Governo da Bolívia anuncia aumento e pede diálogo com policiais

O governo boliviano expressou nesta sexta-feira (22) a disposição de aumentar salários de policiais de baixa patente, que protestam pelo país, e pediu diálogo, através do ministro do Interior Carlos Romero. Ele chamou os representantes dos policiais para retomar as negociações. Grupos de manifestantes que integram o movimento dos oficiais chegaram a saquear e destruir a sede da inteligência da Bolívia.

Romero também pediu para os policiais pararem de realizar ações violentas que prejudicam os cidadãos bolivianos. Comandantes da Polícia reforçaram o pedido do governo, solicitando calma aos milhares de policiais.

Romero disse que os policiais foram informados sobre a intenção do governo de efetivar um aumento da renda da Polícia Nacional e de "dialogar para encontrar soluções" para um conflito que mantém amotinados 20 unidades e comandos policiais em todo o país.

"Informou-se aos policiais que nós queremos efetivar a decisão de conseguir com que estes rendimentos que a Polícia Nacional recebe a título salarial alcancem os 2 mil bolivianos" (US$ 287), valor exigido pelos policiais descontentes, disse Romero em declaração à imprensa. "O caminho não é a pressão, a tomada e a destruição dos bens públicos".

Ele afirmou ainda ter aberto contatos com o sindicato Associação de Suboficiais e Sargentos da Polícia, que chefiam um motim em 20 unidades e comandos em todo o país e que nesta sexta-feira desencadeou saques e incêndios nas sedes da Direção de Inteligência e do Tribunal Disciplinar, em La Paz.

Ele recordou que o governo de Evo Morales adotou uma série de políticas a favor dos efetivos e argumentou que as medidas de incremento salarial aplicadas nos últimos anos, particularmente desde 2009, "superam o percentual de inflação e se reduzem as assimetrias entre níveis e estruturas hierárquicas".

Romero, contudo, reconheceu que o trabalho do governo ainda não é suficiente, porque falta atender às requisições materiais, para que desempenhem efetivamente suas funções.

O ministro do Interior, encarregado de questões policiais, pediu o "diálogo para que sejam encontradas soluções" e revelou que contatos foram mantidos nas últimas horas, embora não se tenha chegado a um acordo.

O confronto não é a maneira certa para conquistar as reivindicações. Peço aos meus camaradas que pensem e abandonem as medidas de pressão, se sentem e negociem com o alto comando" da polícia, disse o comandante geral da polícia, o coronel Victor Maldonado.

Radicalização

Centenas de policiais saquearam e destruíram a sede da Inteligência da Bolívia, perto do palácio do governo de La Paz, nesta sexta. Dezenas de agentes armados e encapuzados estavam no teto, enquanto outros queimaram documentos na rua, quebraram computadores e destruíram o edifício, informou a mídia local.

Os agentes marcharam diante do Palácio Quemado, onde fica o escritório do presidente Evo Morales, e depois atacaram os escritórios da Inteligência da Polícia Nacional.

Os protestos dos policiais de baixa patente tiveram início há duas semanas, mas apenas se radicalizaram durante esta semana.

Após confronto com policiais de alta patente contrários às manifestações, os oficiais tomaram o quartel da Unidade Tática de Operações Policiais (Utop) nesta quinta-feira (21). Os policiais se apossaram do edifício, onde saquearam armas, munições e outros materiais bélicos, como granadas.

Em diferentes localidades, os oficiais se retiraram para suas respectivas unidades e mostraram os armamentos com que defendem as ruas. “Se nos provocarem, haverá reação”, afirmou um porta-voz da Associação Nacional de Suboficiais, Sargentos, Classes e Policia (Anssclapol) ao jornal La Razon.

As esposas dos policiais começaram a protestar no início do mês para pedir melhora salarial a seus maridos, a revogação da lei 101 do Regime Disciplinar da Polícia, aposentadoria com 100% de seus ativos e a criação de uma Defensoria da Polícia. Localizadas em oito das nove capitais bolivianas, as mulheres realizaram greves de fome e vigílias.

Com agências