Marcha das Mulheres reúne pelo menos cinco mil no Rio de Janeiro

A marcha das mulheres nesta segunda-feira (18) deu o recado dos movimentos sociais à cidade do Rio de Janeiro, que recebe a Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Na primeira manifestação conjunta dos movimentos sociais, cerca de cinco mil manifestantes ocuparam as ruas centrais da capital fluminense para protestar por justiça global, contra a economia verde de mercado e pela igualdade de gênero.


Movimentos sociais deixam a concentração no Aterro do Flamengo e seguem na Marcha das Mulheres, durante a Cúpula dos Povos/ foto: Deborah Moreira – confira também a galeria de imagens

Entre as pautas específicas de mulheres, está a inclusão nos espaços de poder, a legalização do aborto, o fim da mercantilização de seus corpos e do preconceito e descriminação.

A concentração começou por volta das 10h, em frente ao Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro do Flamengo, onde se concentram as atividades da Cúpula. Batucada, gritos, bandeiras, faixas. Muita mobilização para que tudo desse certo na passeata, a primeira grande marcha organizada por mulheres de diversas entidades de todo o país. A realização do evento foi uma das resoluções tiradas durante a Assembleia dos Movimentos Sociais, no Fórum Social Temático, que aconteceu em Porto Alegre em janeiro deste ano.

A mobilização terminou no Largo da Carioca, centro do Rio, onde lideranças discursaram no carro de som do evento. Como a vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes, Clarissa Alves da Cunha.

"As estudantes são todas feministas e se solidarizam com as mulheres que marcham como camponesas, trabalhadoras. E seguiremos em marcha até que todas nós sejamos livres", discursou Clarisse.

Algumas dirigentes sindicais também presentes, reforçaram a importância deste momento. “A marcha é um grito das mulheres na Rio+20 para chamar a atenção das autoridades para que o documento que saia do evento não pense só no equilíbrio do meio ambiente, mas que pense na participação ativa das mulheres nesse processo. Entre as nossas propostas está a inclusão de crédito para que elas possam buscar o desenvolvimento sustentável no campo, na floresta e nas cidades. Também lutamos pela igualdade na participação política, na segurança alimentar, contra os agrotóxicos”, declarou Raimunda Gomes, a Doquinha, secretaria nacional da mulher da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), presente na marcha das mulheres.

Ela ressaltou ainda que as propostas beneficiam não somente as mulheres, mas o conjunto da sociedade. “Como o espaço da Cúpula não tem tanta influência quanto gostaríamos na Rio+20, queremos que a marcha sirva de alerta que aqui dessas tendas estão saindo propostas ricas que podem enriquecer e contribuir com o documento final que sairá daqui para que tenhamos mais motivos a comemorar nos próximos 20 anos, tendo em vista que o homem e a mulher estão inclusos no meio ambiente”, afirmou.

Ao longo de todo o percurso, policiais militares fizeram a escolta da marcha. Nos carros, a população assistia. Alguns apoiando, outros reclamando por conta do trânsito causado pela mobilização.

“É importante essas atividades, mas a gente não tem opção para escapar do trânsito. Falta estrutura para a cidade”, declarou uma taxista que trabalhava na Avenida Presidente Antonio Carlos, na região central, por onde os manifestantes passaram. A declaração demonstra a necessidade de se repensar a concepção das cidades, priorizando um modelo mais socialmente justo e sustentável.

“É uma oportunidade para discutir um tema relevante. E não adianta falar em desenvolvimento sustentável sem levar em conta a soberania de cada um dos povos. Os movimentos sociais estão unidos e isso dá visibilidade para a nossa causa. E nesse contexto cabe incluir o empoderamento das mulheres e, claro, incluir a discussão de temas básicos. Não há desenvolvimento sem acesso à terra e aos recursos hídricos”, destacou Socorro Nascimento, secretária de Meio Ambiente da CTB.

Liege Rocha , da Executiva Nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM), presente na marcha, lembrou a culpa carregada pela mulher sobre os problemas do mundo.

"Defendemos a justiça social e ambiental com soberania nacional e trata-se de um momento importante para a integração regional. Estar aqui tem um significado muito grande para as mulheres porque durante algum tempo fomos acusadas de sermos uma das principais poluidoras do meio ambiente por conta da utilização de produtos de limpeza utilizados nos cuidados da casa, que numa sociedade machista fica sempre sob responsabilidade da mulher. Sabemos que é uma culpa, mais uma que queriam colocar sobre nós. Mas sabemos quem são os verdadeiros responsáveis por isso, que é o imperialismo norte-americano, os grandes detentores do capital”, comentou Liege ao Vermelho, enquanto marchava ao lado do grupo de ubemistas.

Liege lembrou da assinatura do documento em solidariedade aos povos da América Latina, no início da tarde desta segunda, e do debate promovido no domingo, que apontou que é preciso tratar o meio ambiente com respeito mas sem tratá-lo como algo que seja intocável

“Nós mulheres também não concordamos com essa proposta da intocabilidade do meio ambiente. Nós temos cada vez mais que ter essa integração dos movimentos sociais do Brasil”, disse a feminista.

Para Nivaldo Santana, secretário Nacional Sindical do PCdoB e vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), é preciso que se esclareça os reais interesses na defesa do meio ambiente de determinadas organizações não governamentais (ONGs).

“A questão essencial é compatibilizar a defesa do meio ambiente com o desenvolvimento dos países, principalmente do hemisfério sul. A agenda ambiental dos países ricos na verdade é um instrumento político de criar dificuldades para reverter essa grande assimetria que existe no mundo. Infelizmente, algumas ONGs acabam repercutindo opiniões que servem apenas aos países ricos. Nos da CTB defendemos desenvolvimento, valorização do trabalho, soberania nacional com democracia e preservação ambiental”, enfatizou o dirigente sindical.

Todos juntos e juntas

Mulheres e homens, crianças, jovens e idosos. Gente de diversas partes do país e do mundo. Muitos sotaques e culturas diferentes expressando seus desejos pelo bem viver. Todos juntos e juntas.

A paranaense Miriam Zanpiri, da UBM-PR, ressaltou a participação da juventude no evento e na marcha, que precisa ser levada em conta . “As mulheres estão mostrando sua força, bem como os jovens bastante presentes na Cúpula. É uma força importante e é preciso ouvi-la e dar espaço. Essa força nos alimenta, reinventa o movimento”, declarou Miriam.

Já a militante paulistana Dalva de Fátima dos Santos, da Marcha Mundial de Mulheres, exaltou a troca de informação entre os grupos presentes e mencionou as diversas bandeiras do movimento de mulheres como saúde, educação e economia. “Estes momentos são importantes para que possamos trocar experiências. Os movimentos que estão aqui presentes cada um luta por sua bandeira específica como a da saúde, a da educação ecologia, entre outras”, falou.

Deborah Moreira
Para o Vermelho, do Rio de Janeiro