Sorrentino: Eleições em São Paulo: sem miopia política
O Brasil tem um projeto definido, está se afirmando internacionalmente e sob a égide do desenvolvimento soberano. Como se sabe, há muito por fazer, mas o país está nos trilhos. Isso se deu sob a liderança do ex-presidente Lula, e agora da presidenta Dilma, com enormes forças populares de apoio.
Por Walter Sorrentino*, em seu blog
Publicado 20/06/2012 11:10
São apenas dez anos nesse rumo, pouco ainda para consolidar outras mudanças extremamente necessárias, como reformas estruturantes democráticas nas áreas sociais, fiscais, políticas e da comunicação, entre outras.
Forças intermediárias, conservadoras, aderiram ao projeto, integraram-se ao governo de coalizão e constituem a base de apoio parlamentar, mesmo pela centro-direita. Isto é simplesmente necessário no regime político brasileiro, enquanto não houver uma reforma política de fundo. A questão central é: quem conduz o processo, sob a égide de que programa e objetivos? Não há muita dúvida com respeito a isso: vige o programa aprovado nas urnas em 2002, 2006 e 2010. É um programa claro, determinado, que avança em meio às grandes dificuldades da maior crise mundial desde os anos 1930, agora com a presidenta Dilma no comando. Sabe-se mesmo que rupturas são necessárias e estão sendo progressivamente realizadas, como as que ocorrem quanto ao atrelamento brasileiro com respeito à política macroeconômica vigente desde o Plano Real.
O PP é uma dessas forças intermediárias. Como as demais, sob o impulso das mudanças sociais no país, ficaram sem projeto autônomo e sua própria base social está arrastada pelos bons ventos econômicos e sociais propiciados nestes dez anos. Não terão, por muito tempo, perspectivas próprias de poder e algumas delas nem têm bases definidas para persistir num projeto partidário autônomo. Ademais, o apoio dessas forças nem limita os grandes avanços democráticos perseguidos pelo governo, como a própria Comissão da Verdade, entre outros.
O PP tem Maluf, uma liderança em declínio acentuado, mas nem ele propriamente comanda a agremiação e os compromissos nacionais firmados com a sustentação do governo. O PP tem ministério e está sob o comando do governo Dilma nessa função. Em São Paulo, a celeuma em torno do apoio de Maluf a Haddad está superestimada. Pode-se discutir erros de timing e marquetagem que atingem a campanha Haddad, mas é claro que se trata de uma disputa política envolvendo a maior eleição municipal do país em outubro. Nada nem ninguém é neutro nessa disputa. O próprio Serra disputava o apoio de Maluf. Aliás, estudo do Cebrap demonstra que nas eleições paulistanas o PSDB ocupou o espaço antes liderado pela direita conservadora, o malufismo, e só assim obteve vitórias nos últimos anos.
É de se reiterar que o melhor seria superar a bipolarização pretendida à força em São Paulo. Isso produziu vinte anos de vitórias tucanas. Novas forças surgindo e se afirmando, à margem dessa polarização, seria melhor para o Brasil, para Dilma, para o povo e para a cidade de São Paulo… e até para o PT, malgré lui. Haddad, Chalita, Netinho e Paulinho têm grandes papéis a jogar e todos precisam sair fortalecidos nesta eleição, embora só um possa vencer.
A política deriva de situações concretas, num quadro de forças dado. Fazer o jogo antipetista, nas condições concretas da disputa central neste momento, não é um tiro no pé de Haddad, mas do próprio projeto em curso no país. Será uma miopia politica. Neste momento, enfraquecer Haddad é fazer o jogo de Serra. O apoio do PP a Haddad, junto ao PSB e outras forças, quem sabe ainda mais amplas, é necessário e não altera a condução hegemônica das forças populares e seu programa.
* Walter Sorrentino é secretário nacional de Organização do PCdoB