Franklin Cunha: a paz no Oriente Médio é possível?
O modo como as acusações de anti-semitismo tentam desacreditar àqueles que expressam sua oposição à política do atual governo de Israel, elimina a possibilidade de um discurso legítimo e equilibrado sobre questões cruciais da conjuntura mundial.
Por Franklin Cunha*, no Sul21
Publicado 12/06/2012 10:35
Se não podemos expressar nenhuma objeção à violência que exerce o governo de Israel sem sermos acusados de anti-semitas, então esta acusação funciona para suprimir a troca de idéias as quais devem ser plenamente exercida nos países civilizados, cientes de que o costume de “lançar pedras” e eliminar o diálogo, foi um dos motivos do desaparecimento dos Neardenthal.
Se a acusação de anti-semitismo é usada para justificar o massacre de civis libaneses e palestinos, isto não diminuirá o universo de forças discriminatórias dos judeus, as mesmas que colocam bombas em sinagogas, que participam de movimentos neonazistas e terroristas e apóiam organizações anti-semitas.
Então, uma razão para nos opormos a acusação de anti-semitismo como tática para sufocar as críticas ao atual governo direitista e religioso de Israel, é que devemos defender esta razão como instrumento para combater o anti-semitismo presente e futuro. Se justificamos a inaudita violência oficial contra populações árabes civis, não teremos autoridade moral para combater qualquer tipo de violência contra a população judaica civil e inocente.
Ao reconhecermos uma clara diferença entre anti-semitismo e formas de protesto contra as políticas do governo de Israel – assinalando de maneira preocupante que às vezes elas funcionam juntas – teremos então a oportunidade de verificar que parte da população de etnia e religião judaicas do mundo não apoia a prática de terra arrasada no Líbano e em Gaza como não a apoiaram recentemente 3.800 intelectuais judeus dos EUA. (www.peacemideast.org) e, como também é contra esta conduta violentamente belicista a Britt Tzedek, uma nova organização nos EUA que reúne 20.000 membros e que tentam adotar uma voz judeu-americana ( www.brittzedek.org), alternativa à AIPAC( America Israel Public Affaire Committee) .
Em outras palavras: as possibilidades concretas de um movimento judeu sinceramente pacifista, depende não só de uma distância crítica e não emocional a respeito da atuação do atual governo de Israel no Oriente Médio, como depende também de uma distinção entre anti-semitismo e formas de protesto baseadas nesta distância crítica.
Insistindo: se enterrarmos nossas críticas por temor de sermos acusados de anti-semitas, estamos delegando poderes àqueles que desejam limitar a livre expressão de idéias pacifistas em qualquer parte do mundo.
É importante que se faça a separação entre o governo de Israel, seu admirável povo e os escusos interesses comerciais das grandes potências do capital financeiro apátrida e amoral. Feita esta distinção, poderemos começar um frutífero debate intelectual entre o sionismo humanista de Theodor Herzl, a religião judaica, as etnias e ideologias tão diversamente democráticas entre os judeus e um necessário e urgente debate com o atual governo de Israel, pois é tão importante compreendê-los e debater seu futuro, como combater o anti-semitismo em qualquer rincão do planeta onde ele se manifeste. Uma coerente postura progressista e humanista se negará a qualificar de anti-semita as críticas ao likudismo fundamentalista-religioso e também não aceitará o discurso anti-semita como substituto da discussão serena e esclarecedora, tão necessária na grave conjuntura vigente em todo o Oriente Médio à qual, no seu desenvolvimento poderá desencadear uma guerra completamente insana e a altamente destruidora.
*Franklin Cunha é médico e escritor