Retórica "pacifista" e discurso de guerra nos Estados Unidos
O período de governo de Barack Obama não foi nada pacífico. O mundo tem estado conflagrado em diversos conflitos locais onde direta ou indiretamente está a mão criminosa do imperialismo estadunidense a acionar máquinas de guerra, fomentar golpes e intervenções.
Por José Reinaldo Carvalho*
Publicado 29/05/2012 09:46
Nos conflitos de maior envergadura em que os Estados Unidos se envolveram a partir do início da década passada (Afeganistão, em 2001, e Iraque, 2003), permanece uma situação de abuso e violação da sobernia nacional e da autodeterminação desses povos. A rigor, mesmo com o beneplácito da ONU – para o efeito instrumentalizada pela pressão estadunidense – e com a promessa de retirada de todas as tropas daqueles dois países até 2014 – é um contrassenso falar de paz e do restabelecimento do direito internacional.
Até porque, no caso do Afeganistão, foi firmado um convênio pelo qual os Estados Unidos manterão até 2024 tropas e oficiais para monitorar a “segurança” do país. Permanecem também as pressões, sanções, chantagens e ameaças sobre o Irã e a Síria, no Oriente Médio, assim como sobre Cuba e Venezuela, em nossa região. E são incessantes os bombardeios a partir de aviões não tripulados “drones” na frontera entre o Afeganistão e o Paquistão.
Na segunda-feira (28), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, aproveitou a celebração do Memorial Day, quando são homenageados os que tombaram nas guerras, para fazer promessas vagas de paz, que soam também como ameaças veladas.
Ora, foram milhares os soldados estadunidenses que pagaram com suas vidas pelas aventuras intervencionistas e militaristas do império, principalmente naquelas em que o país se envolveu diretamente com o envio de tropas de ocupação. Seu sangue foi derramado porque o país que se apresenta como o apanágio das liberdades decidiu sacrificar a liberdade de outros países, por meio das armas, em nome de planos de domínio e opressão de toda a humanidade.
Ao discursar no Cemitério Nacional de Arlington, na Virgínia, após depositar flores no túmulo do soldado desconhecido, Obama referiu-se genericamente à paz, sem, entretanto, condenar os crimes de lesa-humanidade em que consistiram as guerras comandadas pela Casa Branca. E deixou no ar que, dependendo das circunstâncias, pode também ir à guerra.
"Como comandante-geral, posso lhes dizer que colocar nossos soldados em perigo é a decisão mais sofrida que eu tenho de tomar", disse Obama.
E prosseguiu: "Eu prometo que nunca farei isso, a menos que seja absolutamente necessário e quando o fizermos, precisamos dar às nossas tropas uma missão clara e o apoio pleno de uma nação agradecida." A retórica de Obama é para uso eleitoral e os Democratas acham que fica assim combinado: Bush fazia guerras por qualquer motivo, Romney as faria também, mas Obama fará se for “absolutamente necessário”.
Por outro lado, o precandidato do Partido Republicano, Mitt Romney, prometeu no mesmo dia manter o exército estadunidense “com incomparável poder no mundo”. A declaração foi feita perante cinco mil pessoas, que se reuniram também com o pretexto de homenajear os soldados tombados nas guerras imperialistas. Na verdade, foi também um evento de campanha eleitoral. Enquanto Obama falou para agradar os pacifistas e o setor da opinião pública cansado das aventuras belicistas do império, Romney, como porta-voz das catacumbas, falou aos setores mais obscurantistas da sociedade.
O precandidato republicano atiçou a psicose do medo, resultante do subconsciente coletivo, que sente que o país é odiado devido aos males que tem causado à humanidade no afã de dominar o planeta. “O mundo não é seguro, disse.” “Podemos seguir dois destinos: Um é o caminho da Europa. Diminuir o tamanho do nosso já apequenado exército para pagar nossas necessidades sociais. E certamente confiar na força da América (leia-se EUA) e esperar o melhor. Se seguíssemos este camino, poderia não sobrar ninguém para proteger-nos. O outro caminho é comprometer-se a preservar a América como a maior potência militar no mundo, com um poder incomparável no resto do mundo. Nós escolhemos este caminho. Escolhemos este caminho para a América (EUA) não só porque podemos ganhar as guerras, mas porque podemos prevení-las. Porque uma América (EUA) forte é a melhor dissuassão para a guerra que se pôde inventar”.
Essencialmente, não há diferença de posicionamento estratégico entre Democratas e Republicanos quando se trata de defender militarmente os intereses geopolíticos do império. Na campanha em que foi vitorioso em 2008, Obama também disse que tudo faria para manter a liderança militar dos Estados Unidos no mundo.
Mas o discurso de Romney é terrificante. Prefigura o que seria a política externa e militar da Casa Branca e do Pentágono sob sua direção. Mais militarismo, o que se traduz por mais bases militares, mais armas nucleares, a eclosão de novos conflitos, ocupação de países, insegurança generalizada para o mundo.
As tendências de maior direitização da política norte-americana e as ameaças de guerra indicam a necessidade de reforçar o movimento pela paz, a luta anti-imperialista e criar polos de oposição ao imperialismo estadunidense. Nesse sentido, ganha relevo a realização nos días 8 e 9 de junho, em São Paulo, da 3ª Assembleia Nacional do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e em julho da Assembleia do Conselho Mundial da Paz, em Catmandu, Nepal.
*Editor do Vermelho