Espanha: 4º país membro caído da Eurozona
Quando o primeiro-ministro espanhol declarou que o Estado espanhol salvaria o Bankia enquanto, ao mesmo tempo, admitia que a Espanha não podia obter o cash para fazê-lo, havia duas explicações plausíveis sobre como este feito poderia ser alcançado.
Por Yanis Varoufakis
Publicado 31/05/2012 12:29
Uma era que a Espanha se tornaria oficialmente o quarto Estado membro da Eurozona a ter caído fora dos mercados, assegurando um salvamento do resto da Europa.
A segunda explicação era que a Espanha se tornaria o quarto estado membro da Eurozona a ter caído fora dos mercados, assegurando um salvamento do resto da Europa, sem admitir que isto fosse o caso – não oficialmente.
Imagine qual das duas opções a Europa escolheu: a segunda, naturalmente! Na verdade, por que confessar tudo quando a opção do subterfúgio está disponível?
Assim, foi isto que eles fizeram: a Europa permitiu à Espanha emitir nova dívida pública que é transmitida a bancos espanhóis (ao invés de dinheiro) em troca de ações. Então, os bancos enviarão esta nova dívida pública ao BCE como colateral em troca de cash que manterá em funcionamento as caixas multibanco dos bancos espanhóis. O resultado final será, naturalmente, que a dívida espanhola aumentará e os bancos permanecerão num estado zumbificado.
Compare-se e contraste-se isto com o que está a acontecer (a) na Grécia e Irlanda (países que estão oficialmente "caídos") e (b) no caso de bancos italianos tais como o Unicredit.
No caso da Grécia e da Irlanda, o Estado toma emprestado do EFSF tanto na forma de cash como de títulos EFSF. Os últimos são dados aos bancos e são contados como parte dos empréstimos de salvamento do país. No caso de bancos como o Unicredit, o banco emitiria nova dívida privada (seus próprios títulos), tem o estado a garanti-lo e então envia estes títulos privados (mas publicamente garantidos) ao BCE em troca de cash LTRO [1] . O que é que eles têm em comum? Que a dívida pública aumenta em consequência da tomada de empréstimos ou diretamente junto ao EFSF (Grécia e Irlanda) ou indiretamente junto ao BCE (Espanha e Itália). A única outra diferença é que países que estão oficialmente "caídos" (Grécia, Irlanda e Portugal) pagam taxas de juro mais altas ao EFSF do que os não oficialmente "caídos" pagam ao BCE.
Oh que confusas teias eles tecem, quando praticam a arte do engano (dos cidadãos e igualmente dos mercados)!
[1] Long-Term Refinancing Operation (Operação de refinanciamento a longo prazo), do BCE
Fonte: Resistir