Rússia e China: Parceria estratégica em ação
A primeira visita do presidente russo Vladimir Putin à China, depois de empossado, aconteceu em junho deste ano. Há oito meses, em outubro de 2011, ainda candidato, Putin visitou a China, com resultados proveitosos. As relações Rússia-China foram definidas como de ampla interação estratégia e parceria de mútua confiança. Depois da posse, em 7 de maio, o presidente Putin assinou decreto pelo qual se definiram as prioridades da política externa russa.
Por Mikhail L. Titarenko*, no China Daily
Publicado 08/07/2012 16:27
Esse decreto introduziu novo foco na política externa russa, já divulgado em detalhes em sete artigos que Putin publicou antes das eleições.
A tarefa é alinhar o senso de identidade nacional dos russos e a política externa russa com o genoma geográfico, civilizacional e cultural russo, o qual, como Putin escreveu, é combinação orgânica dos “fundamentos da civilização europeia e séculos de experiência em interações com o ocidente, onde hoje florescem ativamente novos centros de poder econômico e influência política”. Ao longo da campanha eleitoral, Putin disse que a Rússia precisa de uma China próspera; ao mesmo tempo em que a China precisa de uma Rússia próspera. Putin rejeitou a ideia de que o rápido crescimento da China implicasse qualquer real ameaça à Rússia; rejeitou a ideia, como absolutamente inadmissível. Ao contrário, apresentou o crescimento da Rússia como desfio que estimularia o crescimento também da Rússia; e disse que ali está o vento que cabe à Rússia aproveitar em suas velas.
Todos esses são fatores que chamam a atenção para o excepcional valor da cooperação “para todos os tempos, de calmaria e de borrasca”, entre Rússia e China.
A proposta de Putin visitar a China, quando optou por não participar do recente encontro do G8 nos EUA, gerou grande comoção na mídia internacional.
Com certeza, a Rússia, assim como a China, considera estrategicamente importante desenvolver laços com os EUA, a maior potência mundial. Mas os laços estratégicos entre Rússia e China são resultado de dar-se atenção às lições da história. Não são laços que visem a criar oposição a qualquer terceira nação, nem têm qualquer tipo de objetivo confrontacional de “fazer amizades contra” seja lá quem for.
Para ambos os países, os conteúdos e o valor dessas relações não são predeterminados por fatores de oportunidade, que podem ser favoráveis ou desfavoráveis. São orientados pelo correto entendimento da similaridade ou coincidência entre os interesses vitais dos dois países, e pelas ricas tradições de amizade e trocas frutuosas. Essas relações são importante fator de estabilidade internacional, de segurança nacional, de respeito à soberania e ao desenvolvimento comum.
Por tudo isso, seria supersimplificar sugerir que ações pouco amistosas empreendidas pelos EUA contra Rússia e/ou China tenham servido como impulso para criar uma aliança sino-russa orientada contra os EUA e seus aliados. De fato, as ações dos EUA estimularam diálogo mais ativo entre Rússia e China sobre questões de política externa.
A significação da próxima visita de Putin à China é determinada pela aguda situação internacional, agravada pela ameaça de uma segunda onda na crise econômica global. Assim sendo, as duas nações devem unir esforços, para elevar a ampla parceria estratégica Rússia-China, além de empreender passos práticos para o co-desenvolvimento do Extremo Oriente da Rússia e da Sibéria, e das províncias do nordeste chinês.
Nessa esfera, há vastas porções de “terra virgem” para cooperação ampla, duradoura e mutuamente benéfica entre Rússia e China. Nessa conexão, parece que cada lado deve “liberar a mente” e superar vieses e apreensões e preconceitos não raras vezes irracionais e superficiais.
A situação atual induz os dois países a ativar esforços para proteger os princípios das leis internacionais e construir um sistema asiático de segurança amplo, transparente e indivisível, que leve em contra os interesses dos grandes e dos pequenos países.
Durante sua visita à China, Putin participará da reunião de cúpula da Organização de Cooperação de Xangai. A Organização de Cooperação de Xangai é bastante nova, mas é organização influente, que ainda não completou o processo de formação, nem o traçado de suas responsabilidades regionais.
A eficiência e a escala dos esforços a serem empreendidos pela Organização de Cooperação de Xangai dependem, em larga medida, da interação e da mútua confiança entre China e Rússia.
A existência de diferentes visões sobre a expansão do número de membros permanentes dessa organização é normal e não deve ser interpretada como algum tipo de competição entre Rússia e China pela liderança da organização.
A unidade entre todos os países membros da Organização de Cooperação de Xangai e a consolidação da responsabilidade coletiva de todos pela estabilidade sustentável na Ásia Central, e contribuições para o crescimento econômico da região, além de resolução mutuamente aceitável para os atuais problemas de desenvolvimento, serão o foco de discussões profundas na próxima reunião de cúpula dos estados membro da Organização de Cooperação de Xangai.
*Mikhail L. Titarenko é presidente da Associação de Amizade Rússia-China e diretor do Instituto de Estudos do Extremo Oriente, da Academia Russa de Ciências.
Fonte: Redecastorphoto. Traduzido pelo coletivo de tradutores Vila Vudu