“Não duvido de que Arafat tenha sido assassinado”, diz embaixador
O embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, defendeu nesta quinta-feira (5) a realização de investigação internacional a respeito da morte do ex-líder palestino Yasser Arafat. O embaixador disse ainda que o que isola Israel é “a limpeza étnica da Palestina”,
Publicado 05/07/2012 22:06
Na última terça-feira (3), a rede de TV árabe Al Jazeera divulgou um estudo segundo o qual foi encontrada "uma quantidade não explicada e elevada de polônio 210" nos objetos que Arafat usava quando ficou doente, inclusive na sua escova de dentes.
O estudo foi elaborado pelo Instituto Suíço de Radiofísica. Substância radioativa e altamente tóxica, o polônio é um elemento raro, produzido apenas a partir de reator nuclear.
"Não duvido de que ele [Arafat] tenha sido, sim, assassinado", disse Alzeben quando questionado pela Agência Brasil. "Uma investigação internacional séria deve ser feita. Não sou cientista, mas não duvido de que as mãos de Israel estejam por trás dos assassinatos de nossos líderes."
Yasser Arafat morreu em novembro de 2004, após ter ficado doente de maneira repentina. As causas permanecem inexplicadas até hoje.
Na quarta-feira (4), Suha Arafat, viúva do ex-líder da Organização de Libertação da Palestina (OLP), autorizou a exumação do corpo, que está enterrado em Ramallah, na Cisjordânia. As amostras retiradas do local devem ser levadas à Suíça, o que dependerá da permissão de Israel, que controla as fronteiras da Cisjordânia.
"A justiça pode demorar, mas precisa ser feita. Esse caso precisa ser esclarecido", afirmou o embaixador Ibrahim Alzeben, que esteve em Curitiba participando de seminário promovido pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato).
Em entrevista coletiva, o embaixador criticou a política externa dos Estados Unidos e elogiou a do Brasil. "Não estamos satisfeitos [com o governo de Barack Obama]. Os Estados Unidos, como potência no mundo, poderiam contribuir muito mais para a paz no Oriente Médio." Alzebem disse esperar para os próximos anos uma visita da presidenta Dilma Rousseff à Palestina – Lula esteve no país em março de 2010.
Quanto ao pedido de que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheça o Estado Palestino, formulado no ano passado, o embaixador negou se tratar de uma estratégia para isolar o governo israelense. "É um ato de direito. O que condena Israel ao isolamento é o fato de o governo se negar a reconhecer e a cumprir resolução da ONU. É a limpeza étnica da Palestina", criticou Ibrahim Alzeben. "Queremos pontes, não muros."
De acordo com o embaixador, nenhuma das 49 universidades palestinas assinou termo de cooperação com instituições brasileiras. "Já assinamos um acordo com o Ministério da Educação do Brasil e estamos solicitando termos de cooperação e bolsas para estudantes palestinos virem pra cá."
O embaixador da Palestina no Brasil criticou ainda a cobertura feita pela mídia brasileira sobre os conflitos no Oriente Médio. "A cobertura não tem sido equilibrada, os meios [de comunicação] têm os seus interesses e é preciso que correr muito sangue palestino para virar notícia", disse Alzeben, que é filho de refugiados e já trabalhou como jornalista. "Nosso povo quer deixar de protagonizar esse tipo notícia, se não no futuro imediato, nas próximas décadas."
Agência Brasil, integrante da Empresa Brasileira de Comunicação, órgão do governo federal do Brasil