela devastação de mais um país não beligerante. Desprezou milhões de sírios.
Na história da ONU, o dia 3 de Agosto de 2012 viverá na infâmia.
Observadores honestos não esquecem quão irresponsavelmente os países atuaram. Ao mesmo tempo, 12 países corajosos tomaram a atitude correta. Eles são a Rússia, China, Síria, Irã, Cuba, Venezuela, Nicarágua, Bolívia, Belarus, Mianmar, Coreia do Norte e Zimbabwe.
O representante da Síria na ONU, Bashar al-Jaafari , condenou a resolução. Classificou-a como uma campanha histérica anti-Síria. A Carta Fundamental da ONU e outros princípios legais foram violados.
A soberania nacional foi ignorada. Só os interesses imperiais foram servidos. Os sírios foram traídos.
O terrorismo patrocinado pelo ocidente foi endossado. Fazer isso assegura maior violência, matanças em massa e miséria humana.
"Alguns países que travaram guerras sob o pretexto de combater o terrorismo estão a apoiar, direta e indiretamente, os actos destes grupos terroristas armados, dentre os quais está a Al-Qaida", disse al Jaafari.
Acrescentou que os promotores da resolução, Arábia Saudita, Qata e Barein, são "oligarquias despóticas". Eles são parceiros imperiais. Eles são cães de ataque para guerras regionais de Washington. Eles são estados bandidos fora da lei.
Eles perseguem, prender, aprisionam, torturam e brutalizam o seu próprio povo. São implacáveis contra qualquer que apoie publicamente justiça política, econômica e social. Os seus regimes não têm legitimidade.
Eles silenciam acerca das atrocidades em curso no Afeganistão, Iêmen, Somália, Palestina e seus próprios países. Apoiaram a guerra de Washington contra Kadafi.
Ajudaram a assassinar dezenas de milhares de líbios. Apoiam sua atua liderança fantoche. Riem-se da regra da lei, dos princípios e dos valores democráticos. Tratam o povo como lixo e ostentam isso.
Eshagh Alehabib, a atuar como enviado interino do Irã, chamou a resolução de "unilateral". Ela "não terá qualquer impacto. É uma peça de teatro".
O embaixador britânico na ONU, Mark Grant, disse que a resolução não pretendia ser equilibrada. Descaradamente apontou o dedo na direção errada.
Susan Rice, enviada dos EUA à ONU, refletiu a visão de Grant. Ela saltou o seu histrionismo habitual. Ao assim fazer não suavizou seu desrespeito para com os fundamentos do direito internacional e da lei constitucional.
O enviado da Rússia, Vitaly Churkin , acusou os países ocidentais de ocultarem objetivos.
A medida "agravará a abordagem confrontacional para a resolução da crise síria e de modo alguma facilitará movimentos das partes rumo a uma plataforma de diálogo e uma busca de uma resolução pacífica da crise no interesse do povo sírio".
Outros países que votaram não disseram que a Síria enfrenta forças que apoiam o terrorismo.
Os países que votaram sim condenaram a Síria por crimes apoiados pelo Ocidente. A linguagem da Assembleia-Geral ridicularizou a legitimidade e a justiça. Endossou o lado errado. Deram uma folha de parreira como cobertura para maior intervenção ocidental.
O Conselho de Segurança fracassou lamentavelmente. A resolução tem como objetivo direto a Rússia e a China. Até então, seus vetos impediram a guerra em plena escala.
A questão é por quanto tempo. Washington desde há muito tem planos para mudança de regime. Todos os meios são empregados. Contagens de corpos não importam. As prioridades imperiais têm precedência. Elas incluem dominação regional não desafiada da Rússia e nas fronteiras da China.
Hipocritamente, a resolução exprimiu graves preocupações por violações de direitos humanos. Mentiram ao dizer que a Síria utiliza armas pesadas contra o seu próprio povo. Elas são utilizadas para defendê-lo contra esquadrões da morte assassinos.
Ela errada afirma que Assad "ameaça utilizar armas químicas ou bacteriológicas".
Tal ameaça nunca foi feita. A Síria admitiu ter armas químicas. As biológicas não foram mencionadas. O porta-voz do Ministérios dos Negócios Estrangeiros, Jihad Makdissi, disse que a Síria só utilizaria armas químicas contra a agressão externa. Distorções, más interpretações e mentiras deliberadas seguiram-se aos seus comentários.
A linguagem da resolução afirma hipocritamente preocupação pela "paz e segurança internacional" e exprime "lamento profundo pela morte de muitos milhares de pessoas".
Ao mesmo tempo, ignora a matança e destruição em massa patrocinada pelo Ocidente. A alegada preocupação acerca da proteção de civis ignora os esquadrões da morte, proxy de Washington, que os assassinam.
