MK Bhadrakumar: O Irã e a encruzilhada de Obama

O presidente dos EUA Barack Obama meteu-se, literalmente, numa encruzilhada iraniana, na qual, como escreveu o poeta Robert Frost, Two roads diverged in a yellow wood[1] [duas estradas divergiram num bosque amarelo].

Por MK Bhadrakumar, no Indian Punchline

Evidentemente, não pode viajar pelas duas, porque é “[só um] o viajante”. A grande pergunta é se tomará a estrada na qual a grama é mais alta porque por ali bem poucos transitam, o que, como Frost descobriu, pode fazer toda a diferença.

No fim de semana, já havia notícias de que Obama aproximava-se da encruzilhada nas conversações sobre o Irã. A conversa evoluía lenta, firmemente, sem dúvida já ganhando tração[2], desmentindo os detratores e os atiradores. Agora, chega a confirmação, quando o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) Yukiya Amano voltou a Viena, na tarde ventosa, chuvosa, depois de viagem surpresa a Teerã[3].

Amano confirmou que a AIEA e o Irã chegaram a um acordo[4] sobre as inspeções da ONU às instalações nucleares iranianas. Até o Guardian, que já disse mais de uma grosseria contra o Irã no passado, admite que “a música ambiente está mudando.” Em matéria sobre a grande notícia que Amano trouxe, o Guardian comentou: “Um movimento de otimismo cauteloso irrompeu na frenética atividade dos diplomatas que acontece nos bastidores das conversações nucleares iranianas em Bagdá, na quarta-feira. Pela primeira vez, parece que há possibilidade real de que se iniciem negociações sérias.”[5]

Obama apostou e venceu. Mas agora começa a parte mais difícil. Obama tem de continuar pressionando. Abraçar esse tipo de diplomacia de alto risco em ano eleitoral é extraordinariamente perigoso. Os abutres sobrevoam nos céus à procura de carcaças no cenário do impasse EUA-Irã, já povoado de ossos ressequidos. O Senado dos EUA aprovou por unanimidade, na segunda-feira, resolução que exige que Obama imponha novas sanções contra o Irã, como reforço ao que o lobby israelense está fazendo, incansável, para torpedear as iniciativas de Obama para o Irã[6].

Que bizarra coincidência, que os veneráveis senadores tenham votado o que votaram, apenas poucas horas antes das produtivas conversas de Amano em Teerã! Será que a história se repetirá? Houve ocasiões no passado, quando EUA e Irã, como estranhos na noite, cruzaram-se e trocaram olhares, apenas para cada um seguir seu caminho. Obama enfrenta agora o maior desafio da política externa de todo seu governo: como agir com o Irã. A parte curiosa é que ainda terá de lutar e vencer uma batalha em casa,[7] antes de aventurar-se por outras plagas.

Saeed Jalili, principal negociador do Irã, acaba de voar para Bagdá, hoje cedo, indiferente à violenta tempestade de areia que assola a capital iraquiana[8]. Obama escolherá a estrada pouco trilhada, nas conversação entre o P5+1 e o Irã, em Bagdá, na quarta-feira? Nesse momento, ironicamente, é o lado iraniano que exibe a audácia da esperança[9].

Nota dos tradutores

[1] FROST, Robert (1874-1963), Mountain Interval, 1920, “The road not taken” (em http://www.poets.org/viewmedia.php/prmMID/15717).

[2] http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/NE22Ak01.html

[3] http://english.farsnews.com/newstext.php?nn=9102112955

[4] http://www.bloomberg.com/news/print/2012-05-22/iaea-iran-reach-accord-on-atomic-inspections-amano-says.html

[5] http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2012/may/22/iran-nuclear-talks-optimism?newsfeed=true

[6] http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5hur4aHg05_WQLeIx5uV4U0mk4EJQ?docId=CNG.083833085acfb87a2eafecefbd831ed9.481

[7] http://www.google.com/hostednews/ap/article/ALeqM5i760w1acGNXZlC7DV5fkP24I0NxQ?docId=24993c54685c468f9281f4c6f2a53399

[8] http://english.farsnews.com/newstext.php?nn=9102112923

[9] http://english.farsnews.com/newstext.php?nn=9102112885

Fonte: Blog O Outro Lado da Notícia. Traduzido pelo pessoal do Vila Vudu