Crise na Europa: "Aves de rapina" massacraram a Grécia
Em meio à tormenta política que assola o país e à convocação de novas eleições, passou quase imperceptível pelo povo da Grécia um fato de gigantesca importância econômica e política.
Por Petros Panayotídis, no Monitor Mercantil
Publicado 25/05/2012 16:46
Na terça-feira da semana passada, o governo do ex-primeiro-ministro Lucas Papademos pagou em 100% do valor nominal de títulos estatais gregos totalizando 435 milhões de euros que encontravam-se sob o regime da justiça britânica e que haviam sido repassados às mãos de círculos especuladores, extremamente agressivos, que haviam recusado, categoricamente, aceitar o corte no âmbito do PSI.
O trágico é que cerca de 80% destes bônus encontravam-se em poder de uma instituição especuladora, denominada Dart Management, com sede nas Ilhas Cayman, a qual havia pago menos de 100 milhões de euros para adquirir os títulos "lixo" no mercado secundário e, em seguida, arrecadou do governo grego cerca de 400 milhões de euros, auferindo um lucro líquido de 300%!
A Dart Management inclui-se entre os especuladores conhecidos como as "aves de rapina". São especializados na aquisição de bônus emitidos por "países mortos", ameaçados com falência. Adquirem os títulos a preços irrisórios, em torno de 10% a 25% de seu valor de face.
Em seguida, extorquem sem hesitação os Estados emissores. Exigem que lhes paguem 100% do valor nominal (às vezes concedem desconto, mas exigem sempre acima de 70% a 80%) e arrecadam superlucro.
Caso os Estados emissores recusem, as "aves de rapina" mantêm contratados poderosos escritórios de advocacia especializada no setor e arrastam os países aos tribunais durante anos, ganhando sempre as causas.
Os especuladores têm sempre a certeza de que, no final, receberão pelo menos três vezes o valor que será pago aos investidores que concordem "de livre e espontânea vontade" com o corte.
Falência cruzada
Agora, há bônus no valor de 434 milhões de euros, também sob o regime de justiça britânica, em mãos de "aves de rapina" que deverão ser resgatadas pelo novo governo, em setembro e dezembro deste ano.
Mas há outro pesadelo que ameaçará a Grécia ano que vem. Até 5 de julho do ano que vem, deverão ser pagos bônus (sob regime da justiça britânica) que estão em mãos de outros especuladores agressivos, no valor total de 2 bilhões de euros!
Deste total, 1,4 bilhão de euros deverá ser pago entre 25 de junho e 5 de julho de 2013. Mas existem consequências piores, as quais mostram quão criminosa, do ponto de vista político, foi a aceitação pela justiça britânica dos empréstimos concedidos à Grécia pela UE.
Estes empréstimos têm condições de "falência cruzada" (cross default). Em outras palavras isto significa que, se o governo não pagasse os títulos na terça-feira passada, todas as demais "aves de rapina", que possuem ainda bônus gregos no valor total de 6 bilhões de euros, tinham o direito legal de exigir o imediato pagamento, sem esperar a data de vencimento de seus títulos, mesmo que estes vencessem em dez anos.
No mesmo âmbito, poderiam também os países integrantes da Zona do Euro exigir o pagamento imediato de mais de 100 bilhões de euros que emprestaram à Grécia, cujos bônus estão em poder de bancos europeus.
Anotem que o retirante Governo da Grécia pediu garantias escritas de que os governos dos países integrantes da Zona do Euro não se comportariam como as "aves de rapina" e não exigiriam o pagamento dos empréstimos se a Grécia não pagasse os especuladores, mas nenhum governo forneceu qualquer garantia. Estes são os parceiros da Grécia.