Ministro da Justiça cobra identificação de vítimas da ditadura

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, cobrou explicações à Polícia Federal sobre a identificação de corpos de vítimas da ditadura. Pressionado por críticas ao trabalho da corporação, responsável por fazer exames de DNA em ossadas de possíveis desaparecidos e auxiliar nas buscas, ele informou que aguarda esclarecimentos para se posicionar sobre o caso e tomar eventuais providências.

Ofício da Comissão da Verdade ao ministro pede informações sobre o estágio das expedições e dos testes em corpos, além dos resultados já obtidos. Um documento do Ministério Público Federal (MPF), divulgado nesta segunda-feira (23). faz críticas à Secretaria de Direitos Humanos (SDH), da Presidência, e à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. A PF é parceira dos dois órgãos no trabalho de identificação.

O relatório menciona as dificuldades para encontrar mortos e desaparecidos nos cemitérios de Vila Formosa e Dom Bosco, no bairro de Perus. Separadas em 1990, 1.049 ossadas estão desde 2001 no Cemitério do Araçá (SP), sem qualquer tipo de exame.

O MP cita os casos de Hiroaki Torigoe, que, apesar da indicação das ossadas, não entrou na pauta da comissão; e Aylton Mortati, cujos restos mortais aguardam a finalização de testes antropológicos e de DNA desde 2010. Cópia do relatório foi enviada a Cardozo, mas ele alegou nesta segunda (23), por sua assessoria, que seria precipitado se pronunciar sem ouvir a Polícia Federal.

Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais no Rio de Janeiro, formado por familiares de vítimas da ditadura, Vitória Grabois diz que tem faltado vontade política para dar à comissão e seus parceiros melhores condições. "Ela existe desde 1995 e fez muito pouco. No princípio, trabalhou exaustivamente para a indenização de famílias. Mas nunca teve pessoal suficiente para trabalhar (em buscas e identificação), apesar da boa vontade dos integrantes", comentou.

Irmã de Antonio Theodoro de Castro, o Raul, morto na Guerrilha do Araguaia, Maria Eliana Castro elogia o empenho e a qualidade do trabalho dos técnicos encarregados das expedições voltadas à localização de ossadas. Mas reclama que o governo só começou a dar atenção ao assunto após sofrer condenações internacionais.

Fonte: O Estado de S. Paulo