Ela descaradamente endossou direitos humanos fundamentais. Ao mesmo tempo, as partes responsáveis por violá-los não são mencionadas.
Seu apelo à "transição política" ignorar os fundamentos do direito internacional. Ao assim fazer viola direitos soberanos sírios. As eleições parlamentares livres, justas e abertas de Maio não foram mencionadas. Monitores internacionais independentes endossaram-nas.
Os membros do partido dominante Baath ganharam uma convincente maioria de 60%. Repetir o que está cumprido é irresponsável. Exigi-lo é exorbitante.
A desvergonha definiu a votação de 3 de Agosto. Tal votação perpetua o conflito. A escalada, não a resolução, é o que se seguirá. Cento e trinta e três países têm sangue nas suas mãos.
Comentário final
As mídias "de referência" aclamaram o voto da Assembleia-Geral. Ao longo do conflito, eles endossaram a ilegalidade imperial. Eles estimulam todas as guerras dos EUA, diretas, proxy e planeadas.
Um coro virtual de aleluias unânimes exprimiu comentários semelhantes. A verdade e a informação completa estiveram ausentes. Os perpetradores de crimes foram absolvidos. As vítimas foram culpabilizadas.
O New York Times considerou a resolução como uma crítica esmagadora à política síria. O Wall Street Journal disse que ela condenou a campanha da Síria. A CBS disse que denunciava a tomada de posição da Síria mas tomava pouca acção.
A AP disse que recomenda a Assad que se afastasse. A Reuters disse que isolava a Rússia e a China por vetar resoluções do Conselho de Segurança. O Los Angeles Times disse que condenava a violência síria e a inacção das "grandes potências".
O Chicago Tribune pôs como manchete: "Nações Unidas condenam Síria; Rússia e China vêem-se isoladas". O The Guardian disse que a Assembleia-Geral criticou a falha do Conselho de Segurança em atuar. O The Independent disse que as Nações Unidas condenam a Síria e exigem transição política.
A votação verificou-se no dia seguinte à renúncia do enviado à Síria da ONU/Liga Árabe, Kofi Annan. Ela é efetiva no fim de Agosto, quando expira o seu mandato. As razões apresentadas foram enganosas. Ambas as acções em dias consecutivos não foram coincidência. Elas avançam a eminência da guerra.
Annan é o homem de Washington. Responsáveis do governo Obama escolheram-no. O seu "plano de paz" era cobertura simulada para a ilegalidade imperial. Também ganhou tempo. Agora a escalada da agressão está planejada.
Em 3 de agosto, a revista Time apresentou o título: "A oposição síria vê o fracasso de Annan como justificação da sua luta armada", que dizia:
"A renúncia de Annan "confirmou a crença da oposição síria de que não há alternativa (exceto) a luta militar para colocar abaixo o regime Assad".
O antigo chefe do Conselho Nacional Sírio, Burhan Ghalioun, disse "A derrota do plano Annan significa que não há solução política". As potências ocidentais devem atuar. "Não temos tempo a perder".
É de esperar a contínua unanimidade dos media canalhas. Ao assim fazer, apoiam a guerra. Obama, parceiros chave da Otan e aliados regionais querem intervenção em plena escala. Só o seu cronograma é desconhecido.
Dar prioridade à prevenção de uma guerra potencialmente catastrófica importa muito. Toda a região e para além dela poderia ficar envolvida. A ameaça é demasiado grande para ignorar.
O relatório do fim de Julho do Royal United Services Institute (RUSI) disse que a intervenção ocidental parece mais provável. "Não estamos a mover-nos rumo à intervenção mas a intervenção está certamente a mover-se em direção a nós", afirmou.
Em causa estão os "modos apropriados de intervenção". Sob certos aspectos, ela já começou.
Ela tem estado a avançar durante todo o conflito. Agora está a escalar. A renúncia de Annan acrescenta momento. As condições "faça uma abordagem cada vez mais sem por as mãos" tornam-se improváveis.
Washington considera inaceitáveis resoluções de conflitos. Só a mudança de regime importa. A guerra foi planeada desde o princípio. Assim é para subjugar toda a região. Talvez a sua destruição aconteça no processo.
Um país após outro é devastado. Soluções com nuvens em feito de cogumelo podem seguir-se. Travar esta loucura importa e muito. Imagine o que se passaria em caso contrário.
[*] Autor de "How Wall Street Fleeces America: Privatized Banking, Government Collusion and Class War" . O seu blog é sjlendman.blogspot.com, lendmanstephen@sbcglobal.net
Fonte: Resistir.info, a partir do original no Global Research