Espanha: recessão e juros altos para financiar a dívida pública

A economia espanhola entrou oficialmente em recessão, ao registrar queda de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano, segundo dados divulgados hoje (17) pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O desemprego atinge cinco milhões de pessoas e as dificuldades econômicas se multiplicam.

Espanha protestos

Para os especialistas, a retração da economia espanhola foi provocada pela desaceleração nos gastos dos consumidores e das administrações públicas. É a segunda vez, após a crise que começou em 2008, que a Espanha entra em recessão. O INE informou que as economias da zona do euro não registraram crescimento no primeiro trimestre.

A recessão ronda a Europa; as economias da Alemanha e Áustria cresceram 0,5% e 0,2%, respectivamente, enquanto a da França ficou estagnada. No caso dos Países Baixos, do Reino Unido e da Espanha, houve queda acentuada, sendo que a Itália registrou -0,8%.

Na Espanha, um retrato da gravidade da situação é o alto índice de desemprego, que atinge 24,4% da população economicamente ativa. Isto é, um em cada quatro espanhóis está desempregado, situação que infelicita cerca de cinco milhões de trabalhadores.

Foi o mês de abril de maior encolhimento da indústria espanhola nos últimos três anos; o setor de serviços, por sua vez, vem caindo há 10 meses e as exportações, único setor da economia espanhola que cresceu nos últimos dois trimestres, perde o fôlego e desacelerou no primeiro trimestre em consequência das dificuldades econômicas enfrentadas pelos principais parceiros comerciais da Espanha na Europa.

As perspectivas não são boas, embora o ministro de Assuntos Exteriores e Cooperação da Espanha, José Manuel García-Margallo, tenha tentado minimizar a gravidade dizendo, em visita a Brasília ontem (16), que as dificuldades são passageiras e que serão solucionadas.

De que forma? Outra indicação da profundidade das dificuldades, que são agravadas pela política conservadora do primeiro-ministro Mariano Rajoy (baseada no superado receituário conservador de cortar gastos sociais, reduzir despesas do governo e aumentar juros para atrair capitais especulativos), pode ser vista na resposta do “mercado” ao esforço do Tesouro espanhol para vender títulos. Hoje (17) foram colocados no mercado 2,5 bilhões de euros em títulos com vencimentos de três e quatro anos, que foram absorvidos com o compromisso de pagamento de juros entre 20% e 50% maiores do que ocorreu no ultimo leilão realizado pelo Tesouro espanhol. Para os títulos com vencimento em 31 de janeiro de 2015, por exemplo, os juros subiram de 2,89% para 4,38% – um aumento de 51%. "A procura razoável foi conseguida graças ao custo considerável a que foi colocada a dívida”, seguindo a tendência dos últimos leilões na Espanha, comentou Richard McGuire, especialista em juros do Rabobank, de Londres.

Isto é, os especuladores exigem juros mais altos num momento de fuga de capitais na Espanha, diz McGuire; os investidores internacionais correm para a porta de saída e os bancos domésticos têm cada vez menor capacidade para tapar os buracos, diz ele. "Esta é uma tendência que deverá continuar nos próximos tempos”, pensa, “e a situação só deverá ser resolvida com algum tipo de intervenção externa" – entre elas o Banco Central Europeu que, em operação de “salvamento”, foi um dos algozes da Grécia, agravando drasticamente a situação deste país e do povo grego.

A situação espanhola é “muito complicada”, reconheceu ontem o primeiro-ministro Rajoy, num quadro em que já "muito difícil" para o país financiar-se a preços razoáveis. Rajoy disse que o governo tomará as medidas "corretas" – e não é difícil adivinhar quais seriam: arrocho salarial, cortes nos gastos públicos, restrições aos direitos sociais, etc. E adicionou: agora cabe à União Europeia atuar. Grécia à vista?