Exército admite ter destruído documentos da Guerrilha do Araguaia
Os documentos do Exército sobre a Guerrilha do Araguaia — uma das principais promessas para a elucidação do assassinato e desaparecimento de dezenas de militantes — foram todos destruídos, informou o Ministério da Defesa. A afirmação foi encaminhada à reportagem da Folha de S.Paulo como resposta a um pedido de consulta feito baseado na Lei de Acesso à Informação, que entrou em vigor mês passado.
Publicado 14/06/2012 11:11
Foram solicitados materiais produzidos entre 1970 e 1985 sobre ações do Exército contra a guerrilha, o maior foco armado de resistência contra a ditadura (1964-85), no sul do Pará — hoje norte de Tocantins. A resistência, organizada pelo PCdoB, ocorreu entre 1972 e 1974.
Na resposta do Serviço de Informação ao Cidadão do Exército, criado para atender as demandas da nova lei, a instituição diz que um decreto de 1977 "permitia a destruição de documentos sigilosos, bem como dos eventuais termos de destruição".
De acordo com a resposta, a destruição dos documentos foi feita de tal forma que é impossível identificar os responsáveis pela eliminação, como desejam alguns dos membros da Comissão da Verdade.
Historiadores e familiares das vítimas do conflito afirmam que os documentos tenham sido destruídos para apagar vestígios da barbárie cometida pelo oficiais do Exército.
O ex-ministro da Defesa Nelson Jobim já havia dito, em 2011, que documentos relacionados à repressão haviam "desaparecido". Mas é a primeira vez que o Exército admite a destruição após entrar em vigor a Lei de Acesso — que impede o bloqueio de qualquer informação relacionada aos direitos humanos.
Ainda assim, pesquisadores afirmam que é possível que existam documentos em poder de ex-militares guardados em arquivos privados.
Cerca de 70 militantes foram executados na Guerrilha do Araguaia, alguns sumariamente e após se entregarem. Até hoje, só foi possível identificar os restos de duas vítimas. O paradeiro dos demais nunca foi comprovado.
O combate provocou a maior movimentação de militares desde a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial (1939-45).
Fonte: Folha de S.Paulo