Greve geral contra mineração no Peru completa uma semana
Manifestantes enfrentam forte repressão; escolas seguem com aulas interrompidas, parte das estradas bloqueadas e dois mil camponeses ocupam as lagoas
Por Márcio Zonta, do Peru
Publicado 07/06/2012 14:02
Uma semana depois de iniciar um dos principais protestos no Peru contra o megaprojeto de mineração Conga no departamento de Cajamarca, os conflitos entre a PNP (Polícia Nacional Peruana) e os manifestantes vêm crescendo gradualmente nos últimos dias .
Segundo o Comando Unitário de Luta em Defesa de Cajamarca, composto por movimentos sociais, sindicatos, população local e membros da igreja católica, 12 pessoas foram detidas e 50 pessoas ficaram feridas, após a intervenção policial, que conta com um efetivo de 7.000 mil homens na região.
Enquanto isso, as escolas seguem fechadas, parte das estradas bloqueadas e, as lagoas ameaçadas pelo projeto de mineração, ocupadas por aproximadamente 2.000 camponeses, de acordo com a PNP.
As autoridades peruanas, não sabem ao certo quantas pessoas estariam mobilizadas em torno da greve geral, porém, os movimentos sociais afirmam ter em número aproximado de 20 mil pessoas só na capital Cajamarca, diz Ydelson Llamos, um dos líderes da mobilização.
Baixas no governo
A crise entre governo e população em torno do projeto Conga e os acontecimentos na província de Espinar, ao sul do Peru, com quatro civis mortos e dezenas de feridos no protesto contra a mineradora suíça Xtrata há duas semanas, chegou ao Congresso e gerou três baixas nos últimos dias na bancada Gana Peru, que dá sustentação ao governo de Ollanta Humala.
A congressista Verónika Mendonza foi a primeira a abandonar o governo depois de cobrar uma posição diferente do presidente diante aos protestos sociais referente à atividade de mineração. O debate sobre o modelo econômico do país está sendo censurado e o governo vem impondo, sem diálogo algum, que o único potencial produtivo no Peru é a mineração”.
O outro congressista renunciante Javier Dies Canseco afirmou que há um descontentamento crescente na bancada Gana Peru. Há muita frustração pela forma que o governo vem tratando e atuando em Cajamarca e Espinar”.
Por sua vez, Rosa Mavila Leon, que também renunciou, acusa, O governo não tem autonomia frente às empresas de mineração, e diante dos protestos contra a degradação ambiental das mineradoras toma posturas de ordenar Estado de Emergência e repressão policial contra a população”.
Em resposta, o primeiro-ministro Oscar Valdez classificou os congressistas renunciantes como pessoas que são contra o crescimento econômico do país e a favor de algazarras como vem sendo os protestos”.
Já o presidente Humala chamou os deputados renunciantes de extremistas. Não é tarefa fácil construir o que outros pretendem destruir, é difícil, mas possível porque vamos fazer uma grande transformação social, gostem os extremistas ou não”.
Mineração x Agricultura
O debate que vem à tona em Cajamarca, também, nesses dias de greve geral vai além da argumentação de contaminação e prejuízo no abastecimento de água na região. Perguntamos-nos até que ponto a agricultura não seria afetada, mesmo tendo água garantida por um sistema de abastecimento fornecido por tanques, umas das propostas da empresa mineira Yanacocha, indaga Ydelson Llamos.
Para o economista e engenheiro da Universidade Nacional de Engenharia de Lima, Juan Aste Daffós, que pesquisa economia mineral e gestão ambiental, manejos e conflitos, a mineração é incompatível com a agricultura e conservação da água, dado seu impacto gerado pela degradação irreversível dos ecossistemas.
Segundo dados da Confederação Nacional Agrária, o projeto Conga atingiria 67% da população do departamento de Cajamarca, que atualmente vive da agricultura e pecuária.
Para Daffós, nem o argumento de criação de postos de trabalho para a população de Cajamarca pode ser considerado nesse caso, à geração de emprego é menor a 1% da população ativa peruana. Dá emprego apenas a 130 mil trabalhadores, pois utilizam alta tecnologia padrão em máquinas e equipamentos para cada um de seus processos, elucida.
A empresa Yanacocha rechaça tais argumentações, esse projeto traria cerca de cinco milhões de dólares em investimentos para o Peru, respeitando o meio ambiente e as atividades econômicas existentes na região, afirma o gerente comercial do projeto Conga, Luis Argueles.
Fonte: Opera Mundi