A crise dos bancos e a batalha final da zona do euro
O sistema bancário europeu está curvando sob o peso da crise. Enquanto a crise se chamava Grécia, Portugal ou Irlanda, a União Europeia foi empurrando o problema com seus planos de ajuste e de austeridade. A Espanha é o limite.
Por Marcelo Justo, de Londres
Publicado 08/06/2012 12:56
O ministro de Finanças da Espanha, Louis de Guindos, disse no mês passado que a batalha final do euro será em seu país. Ninguém sabe o resultado do combate, mas, segundo o editorial desta quinta do Financial Times, “não resta dúvida de que o último round está cada vez mais próximo”.
O sistema bancário europeu está curvando sob o peso da crise da zona do euro. O olhar está centrado nos bancos espanhóis e no caso particular do Bankia, que tem 10% dos depósitos e precisa de um resgate de mais de 20 bilhões de euros, mas a realidade é que esta semana a agência Moody baixou a classificação de seis grandes bancos alemães e França, Bélgica e Luxemburgo acertaram garantias estatais entre 10 e 55 bilhões de euros para salvar o banco Dexia do naufrágio. Em meio a este panorama, a Comissão Europeia impulsiona uma união bancária que centraliza a supervisão, intervenção e garantias do sistema, evitando que seja o Estado – o contribuinte – que termine resgatando esse “samba cheio de ilusões” que é o cassino financeiro internacional. O problema é: Há tempo?
A União Europeia vem empurrando a situação com a barriga há meses e mesmo anos. A queda do Lehman Brothers em setembro de 2008 se resolveu com massivas injeções de capital para alavancar o sistema bancário e programas de estímulo para evitar uma depressão ao estilo do crack de 1929. A segunda fase de crise foi a debacle da dívida soberana que começou com a Grécia no início de 2010 e que arrastou outros dois países – Irlanda e Portugal – que evitaram a moratória ao altíssimo custo de um resgate da Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia).
A dívida soberana é filha do estouro de 2008 e do triplo buraco que produziu nas contas estatais pelo resgate feito aos bancos, pelos programas de estimulo econômico e pela queda da arrecadação causada pela recessão. A Espanha, que não tinha déficit fiscal, passou a tê-lo. Um impacto similar pode ser visto no resto dos países da União Europeia. Mas o buraco principal permanece sendo o dos bancos. Em novembro de 2011, o Banco Central Europeu (BCE) comprometeu um trilhão de euros em empréstimos com baixíssimas taxas de juros e três anos de prazo para salvar os bancos privados. A soma é quase três vezes o PIB de um país como a Argentina, mas não basta. Esta semana, 96 bancos pediram 119 bilhões de euros ao BCE, um claro salto em relação aos 51 bilhões solicitados por 87 bancos na semana passada. E não é o único salva-vidas à mão. Três dos mais importantes bancos de Portugal vão receber 6,6 bilhões de euros dos 78 bilhões que o país acordou com a Troika.
Com a economia da zona do euro a um passo de sua segunda recessão – só evitada até agora pela Alemanha – as perspectivas de uma reativação do setor bancário são mínimas para este ano. Os dados divulgados esta semana sobre as quatro principais economias do euro mostram que a doença está alcançando a própria Alemanha que mostrou em abril sua pior queda de atividade em mais de dois anos. No rebaixamento que fez da nota de sete bancos alemães, a agência Moody assinalou que eles têm uma exposição combinada três vezes maior que seus recursos em caixa.
Segundo a Moody, os bancos alemães ficaram fortemente expostos aos investimentos nos setores imobiliário e naval acumulados durante a bolha e apresentam uma grande vulnerabilidade em relação aos países do sul europeu.
O fantasma de uma reestruturação da dívida bancária de um ou vários países europeus não está muito longe. A eleição na Grécia, dia 17 de junho, a cúpula do G20 no México, dias 18 e 19, a cúpula anual europeia no fim do mês e as manifestações de rua que podem ocorrer no meio disso são o pano de fundo político-diplomático-social da tormenta. Segundo o Financial Times afirmou nesta quinta (7), a UE estuda um resgate da Espanha com condições extremamente leves, o que seria um grande alívio para o governo conservador de Mariano Rajoy, mas que cairia como uma bomba nos três países regatados com planos de austeridade draconianos: Grécia, Portugal e Irlanda.
Errikos Finalis, membro do Secretariado Executivo da Syriza, a coalizão de esquerda grega que rechaça o ajuste e tem grandes possibilidades de triunfar nas eleições, disse que seu país não fez mais do que resgatar os bancos. “O dinheiro que a Troika nos empresta fica literalmente dois dias na Grécia. Não serve nem para pagar salários públicos ou aposentadorias. Paga os bancos, o FMI e os juros da dívida contraída”, assinalou Finalis.
A grande pergunta é o que pode ocorrer se essa cadeia for rompida. No momento, a solução tem sido sustentar o edifício com alfinetes. Os remédios paliativos sempre aparecem no último momento para evitar um súbito naufrágio. Enquanto a crise se chamava Grécia, Portugal ou Irlanda essa política servia para ir empurrando o problema. A Espanha é o limite. O ministro de Finanças da Espanha, Louis de Guindos, disse mês passado que a batalha final do euro será em seu país. Ninguém sabe o resultado do combate, mas, segundo o editorial desta quinta do Financial Times, “não resta dúvida de que o último round está cada vez mais próximo”.
Fonte: Carta Maior; tradução: Marco Aurélio Weissheimer