Rio promove centenas de atividades ambientais paralelas à Rio+20
Centenas de atrações estão ocorrendo desde o início deste mês no Rio de Janeiro por conta da Conferência das Nações Unidas (Rio+20), que começa amanhã. O secretário-geral da Rio+20, o chinês Sha Zukang, se pronunciou ontem (11) contra a tentativa de países ricos de retirar ou diluir no documento final da conferência a ideia da "responsabilidade comum, mas diferenciada".
Publicado 12/06/2012 13:03
Tal princípio, que defende que nações mais ricas devem contribuir mais para o desenvolvimento sustentável por já terem se beneficiado muito dos recursos naturais, está nos acordos globais resultantes da Eco-92.
Zukang chegou ao Rio no final de semana e deve ficar na cidade até o final da Rio+20. A Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável começa oficialmente nesta quarta-feira (13), com a última rodada de negociações entre os países sobre o texto que será a base do documento final do encontro. Mas eventos paralelos ligados aos temas em debate já estão sendo realizados desde o final de semana.
O secretário lembrou que o objetivo da Rio+20 é "renovar" os princípios da Declaração do Rio e da Agenda 21, aprovadas há 20 anos.
"Nosso trabalho não é mudar os princípios, acrescentar novos ou eliminar qualquer um deles. Todos os 27 princípios da Declaração do Rio são relevantes e válidos hoje, se não mais", disse.
O documento final da Rio+20 não deverá detalhar metas, mas a questão de quem vai pagar a conta para conciliar proteção ambiental com desenvolvimento atrasa o acordo sobre o texto.
Estados Unidos, Europa e Japão dizem que China, Índia e Brasil, entre outros, devem assumir mais responsabilidades. O G-77, grupo que reúne mais de 130 países em desenvolvimento, insiste em manter o princípio da diferenciação.
A negociação continua de amanhã a sexta, mas pode se prolongar até a cúpula propriamente dita, de 20 ao 22, e até que o acordo saia. "As pessoas sempre mostram suas cartas no último minuto."
Segundo a ONU, 134 chefes de Estado e de governo já se inscreveram para falar na próxima semana, um número maior que na Eco-92, que foi de 108 inscrições, e na Rio+10, em Johanesburgo (104).
A Rio+20 integra uma família de cúpulas da ONU sobre ambiente. A primeira foi em Estocolmo, Suécia, em 1972, dando origem ao relatório "Nosso Futuro Comum". Ele define desenvolvimento sustentável como o que satisfaz as necessidades atuais "sem comprometer a capacidade das gerações futuras de se desenvolverem".
A Rio+20, cujos temas centrais são a economia verde, temida pelos movimentos sociais, e "estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável", é uma oportunidade para o planeta debater os problemas e soluções relacionados ao clima.
Vinte anos depois da Eco92, a economia mundial cresceu 65% e o planeta chegou a uma população de 7 bilhões de pessoas,que vivem em meio ao consumismo desenfreado, desencadeando maior produção e, consequentemente, escassez dos recursos naturais. Nos últimos anos, cientistas vêm alertando para os perigosos do rumo que está sendo tomado. É preciso corrigi-lo agora para evitar que criemos um ambiente cada vez mais hostil a nossa presença.
As emissões de gases estufa aumentaram 36% nesse período, enquanto isso, nos polos há menos gelo e mais tempestades. Em todo o mundo, 300 milhões de hectares de floresta foram destruídos. Grande parte do que restou concentra-se no território brasileiro, a Floresta Amazônica. Para evitar que o pior aconteça, a presidenta Dilma vetou 12 artigos e diversos trechos do texto do novo Código Florestal aprovado na Câmara dos Deputados.
Desenvolvimento e sustentabilidade
As causas desses problemas foram apontadas na Eco92 por líderes como Fidel Castro, um dos mais aplaudidos no encontro há 20 anos.
"É preciso salientar que as sociedades de consumo são as principais responsáveis pela atroz destruição do meio ambiente. Elas nasceram das antigas metrópoles coloniais e de políticas imperiais que, pela sua vez, engendraram o atraso e a pobreza que hoje açoitam a imensa maioria da humanidade. Com apenas 20% da população mundial, elas consomem as duas terceiras partes dos metais e as três quartas partes da energia que é produzida no mundo. Envenenaram mares e rios, contaminaram o ar, enfraqueceram e perfuraram a camada de ozônio, saturaram a atmosfera de gases que alteram as condições climáticas com efeitos catastróficos que já começamos a padecer", declarou o líder cubano.
O Rio de Janeiro atraiu a atenção do mundo naquele ano de 1992 para as questões ambientais e da economia. Afinal, como fortalecer a economia sem agravar a destruição do meio ambiente? Foi então que se cunhou a expressão desenvolvimento sustentável. Para os ambientalistas, a Rio92 criou o consenso de que é preciso ter uma visão integrada entre social, ambiental e econômico.
Eventos paralelos
Cerca de mil eventos paralelos à Conferência das Nações Unidas acontecerão neste mês de junho no Rio de Janeiro. Como no encontro de prefeitos das maiores cidades do mundo no Forte de Copacabana. Cerca de 500 cientistas vão ocupar a Pontifícia Universidade Católica (PUC) para trocarem conhecimentos ambientais.
Empresários brasileiros e do exterior, representando cerca de 800 indústrias, vão se reunir no Hotel Sofitel, no Rio de Janeiro, para discutir documento inédito com os avanços de 16 setores da indústria na conservação do meio ambiente e na busca da sustentabilidade. O "Encontro da Indústria para a Sustentabilidade" acontece na quinta-feira (14) e reunirá setores que respondem por 90% do Produto Interno Bruto (PIB) industrial. Ao final do encontro, os empresários apresentarão o posicionamento da indústria na Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU).
Cúpula dos Povos
Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro se prepara para receber a Cúpula dos Povos / foto: o globo
Mas o mais esperado dos encontros será no Aterro do Flamengo, entre movimentos sociais de diversas partes do mundo. Mais de 30 mil pessoas devem passar diarimente pelas atividades autogestionadas e as assembleias da Cúpula dos Povos.
A programação com as centenas de atividades estão sendo divulgadas desde o domingo (10). CAda uma das 36 tendas de atividades autogestionadas a partir de sexta-feira (15), além, claro, das cinco tendas de plenárias e de outros espaço, foram nomeadas em homenagem a figuras que desempenharam papeis importantes na luta social do Brasil e do mundo como Clara Zetkin, ícone do feminismo mundial. Em 1917, fundou com Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht o Partido Social-Democrata Independente. Mais tarde, juntou-se ao Partido Comunista da Alemanha e atuou no parlamento de 1920 a 1933.
Acompanhe a divulgação da programação no perfil da Cúpula aqui.
Da redação com agências