Obrador denuncia compra de voto e pesquisa manipulada no México

A polêmica em torno das pesquisas e as denúncias de fraude eleitoral em larga escala dominaram os últimos dias da campanha para a disputa presidencial de domingo no México e quando se conclui o turbulento mandato de Felipe Calderón.

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A coalizão Movimento Progressista denunciou que o Partido Revolucionário Institucional (PRI) distribui, no Estado do México, 1,8 milhão de cartões de crédito para comprar o voto a favor de seu candidato, Enrique Peña Nieto.

A acusação da aliança que apoia o candidato da esquerda, Andrés Manuel López Obrador, afirmou que os cartões têm um fundo de mil pesos cada um (cerca de 77 dólares), segundo o diário La Jornada.

Em coletiva de imprensa, foram exibidos cerca de três mil cartões que foram apresentados como prova por cidadãos e operadores políticos do PRI que simpatizam com López Obrador. Adicionalmente, o PRI distribuiu cinco milhões de cartões telefônicos com recargas de cerca de 100 pesos cada um, agregou a acusação.

Pesquisas manipuladas

Os cerca de 80 milhões de eleitores convocados para escolher o novo  presidente para os próximos seis anos confrontam-se com quatro alternativas. As últimas sondagens – que têm sido questionadas – apontavam Enrique Peña Nieto, o candidato do Partido Revolucionário Institucional (PRI), com uma vantagem de dez pontos em relação ao principal rival, o postulante da esquerda Andrés Manuel López Obrador .

O estudo mostrava Peña Nieto com 41% das preferências e, pelo tom, apontava-o como o quase inevitável sucessor de Calderón, eleito em 2006 pelo Partido Ação Nacional (PAN, direita), num escrutínio assinalado por fortes suspeitas de manipulação dos resultados.

Com dez pontos de diferença (31%), surgia Andrés Manuel López Obrador, o candidato de esquerda apoiado pelo Partido da Revolução Democrática (PRD) e os seus aliados Partido do Trabalho (PT) e Movimento Cidadão. 

Na terceira posição permanecia a conservadora Josefina Vázquez Mota, que se candidata por um PAN minado por divisões internas (24%) e por último Gabriel Quadri, o candidato do Partido Nova Aliança (Panal, centro), com apenas 4%.

Em caso de confirmação destas sondagens, o escrutínio de domingo — durante o qual também vão ser eleitos os governadores de diversos estados da federação mexicana, deputados e senadores — significam o regresso ao poder do PRI, o partido que dominou a vida política do México entre 1929 e 2000, até as duas vitórias consecutivas do PAN.

A pesquisa, assim como outras das principais empresas de estudos de opinião, está sendo contestada no México. Os institutos são acusados de imporem como "fato consumado" a vitória do PRI, ao omitirem que entre 50% e 60% dos entrevistaram optaram por não indicarem seu voto.

Favorecimento

Além disso, a campanha eleitoral foi dominada por susperitas a respeito dos critérios adotados pelo Instituto Federal Eleitoral (IFE, que supervisiona o escrutínio) e pelas denúncias de favorecimento do candidato do PRI.

A equipe de López Obrador não se cansou de criticar o apoio das duas principais televisões privadas (Televisa e Azteca) ao candidato "priista".  

O regresso ao poder do PRI, o "velho dinossauro" – um partido com origens na revolução mexicana da década de 1910 mas definido pelos críticos como o símbolo máximo da corrupção e da impunidade após décadas no poder – está a motivar apreensão. E há também preocupação com supostas cumplicidades com o PAN, para bloquear de novo a vitória do candidato da esquerda.

O PRD tem motivos para se queixar: em 1988, o seu candidato Cuauthemóc Cardenas perdeu as presidenciais para o "priista" Carlos Salinas, mas com o resultado manipulado, como foi depois admitido. E, em 2006, Obrador apresentou provas de fraude eleitoral, após a derrota pela margem mínima em relação a Calderón. São as crescentes suspeitas de que mais um "resultado cozinhado" entre as oligarquias políticas e econômicas mexicana pode acontecer. 

Numa campanha com pouco debate de ideias, destoou o movimento de jovens "YoSoy132". Nos últimos meses, o movimento ocupou as ruas das principais cidades e as redes sociais para contestar o "candidato fabricado" do PRI – um novo fenômeno político e que promete continuar a agitar o México, sobretudo se Peña Nieto clamar vitória.

Com Prensa Latina e Lusa