Denúncias indicam que mexicanos foram obrigados a votar no PRI

Após dias de protestos por conta do resultado da eleição presidencial, o México vive momentos de incerteza. De um lado, fontes oficiais como o IFE (Instituto Federal Eleitoral), o presidente Felipe Calderón e os principais meios de comunicação declaram a vitória de Enrique Peña Nieto, candidato do PRI (Partido Revolucionário Institucional). De outro, continuam as manifestações e surgem cada vez mais provas de que houve corrupção, compra de votos,  violência, abuso, assassinatos e roubo de urnas.


  Manifestantes protestam contra irregularidades nas eleições mexicanas. Foto: EFE
 
Diante das suspeitas em torno do PRI, acusado pelo candidato progressista Andrés Manuel López Obrador de ter comprado mais de cinco milhões de votos, começaram a surgir depoimentos da participação de carteis do narcotráfico na eleição. A denúncia é do presidente do comitê estatal de Chihuahua do PAN (Partido de Ação Nacional), Mario Vázquez Robles. De acordo com o político governista, foram documentadas dezenas de ações de pistoleiros em Chihuahua, Durango e Sinaloa em favor do PRI durante as eleições. 
O lema ficou claro para o crime organizado na região, onde é produzida 80% da maconha e da papoula do México: “votar e fazer votar pelo PRI”. Lá nasceram os grandes chefes do narcotráfico e os mafiosos de hoje, como Joaquín “el Chapo” Guzmán Loera, do cartel de Sinaloa. Também Vicente Carrillo Fuentes, líder do cartel de Juárez e a família Arellano Félix de Tijuana, assim como Osiel Cárdenas, do cartel do Golfo e os irmãos Arturo, Héctor e Alfredo Beltrán Leyva.
 
Nessa região totalmente controlada pelo narcotráfico, os cartéis se mobilizaram em favor do PRI. Unidos como nunca, firmaram acordos com o cartel de Sinaloa, o de Juárez, o dos Beltrán Leyva e até o Los Zetas. E o PRI venceu. De acordo com a denúncia de representantes do PAN, do Partido do Trabalho e do PRD, os traficantes alcançaram o objetivo de cercear a liberdade dos votantes. Em Chihuahua, centenas de indígenas rarámuri foram presos para logo serem obrigados, sob a ameaça de armas de grosso calibre, a ir votar no PRI.

Ainda segundo Vázquez Robles, os pistoleiros ameaçaram atear fogo às casas de centenas de famílias de Chihuahua que não votassem no PRI. Em Durango, ameaçaram de morte representantes de outros partidos. Em Sinaloa, homens encapuzados e armados instalaram placas nas rodovias. Para os que se aproximavam diziam: “Só os do PRI e os do IFE passam, ninguém mais”.

"Aliança"

“Parecia que havia de fato uma aliança entre eles: nossos representantes gerais, os fiscais de urnas e até mesmo nossa militância estavam ameaçados. Disseram-lhes: ‘Se o PAN vencer ou se votarem no PAN, suas casas pegarão fogo e suas famílias sofrerão’”, disse o dirigente. “Não denunciamos porque as pessoas têm medo. São municípios onde manda quem tem poder econômico, com atividades ilícitas.”

São centenas as denúncias de militantes ou fiscais de urnas que se disseram perseguidos por homens armados ou por policiais e obrigados a voltar vigiados para suas casas para que não pudessem mais sair. Este é o cenário eleitoral vivido em muitas partes do país, algo definido como “pacífico”, “democrático” e “tranquilo” tanto pelo presidente do IFE, como por Peña Nieto e Calderón.

A cada dia tornam-se públicos testemunhos deste tipo, enquanto presidentes de vários países se apressam em parabenizar o candidato do PRI para não colocar em discussão acordos comerciais e interesses diplomáticos. A compra massiva de votos, a intimidação e a violência acabam sendo a melhor estratégia eleitoral no México.

Fonte: Ópera Mundi