Publicado 19/06/2012 10:02 | Editado 04/03/2020 16:29
O ano de 2012 será o ano de maior uso político das mídias sociais em uma eleição no Brasil. Se em 2010 já vimos marchas e contra-marchas digitais, mormente nas eleições presidenciais, nos embates municipais deste ano teremos uma consolidação das novas mídias como instrumento de militância política, principalmente nos pleitos das grande cidades.
Em dois anos, é nítida a percepção de como não apenas o eleitorado, mas os próprios candidatos e demais atores do processo político brasileiro, migraram de uma realidade anteriormente baseada apenas nas mídias convencionais, para um cenário onde as próprias mídias sociais online também já pautam a chamada velha mídia. Já não se imagina facilmente uma grande manifestação nas ruas sem que uma bandeira virtual também esteja pensada, através de blogs, redes sociais, sites de compartilhamento de vídeos etc, tudo de forma a dar ao protesto (ou apoio), uma ressonância maior. Há casos, inclusive, onde mobilizações são organizadas em redes sociais como Twitter e Facebook, sem que ao menos exista um encontro físicos dos participantes, como vemos quase que diariamente via partidos políticos, entidades estudantis e demais de classe.
Já há indícios claros de que o ativismo político online incomoda, seja ao status quo político ou da própria realidade da comunicação no Brasil. Recentemente, matérias jornalísticas da imprensa tradicional se voltaram às mídias sociais tachando-as como terreno de mera guerrilha virtual, como se fosse possível retirar-lhes o caráter de manifestação política de um determinado grupo. O incômodo é tão notório, que vê-se uma forma de tentar minimizar o alcance das novas mídias, ou questionar-lhes o engajamento de seus participantes, como se por detrás de um perfil em uma rede social, por exemplo, não existisse um ser humano com a sua ideologia própria. Independente da possíbilidade de uso de meios artificiais, por quem quer que seja, para tentar aumentar a amplitude de uma determinada campanha, é interessante notar que isso não invalida toda uma campanha. Além do fato de que o uso de tais meios pode ser feito inclusive por adversários políticos, governos e corporações, no intuito de tentar obstruir protestos lídimos de militantes, da sociedade ou consumidores, como também através de formadores reais de opinião, contratados exclusivamente para defender (ou atacar) determinado time. Estamos na era da informação e da contra-informação, onde uma boa assessoria jurídica e de marketing digital é imprescindível.
O que se tem como inegável é que uma grande mobilização online não pode ser diminuída como um mero resultado de bots ou fakes, pois até mesmo em passeatas à moda antiga, como por exemplo à época da Ditadura Militar no Brasil, era possível a infiltração de elementos estranhos apenas para tumultuar um movimento legítimo. Nesta nova realidade digital, isso não será diferente, cabendo a cada observador saber contextualizar e analisar bem cada situação.
A verdade é que ao tomar conta do dia-a-dia da política, uma ferramenta incontrolável como é a Internet causa um desconforto em setores que estiveram sempre acostumados com uma realidade anterior onde os próprios meios de comunicação do País não tinham as suas pautas questionadas quase em tempo real, como acontece agora. Aliás, não apenas no Brasil, pois exemplos no mundo todo mostram que uma nova realidade da comunicação incomoda também governos e grandes corporações, ensejando tentativas nítidas de controle da Internet (através das fracassadas proposições de Leis como o S.O.P.A e P.I.P.A nos EUA), as quais a pretexto de combater a pirataria online e outros crimes, causam preocupação sobre a real intenção de tais iniciativas. Seja o Occupy Wall Street nos Estados Unidos, seja a Primavera Árabe no Oriente Médio, a base de crescimento de muitos movimentos recentes tem sido o ambiente digital, catapultando a voz que ecoa nas ruas.
A própria maneira como algumas manifestações políticas online são tratadas, à pecha de "ativismo de sofá" (em inglês Slacktivism), demonstra a forma pejorativa que se busca dar ao termo. Vale lembrar que segundo pesquisa divulgada ontem pelo Ibope, já temos mais de 82 milhões de brasileiros com acesso à Internet. Levando-se em conta que grande parte dos atores políticos e formadores de opinião está online, é cada vez mais certo que muitas das pautas se construam a partir das próprias mídias sociais.
Esta nova realidade inaugura um momento onde até mesmo pesquisas de intenção de voto podem ser feitas via monitoramento em tempo real das manifestações do eleitorado nas mídias sociais, ou identificação dos pontos positivos e negativos de determinada campanha. A presença maciça dos entes estatais na rede, já mostra a preocupação maior, no Brasil, que se tem com um ambiente onde os cidadãos geralmente destilam em primeira mão as suas críticas, positivas ou negativas. Ministérios, secretarias estaduais e municipais, autarquias e demais entidades governamentais possuem perfis nas diferentes mídias online, aumentando também a responsabilidade que a comunicação terá no trato com uma linguagem diferente da usual nas repartições públicas.
O certo é que estaremos, especialmente neste ano de 2012 e todos que convivemos diariamente no ambiente online, fadados a presenciar as diversas correntes políticas em choque, seja nos Trending Topics do Twitter, na timeline do Facebook, ou em alguma outra das diversas mídias sociais online que existem, sejamos ou não ativistas de uma causa ou candidatura. É mais ou menos, mutatis mutandis, como aquele inevitável congestionamento causado por alguma manifestação de rua, só que agora, uma grande via binária.
*Emerson Damasceno é jornalista e advogado.
Fonte: Terra Magazine